DNA brasileiro com sangue belga
Equipe da Nanosens recebe toda capacitação necessária para o trabalho

DNA brasileiro com sangue belga

Empresa Nanosens se destaca na área de reagentes para diagnóstico de laboratório e faz história no Supera Parque

O sonho de conquistar o mercado do Brasil e da América Latina fez duas empresas da Bélgica desembarcarem em Ribeirão Preto. O destino preciso foi o Supera Parque, com o objetivo de formar uma nova companhia: a Nanosens, especialista na área de reagente para diagnóstico de laboratório, que fabrica e comercializa testes rápidos e de laboratório.

Com DNA belga e sangue brasileiro, a empresa deu os primeiros passos em 2016, conforme explica o diretor executivo e sócio João Reis. “As duas companhias belgas são de médio porte. Mas, um tempo atrás, era difícil e custoso vir ao Brasil, e só as farmacêuticas muito grandes conseguiam. No nosso caso, era complicado. Os sócios europeus buscavam entrar no país fabricando aqui, queriam um braço das empresas que não fosse apenas para importar e distribuir”, resume.

Para isso, as empresas entraram em contato com o escritório de relações internacionais do parque tecnológico, onde Reis trabalhava. Os europeus passaram por um programa do Supera chamado soft landing, que tem o intuito de facilitar a vida das companhias estrangeiras sobre investir ou não no Brasil.

“Elas passam pelo programa para entender o mercado, quais serão os entraves. No caso da Nanosens, que são produtos para saúde, explicamos com quem é preciso estar regularizado. Após os belgas passarem pelo programa, fui convidado para entrar na empresa e aceitei o desafio. Depois, me tornei sócio. A gente montou o negócio e trabalha no Brasil como uma filial, mantendo as marcas belgas DiAgam e Coris, reconhecidas mundialmente, sob o nome Nanosens, com a mesma qualidade e as mesmas fórmulas”, detalha Reis.

A companhia começou a atuação no Supera Parque em 2016. Até o começo de 2020, focou na área comercial, para entender as regiões do Brasil, como trabalhar em cada uma delas e com qual tipo de reagente; e na parte regulatória, que vai além da burocracia de Junta Comercial e de documentação de CNPJ.

“Sou economista de formação e entrei para a área da saúde, aprendemos juntos como fazer todo o trabalho. A gente decidiu por esse caminho, que é um pouco mais longo, mas que teria o conhecimento dentro da empresa, ao invés de contratar uma consultoria. Isso é uma mentalidade dos europeus: é melhor demorar mais, porém deter o conhecimento, porque isso pode ser replicado depois”, explica Reis.

O diretor executivo conta que é preciso o aval da Vigilância Sanitária da cidade e do Estado, além da Anvisa, e é um caminho bem longo. O laboratório foi montado e a empresa estava pronta para começar a comercializar os produtos em 2020. Aí, veio a pandemia.

“Atrapalhou nossos planos, mas uma das duas empresas da Bélgica tinha desenvolvido um teste para Covid-19. Até então, a Nanosens era autorizada a trabalhar com testes de baixo risco, mas o teste de Covid-19 é considerado de médio/alto risco. A Anvisa exige que a empresa tenha um documento chamado Certificado de Boas Práticas de Fabricação, onde passamos por uma inspeção mais rigorosa. De março até agosto de 2020, ficamos nessa preparação, recebemos os profissionais da Anvisa e fizemos as adaptações para poder produzir e comercializar o teste de coronavírus”, esclarece o diretor.

Laboratório da Nanosens, onde são produzidos os exames que são comercializados em todo Brasil

Com a nova certificação, a Nanosens fez o registro e passou a comercializar o teste em outubro de 2020. Como era uma empresa recente e um produto novo, o que dificultava sua venda, Reis se especializou no setor público e passou a participar de pregões e licitações em todo o país.

“Ganhamos alguns, perdemos outros, mas dessa forma a Nanosens passou a ficar conhecida e ganhamos espaço no mercado nacional. Em 2021, crescemos mais de 500%. Em janeiro e fevereiro deste ano, produzimos e vendemos a mesma quantidade de testes que em 2021 inteiro. Agora, vamos trabalhar com outros produtos ao longo do ano, como testes rápidos para detecção de resistências a antibióticos, testes de doenças respiratórias, gastrointestinais e dosagem de proteínas específicas. Queremos desenvolver diagnósticos para doenças da realidade brasileira, unindo a tecnologia da Bélgica. Outro plano é expandir o comércio para outros países da América Latina. Mas buscamos um crescimento sustentável”, comenta.

Reis detalha que a Nanosens é uma empresa 100% custeada pelos sócios, não teve investimento externo e, hoje, anda com as próprias pernas. Os produtos são co-desenvolvidos no Brasil e a atuação da companhia no Supera Parque é primordial.

“Estar em um parque tecnológico é um privilégio, porque temos a oportunidade de compartilhar conhecimento e conhecer pessoas. Inclusive, temos planos de expansão e o sonho de construir uma sede aqui no parque em um futuro não muito distante. Ribeirão Preto é um celeiro de inovação, é uma cidade referência na área da saúde, um ambiente próspero para o crescimento de empresas. Ter uma empresa multinacional aqui é colocar Ribeirão no radar”, defende.

Além disso, o sócio descreve que a empresa começou com dois colaboradores, hoje são seis. “Nós valorizamos os funcionários com bons salários, curso de idiomas, tudo pensando no desenvolvimento humano, para capacitar, incentivar e empoderar a todos. O que inspira nossa equipe é pensar no bem-estar do paciente final”, conclui Reis. 

João Reis, diretor executivo e sócio da Nanosens

Natural de Assis, no interior de São Paulo, João Reis tem 32 anos e é formado em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP/USP). Veio para Ribeirão Preto em 2008, para fazer a faculdade.

Ele explica que nunca imaginou atuar na área da saúde, mas foi nessa nova área que se encontrou profissionalmente. A Nanosens conta com cinco sócios, sendo quatro europeus e Reis é o único brasileiro. Fala espanhol, inglês e aprendeu o francês para se comunicar melhor com os belgas. Além da empresa, ainda presta serviço de internacionalização para o Supera Parque.


Fotos: Revide

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