no, no, no
Texto lúcido e criativo por Marcelo Rubens Paiva em https://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/no-no-no/
Se ela lutou contra todos os clichês.
Com 1 jeito de cantar só seu.
Resgatou o soul sob o império da música eletrônica.
Dançava tropeçando.
Se vestia sem grife alguma por trás.
Aparecia de maquiagem borrada, cabelo desorientado.
Seduzia com suas perninhas finas.
Preferia cantar no pub pé-sujo da esquina.
Detestava o assédio.
Queria beber em paz.
Tem a sua morte tratada com os mais indecentes clichês.
Via Twitter, Face, Blogs:
“Uma morte anunciada.”
“Não suportava a fama.”
“Ela pode até ter acreditado que era imortal.”
“Não controlava a fúria de alma.”
“Genial cantora, não parecia suportar este mundo sem as drogas.”
“O corpo físico não sustentou essa tsunami criativa e poderosa.”
“Nos deixa e passa apenas para uma outra dimensão”.
“Não tinha estrutura para lidar com a fama, a estrada e os paparazzi.”
E o pior de todos:
“O que Amy quer nos dizer agora é: Drogas, não!”
Tem até gente perguntando se haveria outras Marchas da Maconha após a tragédia.
O que ninguém nunca dirá é que ela morreu fazendo o que mais gostava.
Que sua autenticidade era maior do que as vozes da razão e lucidez.
E que, na sua arte, nos fascinava exatamente a resistência em ser comum.
Não a transformem agora em mártir da luta contra os vícios.
Rehab?
No, no, no!
I ain’t got the time.