
Luta antiga, hospital novo
Depois de dois anos de negociações, nova unidade de emergência do HC em Ribeirão Preto começou a ser construída e deve iniciar atendimentos em abril de 2026
Anova unidade do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto deve começar a funcionar ainda no primeiro semestre do ano que vem. “Começamos essa luta em 2023, quando apresentamos ao governador a necessidade de um novo hospital de urgência e emergência na cidade. Elaboramos um estudo que evidenciou essa demanda. A partir daí, nos empenhamos em convencer os governos municipal, estadual, políticos e empresários locais”, afirmou o superintendente do HCFMRP/USP, Ricardo de Carvalho Cavalli.
A cerimônia que marcou o início das obras no terreno onde será construída a nova estrutura aconteceu no dia 8 de fevereiro de 2025, quando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esteve em Ribeirão Preto. Segundo Cavalli, a construção vai se dividir em duas etapas: a primeira será voltada para o setor de urgência e emergência e está prevista para abril; a segunda etapa, prevista para funcionar a partir de outubro de 2027, vai contar com Centros de Terapia Intensiva (CTIs), áreas cirúrgicas e clínicas, isolamento, neurologia e leitos de apoio.
A nova estrutura, que ocupará uma área de 57.825 metros quadrados, representa um investimento total de R$ 526,3 milhões. A obra ampliará a capacidade do hospital de 183 para 400 leitos, beneficiando cerca de 3,5 milhões de habitantes das regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Barretos e Franca. A primeira etapa vai custar R$ 63,7 milhões e será construída pela empresa Construsantos, de Brodowski. O projeto foi desenvolvido pela MHA Engenharia, de Barueri.
Situado entre as avenidas Independência e Adelmo Perdiza, no Jardim João Rossi, entre as zonas sul e oeste da cidade, o terreno já pertencia ao Estado e, anteriormente, seria destinado à construção de moradias populares, pelo Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), mas os planos foram alterados graças à insistência de Cavalli. “A localização é estratégica, pois o hospital estará próximo à rodovia Antônio Duarte Nogueira, facilitando a chegada de pacientes de outras cidades e está em uma área que foi recentemente reformada, com avenidas amplas. O local também se mostrou ideal pela sua extensão. Por isso, o projeto acabou ficando mais horizontal, com prédios de 4 a 6 andares, além de ser mais ergonômico, sustentável e arborizado”, explicou Cavalli. Pelo projeto, o hospital terá uma rua exclusiva para saída e chegada de ambulâncias com acesso à rodovia.
PATERNIDADE TRIPLA
Durante as eleições municipais do ano passado, a construção da nova unidade do HC foi assunto central em boa parte da campanha eleitoral. “A iniciativa de ter essa nova unidade vem sendo discutida há muito tempo em Ribeirão Preto. Em reuniões com o superintendente do HC, o secretário estadual de Saúde, Eleuses Paiva, e manifestei o interesse de investir a verba da qual eu tinha direito como deputado federal para a construção do hospital. Precisávamos do Estado para complementar os recursos. Fomos, então, até o governador com o projeto”, relembra o agora prefeito de Ribeirão Preto, Ricardo Silva, que saiu do Palácio dos Bandeirantes com a promessa de um aporte de R$ 50 milhões do Estado.
O debate gerado entre especialistas e candidatos naquele momento era: R$ 80 milhões são o bastante para a construção de uma unidade do HC maior e mais moderna do que o hospital que funciona desde 1956, no Centro da cidade?
A expansão do projeto ganhou novo impulso recentemente, depois das eleições, quando a Universidade de São Paulo (USP) manifestou interesse em adquirir os terrenos estaduais e investir R$ 270 milhões para viabilizar a construção integral da unidade. Segundo Ricardo Silva, além do investimento da universidade, o novo hospital também contará com recursos do Ministério da Saúde e do programa “Tabela SUS Paulista”.
Ricardo Cavalli explica que as negociações só começaram a partir de um estudo técnico e detalhado da necessidade de um hospital mais amplo e com melhor localização. “O atual prédio do HC no Centro é constantemente reestruturado para atender a demanda, mas há ali uma limitação de espaço, não há como aumentar a capacidade ou o número de leitos, por exemplo. E também temos o problema da localização. Pela expansão da cidade e outros fatores, não é uma área das mais fáceis de acessar”, conta o superintendente.
Durante o evento, no início de fevereiro, Tarcisio deixou claro que o novo hospital será uma ‘carta na manga’ em uma provável campanha pela reeleição para o governo estadual. “Esse hospital vai fazer a diferença e vai beneficiar não só a região de Ribeirão Preto, mas todo o país. São Paulo faz quase 60% dos procedimentos de média e alta complexidade do país. E precisamos ter os melhores equipamentos com os melhores profissionais, como teremos aqui no novo HC”, afirmou o governador, antes de bater a estaca que, simbolicamente, marcou o início da obra.
IMPACTO
“A nova unidade de emergência do HC será fundamental para desafogar o sistema de saúde municipal. Hoje, uma pessoa que procura uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e precisa de um hospital de alta complexidade entra em uma fila de regulação do Estado, podendo esperar até 48 horas por uma vaga. Com 400 novos leitos, esse gargalo será reduzido significativamente, melhorando o fluxo de atendimento nas UPAs e em toda a rede municipal”, destaca Ricardo Silva.
Outra promessa é o futuro aproveitamento da atual unidade de emergência do HC, localizada no centro de Ribeirão Preto. “O prédio no Centro da cidade será transformado em um centro de referência de ortopedia. Essa é uma área que a região tem bastante carência e as maiores filas da saúde”, anunciou Tarcísio. Os valores, prazos e o que será feito mais detalhadamente no antigo hospital ainda não foi anunciado. Ricardo Cavalli explica que “serão necessárias apenas adequações pontuais, pois o hospital já realiza procedimentos de alta complexidade”.
Inaugurado em 1956, o prédio que fica na rua Bernardino de Campos é especializado em urgência e emergência desde 1970, ano da inauguração do HC do campus da USP. Segundo a assessoria de imprensa do HC, atualmente a unidade central tem 176 leitos. Em média, 60% são ocupados por pacientes de Ribeirão Preto e os outros 40%, por pacientes de outras cidades da região.
O superintendente do HC também destacou o comprometimento do governo estadual no cumprimento do cronograma da obra. “Há uma equipe exclusiva para acompanhar obras em andamento no Estado. É o gabinete de obras. Precisamos relatar periodicamente o andamento das obras para esse comitê. Se algo sai do cronograma, o comitê já entra em ação para retomar os prazos estabelecidos originalmente”, afirmou Cavalli.
Nos últimos anos, Ribeirão Preto enfrentou sérias dificuldades no sistema de saúde. Em 2024, o município foi um dos mais atingidos pelo surto de dengue no estado de São Paulo, registrando um aumento significativo de internações e agravamento dos casos. Hospitais da cidade enfrentaram superlotação, com filas de espera ultrapassando 24 horas em algumas unidades de pronto atendimento. A nova unidade do HC terá a missão de ajudar a suprir essa demanda crescente, oferecendo suporte tanto para casos emergenciais quanto para o tratamento de complicações decorrentes da doença.
Além disso, Ribeirão Preto também registrou aumento expressivo de atendimentos por doenças respiratórias durante o período de estiagem severa em 2024, quando incêndios florestais na região agravaram a qualidade do ar. Prefeito, governador e superintendente apostam que um hospital de emergência moderno e bem equipado tornará possível garantir um atendimento mais ágil para esses pacientes, que frequentemente lotam as unidades básicas de saúde e UPAs da cidade.
A superlotação nas unidades municipais de saúde foi outro problema crítico enfrentado nos últimos anos. O déficit de leitos hospitalares na cidade e região resultou em filas de espera para internação, inclusive em casos graves. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado, Ribeirão Preto conta com um déficit estimado de 200 leitos hospitalares apenas para atendimentos de urgência e emergência. “Nós sabemos da demanda crescente em Ribeirão Preto e arredores, por isso, tomamos a decisão de investir pesadamente nesse hospital. Essa obra é um compromisso que estamos cumprindo com a população e vai garantir um atendimento de mais qualidade, mais rápido e com mais estrutura para quem precisa”, afirmou Tarcísio.
Outro ponto destacado pelas autoridades será o impacto na formação médica e na produção científica. “A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP é um dos centros de referência do Brasil, responsável por pesquisas avançadas e por formar profissionais de excelência. O novo hospital ampliará as oportunidades de ensino para estudantes de graduação e pós-graduação, além de permitir a realização de novos estudos e ensaios clínicos, promovendo avanços significativos na medicina”, explica Ricardo Cavalli.
A humanização do atendimento também foi um dos fatores considerados no projeto arquitetônico da nova unidade. O hospital contará com espaços mais amplos, áreas verdes e um ambiente mais acolhedor para pacientes e acompanhantes. Segundo Cavalli, essa preocupação foi fundamental para a concepção da estrutura. “A nova unidade foi planejada para ser não apenas eficiente do ponto de vista técnico, mas também confortável para quem busca atendimento. Sabemos que o ambiente hospitalar pode ser estressante para pacientes e familiares, e buscamos soluções para tornar a estadia o mais tranquila possível”, explicou o superintendente.
Outro avanço será a ampliação dos serviços especializados, como cirurgia cardiovascular e neurocirurgia, áreas que atualmente apresentam alta demanda na região. Com novas salas cirúrgicas, e equipes médicas especializadas, será possível reduzir a fila de espera para esses procedimentos, que hoje podem levar meses para serem realizados no sistema público de saúde.
Segundo a Secretaria estadual de Saúde, a modernização tecnológica também será um diferencial da nova unidade. “O hospital contará com equipamentos de última geração, incluindo tomógrafos, ressonância magnética e robótica cirúrgica. Além disso, haverá um sistema integrado de prontuários eletrônicos, facilitando o acompanhamento dos pacientes e agilizando o atendimento”, disse a pasta em nota.
A preocupação com a sustentabilidade é outro ponto lembrado pelos responsáveis pelo projeto. A unidade contará com painéis solares para geração de energia, reaproveitamento de água da chuva e um sistema de climatização mais eficiente, reduzindo o impacto ambiental e os custos operacionais. “Pensamos em um hospital que não apenas atenda bem a população, mas que também seja um modelo de gestão sustentável”, ressaltou Cavalli. “Este é um marco para a cidade e para a saúde pública do estado de São Paulo. Estamos construindo algo que fará a diferença na vida de milhares de pessoas”, completou o governador.