E agora Gisele Bündchen?

E agora Gisele Bündchen?

Defender a moral e os bons costumes não é tarefa fácil em um mundo cheio de iPads, notebooks, facebooks e uma classe média que pensa que é responsável pelo destino do mundo; sendo que esse mundo se mostra cada vez mais sem destino e indomável. Já falei sobre o Rafinha Bastos e recentemente uma propaganda comercial com a “top model” Gisele Bündchen foi alvo de mais uma polêmica, diga se de passagem muito semelhante à polêmica de Rafinha.

A representação contra a campanha foi iniciada após o Conar receber denúncias de 40 consumidores e também da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, que argumentavam que a peça depreciava a figura da mulher. Em certa ocasião, a ministra do órgão, Iriny Lopes, disse que a propaganda estereotipa a mulher como um indivíduo que para ter uma condição igualitária, ou não ser repreendida, precisa se valer do corpo. "A propaganda caracteriza como correto a mulher dar uma notícia ruim apenas de lingerie e errado estar vestida normalmente. Essa definição de certo e errado caracteriza um sexismo atrasado e superado", disse ela em entrevista à TV Estadão.

Analisando a notícia percebemos que há certa preocupação com a imagem feminina e seu depreciamento e também a ideia de que mulher séria é mulher que não se utiliza da beleza ou do corpo para conseguir as coisas. Gisele Bündchen é uma top model e representa, na média, o que as “pessoas do mundo” escolheram para ser o biótipo mais bonito, mais agradável e mais sexualmente viável. É uma posição de liderança e grande destaque e muito... Muito invejada.

O termo “sexismo” utilizado por Iriny Lopes é bem aplicado, mas de maneira inversa. O termo sexismo pode ser substituído por machismo ou feminismo. Uma ideia sexista diz da superioridade de um gênero sobre o outro. No caso de Gisele, a propaganda coloca a mulher como detentora de um grande poder, coloca a mulher - de maneira bem humorada - como um ser superior ao homem e não o contrário. O problema dessa história é que nem sempre os conceitos são utilizados de maneira clara e muitos sentimentos e fantasias se misturam. Para Iriny e seus seguidores uma mulher se valer do corpo para conseguir alguma coisa é degradante e ultrapassado. Mas porque seria degradante, se a sensualidade é uma evidente demonstração de poder e de diferenciação das mulheres?

Muita gente não vai gostar disso, mas vamos dividir o mundo entre pessoas feias e bonitas. As feias são feias. Podem fazer plásticas, lipo e o que quiserem, sempre serão feias e, sobretudo, porque se acham feias. Mas as feias julgam que o mais importante na vida é ter um certo “conteúdo interno”, ser inteligente por exemplo. Isso é importante? Sem duvida é!

Mas o problema se torna perturbante quando se constata que as bonitas também podem ser inteligentes e terem um “conteúdo interno”, pois isso é uma questão de estudo, dedicação e tempo. Porque a beleza é quase uma dádiva divina: ou você nasce com ela ou você não a tem. A coisa desanda completamente quando as feias, ao perceberem isso, se revoltam contra qualquer tipo de manifestação de beleza e atacam qualquer comportamento que elas julguem “sexista”. Elas fantasiam um cenário em que elas são coitadinhas, desprivilegiadas pela natureza e que devem ser protegida das bonitas e dos homens que são maus é só querem abusá-las. Como disse Luiz Felipe Ponde: “Temo que uma hora dessas inventem uma cota de feinhas para as faculdades, as empresas e a publicidade”.

Acho muito ultrapassada a ideia de que as mulheres não podem usufruir e utilizar de sua sexualidade para qualquer fim, e que as mulheres precisam se definir comportamentalmente como seres assexuados e desprovidos de qualquer traço natural de uma sexualidade que pulsa em qualquer ser humano. Isso sim é rebaixar a condição feminina. Isso sim é sexismo. Isso sim é denegrir a imagem e capacidade das mulheres.  

Assim como na polêmica recente de Rafinha Bastos e Wanessa Camargo, o que está em jogo na polêmica Gisele Bündchen é a incapacidade das pessoas de lidar com suas fantasias invejosas e de compreenderem uma peça artística em que o humor é utilizado como ponto principal de articulação das ideias. Isso deve ser entendido como tal, e não como uma peça maquiavélica para transformar as mulheres em maquinas sexuais irracionais. 

 

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