Em 10 anos, Ribeirão Preto registra 72 acidentes com fogos de artifício, aponta CFM
Cidade está entre as que mais registram casos do tipo no País, segundo Conselho Federal de Medicina
O manuseio inadequado de fogos de artifício levou à internação hospitalar mais de 5 mil pessoas no Brasil, entre 2008 e 2017, segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM). Apenas em Ribeirão Preto foram 72 casos nesse período, o que coloca o município na 13ª posição nacional entre os que mais registraram acidentes com esse tipo de aparato.
Especialistas apontam que o tipo de queimadura causada pelos fogos, na maioria das vezes se enquadra entre as mais graves, por envolver fogo e explosão, causando sequelas na pele e, muitas vezes, até mutilações. O estudo foi divulgado pelo CFM para alertar sobre os riscos nesta época do ano, que concentra festas juninas. Além disso, o esporte é um agravante: em 2014, ano da última Copa do Mundo de Futebol, o Brasil registrou o recorde de casos de internações em razão deste problema. A competição volta a ser realizada neste ano.
Os números em Ribeirão Preto aumentaram consideravelmente desde 2008, quando foram registrados apenas dois casos, de acordo com o conselho: em 2017, foram registrados nove casos no município, sendo que, em 2015, foi atingido o maior número de vítimas, já que 20 pessoas tiveram de ser internadas por acidentes ocasionados pelo lançamento dos fogos de artifício.
Salvador, na Bahia, é o município com mais casos de pessoas acidentadas. Segundo o levantamento, foram 686 vítimas internadas com queimaduras; em seguida vem São Paulo, com 337 casos. O levantamento ainda apresenta Belo Horizonte (MG), com 299 casos, e Rio de Janeiro, com 171.
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Apesar de apresentar um número nove vezes menor do que o primeiro colocado da lista, a relação de Ribeirão Preto com esses casos é bem mais relevante, afinal, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto conta com uma unidade especializada no tratamento de queimaduras e recebe pacientes de todas regiões do País.
O cirurgião plástico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) em Ribeirão Preto Pedro Coltro conta que as queimaduras ocasionadas por fogos de artifício são, na maioria das vezes, de terceiro grau, ou seja, as mais severas. Elas queimam a pele com mais profundidade e, por isso, pode ser necessária a cirurgia.
“A principal forma de prevenir é promover um bom tratamento na fase adulta. No caso de acidente, a indicação é que o paciente vá para unidade de tratamento o mais rápido possível, para que as cirurgias sejam feitas de forma rápida. Quanto mais rápido for o tratamento, melhor. A própria área queimada prejudica a evolução desse paciente”, explica Coltro.
Embora os números sejam preocupantes, Coltro acredita que as campanhas de conscientização e um maior acesso por parte da população sobre a prevenção das queimaduras e acidentes com fogos de artifício têm surtido efeito, já que, de acordo com ele, tem diminuído a superfície corporal de queimaduras apresentadas pelos pacientes.
“Antes, as pessoas se queimavam muito, com 30%, 40% do corpo. Essas orientações têm feito com que a superfície corpórea queimada fique em média em 10% e 15%. Isso é reflexo dessas ações educativas e de informações repassadas à população sobre a situação”, afirma.
Fique atento
A Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão alerta que:
- os artefatos sejam acionados com o uso de suportes, e nunca sejam segurados diretamente nas mãos.
- as crianças devem ser mantidas longe, no momento do acionamento, e não devem manipular os artefatos de forma alguma.
- os cuidados devem começar já na aquisição dos fogos, que deve ser feita em comércio certificado pelo Corpo de Bombeiros.
- não consumir álcool antes de manusear o artefato.
- os fogos devem ser acionados em locais afastados das pessoas, em áreas abertas e sem fiação elétrica.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil