Cirurgias e diagnósticos de câncer precisaram ser adiados por conta da Covid-19

Cirurgias e diagnósticos de câncer precisaram ser adiados por conta da Covid-19

Especialistas de Ribeirão Preto comentam que pandemia mudou rotina do tratamento oncológico

Cerca de 50% das cirurgias para o tratamento de diferentes tipos de câncer precisaram ser adiadas em todo o Brasil em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Em algumas estimativas, o número chega aos 70%. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, ente 11 de março e 11 de maio, cerca de 116 mil procedimentos foram cancelados no país.

Os diagnósticos da doença também apresentaram uma redução. No Estado de São Paulo, a rede pública de saúde fez cerca de 6 mil biópsias entre o início de março e maio. No mesmo período, em 2019, foram 22 mil biópsias. Muitos hospitais optaram por reagendar procedimentos não urgentes para diminuir o fluxo de pessoas nos hospitais e disponibilizar leitos.

"Com absoluta certeza houve uma diminuição dos casos novos encaminhados. Isso é facilmente explicado pelas condutas tomadas pelos hospitais e outras especialidades como radiologia e coloproctologia, que diminuíram os exames e procedimentos a serem realizados. Com isso menos diagnósticos assintomáticos estão sendo feitos no período e menos pacientes encaminhados ao oncologista", explicou Diocésio Andrade, oncologista e Diretor Técnico do Instituto Oncológico de Ribeirão Preto (InORP).

Todavia, o diretor explica que nenhum tratamento vigente foi adiado no InORP, tanto da oncologia clínica, quanto da hematologia. Andrade explica que houve uma readequação na agenda dos médicos para as consultas de seguimento nas primeiras quatro semanas da pandemia para que o fluxo de pacientes na clínica fosse diminuído.

"Neste período avaliamos exames à distância destes pacientes e fizemos contato por telefone ou via telemedicina. Passado o período inicial e entendo um pouco melhor da Covid-19, voltamos a agendar estas consultas presencialmente na dependência do desejo do paciente", acrescenta o diretor do InORP.

Para o oncologista Fábio Eduardo Zola, o temor das pessoas em irem a hospitais e clínicas é natural nesse momento. "Mas precisamos aprender a conviver com essa nova situação pois ela deve demorar meses a passar. Vejo que seguir fazendo a rotina de exames realmente necessários, mas mantendo os cuidados e precauções é essencial", comentou.

Contudo, o oncologista explica que nem todos os pacientes estão no grupo de risco. “O risco envolve aqueles que estão em tratamento com potencial redução da atividade imunológica. Inclui quem está em quimioterapia ou acabou há menos de três meses, quem está em radioterapia em áreas extensas do corpo ou usam medicações tipo terapia alvo que reduzem leucócitos. Não incluem pacientes que estão apenas em controle ou em tratamento hormonal por exemplo. O fato de ter o diagnóstico de tumor per si não coloca em grupo de risco” explica.

Cuidados

Apesar do medo de contaminação, Zola, que atua no Centro de Tratamento Oncológico (CTO), esclarece que os cuidados com a segurança dos pacientes foram intensificados. Para isso, foi criado no CTO um grupo de gestão da pandemia que se reúne semanalmente avaliando as adequações aplicadas.

“Mudamos toda rotina de funcionamento desde a recepção até o tratamento. Reduzimos circulação de pacientes, distanciamento dos assentos, reforço de higienização dos ambientes comuns e treinamento de toda equipe e pré-avaliação dos pacientes no primeiro acolhimento da entrada na clínica”, informa Zola.

No InORP, também foram adotadas medidas preventivas, que são avaliadas diariamente e implantadas pela diretoria médica do Grupo Oncoclinicas, que engloba 65 unidades, incluindo o InORP.

Segundo o diretor do Instituto, diariamente são feitas avaliações de possíveis pacientes e acompanhante com sintomas, além diminuição do fluxo na recepção com horários agendados e distanciamento de 1,5 m na sala de espera.

No InORP, o paciente em tratamento é encaminhado ao quarto individual para avaliação e tratamento. "Com isso conseguimos garantir a segurança do paciente em todo o fluxo do atendimento", conclui Andrade.

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Foto: Pixabay (Imagem ilustrativa)

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