Clique aqui e defenda a Amazônia

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A internet se transformou no maior palco das indignações da classe média brasileira - até então muda e culpada - que pôde comprar notebooks nas Casas Bahia em 10 vezes sem juros. Ótimo! Isso é a chamada inclusão digital. Portanto, e isso é importantíssimo em termos históricos, foi rompido o grande monopólio de mídias que é simbolizado mais fortemente no Brasil pela Rede Globo. Enfim, as mídias que conhecemos nos anos 80 como televisão, jornal e revista não são mais as únicas e a internet vem com força. Isso todo mundo já sabe, não é? Todos dizem também que isso ocorreu de maneira rápida demais... E  que a quantidade de informações é muito grande e que o ser humano vai se tornar pior do que já é (o que na minha humilde opinião é bastante difícil...)

Recentemente, um tal Movimento Gota d’água reúne artistas da rede globo, que vem dizer aos internautas (ávidos por se envolverem em algum tipo de briga politicamente correta, causas humanitárias ou de proteção animal) que a Usina Belo Monte vai ser construída, às custas do dinheiro do contribuinte e vai destruir a Amazônia e etc., etc., etc. No final do vídeo Maitê Proença até tira o sutiã... Vale a pena ver esse vídeo para percebermos a potência que a internet adquiriu entre as mídias clássicas e como as poderosas emissoras se apropriaram dela. Não é a toa que a Rede Globo é poderosa, ela consegue se adaptar.

Além de se adaptarem muito bem, as instituições de poder conseguem fazer com que você se sinta culpado por um coisa que, por ser multifatorial, não pode ser resolvida tão facilmente assim. Deste modo, somos martelados com ideias de “sustentabilidade”, “cidadania” e outras, que nos impelem a fazer um trabalho que não é exclusivamente nosso e, ainda por cima, somos bombardeados de instruções, de ditames. Você recicla seu lixo? Você é um cidadão exemplar? Você faz dieta? Você já parou de fumar? Você emagreceu para o verão? Você tem 50 anos e seus peitos são caídos? Tem bolsas embaixo dos olhos?

Você é mesmo um infeliz incompetente, porque hoje você pode tudo! O que quero dizer que há hoje uma ideia de que nós podemos tudo. Desde ter o corpo da Gisele Bündchen até defender a Amazônia. E tudo de maneira simples e rápida. “Clique aqui e defenda a Amazônia”; “Em 10x sem juros tenha os seios dos seus sonhos”. 

Mas isso não é bom? O ser humano ter o poder de modificar a natureza e seu corpo de maneira rápida e simples? Acho que não. Envelhecer traz consigo marcas do tempo e desejar permanecer com uma imagem adolescente tendo 50 anos é um grande problema. Envolver-se numa luta política exige tempo e esforço e alguns cliques no mouse do seu computador não vou resolver esse seu desejo de mudança do mundo.

Esse movimento de terceirização da culpa (quero dizer, colocar a culpa exclusivamente em você), faz parte de um projeto de “estado mínimo”, que todos os brasileiros estão cansados, pois todos reclamam de uma carga tributária excessiva, retornos sociais mínimos e corrupção exacerbada.

Vou finalizar com essa estranha palavra “sustentabilidade” que se tornou o maior clichê do últimos tempos. Esse fim de semana fui ao McDonalds e comi um lanche, certo? O lanche era embalado em papelão, o canudo era embalado em papel, o guardanapo era embalado com papel, a bandeja era coberta por um papel. Eu fui obrigado a produzir mais ou menos 500g de lixo por ter comido um lanche... e ainda fui obrigado a ver escrito na embalagem do guardanapo “Mãos e planeta limpos. Embalagem de papel sustentável e reciclável.” Isso é sustentabilidade?

Quem deve se ocupar da sustentabilidade e do destino do lixo são as grandes empresas e o estado. Caro leitor, sua parcela nesse negocio é mínima. E você fica achando que um abaixo assinado pela internet vai resolver alguma coisa. Claro que podemos pensar, raciocinar e consumir menos e inventar outras formas de destruição do ambiente. Mas saibam: destruiremos mesmo assim. Trocar uma embalagem plástica por uma de papel e dizer que isso é sustentável é uma afronta, uma piada.

O ponto principal é o comportamento consumista de descartar as coisas, e isso traz o problema do excesso de lixo. Assim como há necessidade de maior produção elétrica (e por isso Belo Monte) para manter os níveis de consumo e produção sempre altos, aliás, como deve ser - segundo os parâmetros mundiais da economia.

Como mudar isso? A sociedade pode arcar com uma redução drástica de consumo com intuito de preservar o futuro, os peixes, as matas, os pássaros? Não trocar de carro? Não usar fraldas de descartáveis? Não trocar de geladeira? Creio que não. O caminhão não é culpabilizar a sociedade pressionando-a para reduzir níveis de consumo e sim produzir bens de melhor qualidade que durem um tempo maior, ou seja, acabar com o comportamento consumista em sua raiz.

E quanto à Belo Monte... Veja o vídeo, tire suas conclusões e resista ao apelo quase irresistível de assinar o abaixo assinado... e se sentir mais útil.

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