“Quer correr, corra uma milha. Quer mudar a sua vida, corra uma Maratona” (Zatopek)

“Quer correr, corra uma milha. Quer mudar a sua vida, corra uma Maratona” (Zatopek)

Longe de qualquer apologia à corrida, este texto tem o propósito, em uma tentativa simples, explicar qual a sensação em completar uma maratona. Já adianto: é ruim, mas é bom, porém com um final deliciosamente prazeroso! Pode parecer loucura a defesa (há vários argumentos mais até o final deste texto) em correr 42,195 km sem parar ou descansar; apenas com pitstop rápido, em alguns casos, para a hidratação, consumo do gel repositor de energia ou até mesmo para um xixizinho básico. O ritmo? Aquele que a cabeça manda e o corpo obedece. O tempo? Ah, cada um faz o seu em meio a tanta gente diferente que está ali, de vários lugares do mundo, com apenas um propósito: concluir o percurso bem e finalizar com um sorrisão no rosto. 

Nada de extremismo. Gostar de correr não é patológico e muito menos algo que gira em torno de qualquer fanatismo, seita ou vício. É um prazer danado que dá, principalmente quando uma meta foi alcançada. É a tal da endorfina que dá seu sinal de vida. E é esse o barato da corrida – focar, colocar um plano, traçar e abocanhar ele na frente. Sem treinamento não se faz uma prova. Sem determinação não se conclui uma maratona. Sem esforço não se chega a lugar nenhum. Sem coragem não chega ao final. É aquela coisa: “No Pain No Gain”. Treinou ganhou. Se não treinou, não adianta encarar.

Em alguns momentos – seja qual for a distância – dá uma vontade danada em desistir, sair do meio daquela gente suada, largar o tênis em qualquer lugar e mudar de espaço, do planeta. A boa notícia: essa vontade passa rapidinho, porque no meio de uma prova é tanta gente com a mesma energia igual a sua e que o único objetivo é chegar no pórtico e concluir aquele sonho que foi traçado em algum momento lá atrás da vida – seja ele a primeira corrida ou a primeira maratona. No meu caso, foi minha primeira maratona – que enfim consegui fazer neste ano: a Maratona de Buenos Aires, realizada no dia 12 de outubro de 2014.  

Nestes dois posts (clique aqui) conto como foi a primeira tentativa que não deu certo.

E confesso, passar pelo pórtico após os 42 km é uma das melhores sensações que pode haver após meses de preparação para uma prova assim. A rotina muda. A vida muda! Assaduras, escoriações – tudo aparece. Você se transforma em uma espécie de ermitão em que o único tesão desta fase de treinamento é ver o sol nascer ou então comprar um tênis novo para encarar os longões dos finais de semana. Chope, vinho, fritura ou qualquer prazer gorduroso (para os mais digamos, ‘certinhos’) é exterminado do cardápio por um bom tempo. Mas nada que essa diversão possa ser substituída por outro tipo de entretenimento. Não é abandono, mas sim substituições – como tudo na vida!

Uma maratona exige um treinamento e acompanhamento complementar. São 42,195 km exatamente - correndo. Não dá para encarar um desafio desse e se jogar no meio de tanta gente sem o mínimo de preparação física, psíquica e emocional. Parece loucura, mas concluir uma corrida desta é necessário, além do conjunto pernas-força-peito-fôlego, ter bons pensamentos e autoconfiança, pois seus próprios pensamentos podem sim te retirar da prova (além das câimbras e bolhas). Sempre ouvi isso do meu treinador Elenilton Rangel: “confie em você, nos seus pensamentos”. Aliás, ele é um cara que voa nas maratonas do mundo afora – abrindo aqui já um parênteses e que não posso deixar de citá-lo: em Chicago (EUA), de outubro 2014, ele nada menos conquistou o 7º lugar na categoria 40-44 anos com o tempo de 2h37min53s. Foi o terceiro melhor atleta brasileiro,  porém seu recorde é de 2h35min55, na Maratona de Berlim 2012). 

E as dores? Ah, elas existem sim - todas elas - de uma vez só ou em momentos sequenciais. Antes, nos treinos, durante a prova e... depois... Ah, o day after - subir um degrau pode parecer a coisa mais difícil do mundo. Descer as escadas de um avião então passa a ser uma aventura! Uma leve inclinação na rua se transforma na pior altimetria de sua vida – tudo isso graças ao excesso de ácido lático (aquele que provoca dores musculares) que corre pelo corpo. Viva! Sinal que você correu uma maratona. (Obs: estevídeo mostra exatamente a dificuldade, mas de uma forma bem engraçada).

No entanto, o pós maratona também te ensina muita coisa. Ensina que todo mundo consegue alcançar algo que tanto deseja, e não é difícil. Ensina que ter disciplina, força de vontade e, principalmente, uma certa teimosia te levam a algum lugar sim. E o principal deles, que não é necessário ser o melhor ou chegar antes de todos, mas apenas garantir a sua performance, o seu objetivo – da forma que for. O importante é vencer esse desafio com consistência e, acima de tudo, respeitando o próprio limite do corpo e do coração. Cada um tem seu ritmo. Porque corrida é saúde. Corrida é vida além de tudo. E concluir uma prova dessa, olha, é uma alegria e tanto viu! Isso eu garanto. Ah, pode parecer bobeira, mas é a superação de muita coisa. E dá sim para correr e apreciar a paisagem. Dá até para correr e ajudar quem está do seu lado, seja com uma simples palavra de conforto ao corredor-coleguinha do lado: “não desiste não, está acabando”. 

E acaba! No final é a exaustão mais maravilhosa que se pode ter. É exatamente isso: “A maratona é um evento carismático, pois tem de tudo. Drama, competição, camaradagem e heroísmo. Nem todo corredor pode sonhar em ser campeão olímpico, mas, todos podem sonhar em terminar uma maratona.” (Fred Lebow). E esse sonho, ninguém tira da gente!

Ah, outra dica: seja devoto de algum santo – pode ajudar também! Porque em algum momento da prova, a gente também pede ajuda a ele! ;-)  

 Nascer do sol antes da Maratona de Buenos Aires

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