A ciência cruel, os cientistas carrascos e os ativistas bonzinhos

A ciência cruel, os cientistas carrascos e os ativistas bonzinhos

Pergunte para qualquer cientista se ele gosta de utilizar animais para fins de pesquisa?  

A resposta será não. Sobretudo se ele tratar macacos e cães, que são mais próximos e semelhantes à nós.

Fiquei interessado sobre a tamanha indignação produzida pela cena dos cães Beagles do Instituto Royal.

As redes sociais foram lotadas de imagens dos animais assustados sendo carregados para fora do laboratório. A estéticas dramática estava montada: pobres animais são liberados das masmorras, e os carrascos eram os cientistas.

Vamos mudar a manchete: "Manifestantes invadem laboratório e salvam 200 baratas e 150 moscas de testes cruéis"

Até onde vai o seu amor pela natureza? Ama as baratas também?

Os ativistas invasores salvaram coelhinho e beagles, deixaram os ratos. 

Não demorou muito para iniciar um processo regressivo e agressivo contra qualquer tipo de ciência que use animais como fonte de dados de pesquisa.

Os dois lados se defendem: “A ciência do século XXI não deve mais permitir testes em animais”; “A ciência é completamente dependente de testes em animais”.

Os dois lados estão certos. Há esforços grandes no sentido de se desenvolver novas metodologias para testes biológicos que não utilizem organismos naturais. Mas ao mesmo tempo, não chegamos no ponto em que a pesquisa científica já pode se beneficiar 100% desses métodos; pois isso, como tudo em ciência, é um processo gradual, lento e demorado. Nada cai do céu na ciência, saibam.

Há, no entanto, pessoas defendendo que a ciência deve parar até que métodos completamente livres de testes de drogas em animais sejam criados. O problema é que para que métodos desse tipo sejam criados, necessitamos, muitas vezes, também de animais. Mais animais seriam testados e sacrificados.

A ciência é feita pelo ser humano e exclusivamente para o ser humano, mesmo quando salva a vida de cães, bois ou da mata atlântica. Mas a ciência é para o ser humano, porque fundamentalmente existe para redimir seu incessante desejo em descobrir e desvendar o mundo externo que sempre lhe é estranho e persecutório. Se a humanidade não deseja mais a ciência, que ela pare por aqui. Será que esse é o caminho?

Não conheci minha avó, que morreu precocemente de tétano. Sim, tétano. Uma doença facilmente tratável, que está longe de nós, graças à ciência cruel.

Pessoas são tratadas de câncer e outras doenças terríveis, graças à ciência cruel.

Você, vai à uma farmácia e tem sua dor redimida com um simples comprimido, graças à ciência cruel.

Sei que não adianta nada eu listar os benefícios da “ciência cruel”. Há quem seja contra a utilização de animais para benefício humano, mesmo que esses teste sejam direcionados à cura de doenças nos próprios animais (no caso de pesquisas veterinárias).

Se você ama cães, a ponto de ser terminantemente contra pesquisas científicas e de assinar abaixo-assinado contra a pesquisa desse tipo, sugiro que não os vacine; e que não vacine seus filhos também. Deixe de ir ao médico e ao dentista. Consuma alimentos que não precisem ser maltratados (lembrando que vegetais são seres vivos e possivelmente sofram de alguma forma ao serem mortos). Seja coerente em seus propósitos alucinados de salvar o mundo de uma “sei-lá-o-que”. Seja coerente em seu propósito neurótico de considerar toda e qualquer tipo de agressividade, nociva. Seja coerente assumindo que seu filho vai morrer por falta de um simples vacina. Que morra. Afinal, você não vai dar vacinas à ele, não é mesmo? Lembrando que que vários procedimentos cirurgicos são antes praticados em animais, então você precisaria recusar alguns tipos de cirurgia, ok?   

Amo cães, não trabalharia com uma ciência que utilizasse esses animais. Mas respeito a coragem e sangue frio de quem trabalha com isso. E dou pulos de alegria quando um analgésico me possibilita viver um dia mais confortável.  

Todo o quebra-quebra, manifestação e invasão no laboratório Royal, afinal, vai servir de alguma coisa e sempre vou achar muito bom que as pessoas se manifestem, quebrando ou não os vidros. Há que se fiscalizar laboratórios sim, mas na verdade, há que se fiscalizar tudo nesse país. Sabemos que fiscalização no Brasil é um negócio complicado, para dizer pouco. Mas penso que as deficiências no sistema de fiscalização não justificam o interrompimento da atividade fiscalizada.  

Não dá para entender a postura de quem acredita que devemos silenciar o desejo humano de conhecer e atuar sobre a natureza com base em um drama de Facebook, que mostra a ciência cruel, os cientistas carrascos e os ativistas bonzinhos resgatando pobres cães Beagles de uma masmorra medieval. Há séculos e séculos de um bonito processo chamado ciência, feito por pessoas geniais que merece o devido respeito e consideração... por mais que você tenha faltado das aulas de ciência e ache os Beagles fofinhos.

Segue um video ótimo!

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