A cortiça e a cápsula de alumínio-2

A cortiça e a cápsula de alumínio-2

O argumento mais utilizado pelos adeptos do fechamento das garrafas de vinho com cápsula de alumínio é a presença do TCA, uma abreviação do composto químico 2,4,6, tricloroanisol, que impregna  com um cheiro característico de mofo os vinhos contaminados. O TCA é produzido por fungos presentes na madeira ou no papel e se desenvolve em contato com substâncias utilizadas para limpeza e para a desinfecção das adegas, com destaque para o cloro, que, por sua vez, contamina as rolhas de cortiça.

Estudos bem fundamentados — inclusive envolvendo batalhas jurídicas — têm demostrado que a contaminação não ocorre pela presença de fungos presentes inicialmente na cortiça das rolhas, mas sim pelas condições propícias ao seu desenvolvimento quando estes fungos estão presentes nas adegas das vinícolas já contaminadas, o que é de uma relativa raridade. Mesmo quando presente, o TCA tem sua percepção em somente 2% das amostras analisadas quando o vinho é testado por especialistas e, ainda, bem menor pelos consumidores ocasionais. Este, aparentemente, é um argumento que pode ser facilmente descartado, mas sempre é utilizado quando o tema é cortiça versus cápsula de alumínio.

Os outros argumentos a favor da cápsula são uma melhor conservação dos aromas, dos sabores e do frescor do liquido original, um controle total da permeabilidade do oxigênio — as cápsulas têm um dispositivo em seu interior que permite aumento ou diminuição do aporte de oxigênio —, o material utilizado seria totalmente inerte e, finalmente, as garrafas podem ser mantidas em pé, tanto no transporte quanto no armazenamento.

Do outro lado, os adeptos das rolhas de cortiça de alta qualidade defendem a necessária e fundamental permeabilidade das mesmas para facilitar o correto amadurecimento dos vinhos depois de engarrafados como o principal argumento para a sua utilização. Além disso, a manutenção de grandes áreas de enorme biodiversidade e de preservação vegetal e animal, como ocorre nas regiões de Portugal e Espanha, onde é cultivada a árvore denominada corticeira, que renova a sua casca, anos após anos, depois de removida.

A utilização das cápsulas de alumínio mais do que duplicou desde 2009, quando era de 15%, e continua crescendo, inclusive entre os vinhos portugueses ou mesmo entre aqueles franceses de alta rotatividade, com destaque especial para os rótulos do Novo Mundo.

A não ser pelos argumentos apresentados acima, que ao que tudo indica ainda permanecerão por muitos anos, não existe um motivo para rejeitar radicalmente os vinhos cujo fechamento é realizado com cápsulas de alumínio, como ainda vem ocorrendo entre um grande número de consumidores. Se nós confiamos no nome e no prestígio do produtor do vinho que iremos adquirir e apreciar, a escolha do tipo de fechamento nos parece totalmente irrelevante, mas, mesmo assim, este é um tema interessante e um bom motivo para contínuos e futuros debates. Um bom final de semana para todos nós.

Compartilhar: