O Amor aos limites e os limites do amor

O Amor aos limites e os limites do amor

Angústia - Salvador DaliFacilmente vemos essa palavra (limite) sair das bocas de especialistas que a colocam como solução para as dores de cabeça que seu filho lhe dá. Seu filho é desobediente e agressivo? Faltam limites. Seu filho não presta atenção nas aulas da escola? Faltam limites. Mas o que quer dizer isso? Porque limites são importantes? Eles são importantes de fato?

A palavra “limite” nos dá ideia de que há um lugar em que não podemos chegar, um lugar a partir do qual nós derretemos, morremos ou cairemos em pecado total. Ora, podemos nos lembrar da história de Adão e Eva. Deus impôs limites aos dois que prontamente desobedeceram. Portanto, a aplicação de um limite por si só não garante a obediência. E percebemos que muitas vezes tem efeito contrário. Quanto mais se diz para não fazer alguma coisa, mais se aumenta as chances de que aquilo seja feito. Ser humano é um bicho teimoso.

Uma criança ao nascer, supõem os psicanalistas, não tem a capacidade de perceber seus limites corporais. Em outras palavras, não diferencia com precisão o que é “ele” e o que é a “mãe”. Ele passa bons meses em um ambiente protegido, aquático e que satisfaz todas suas necessidades fisiológicas (excreção, nutrição, respiração, temperatura). E então, quando nasce, é expulso desse paraíso intrauterino. O primeiro grande trauma acontece. Há que se respirar, defecar, urinar, mamar, equilibrar-se em um meio terrestre e, o mais importante, efetuar uma relação satisfatória com o meio ambiente. Para que uma relação aconteça é preciso, primeiramente que o bebê passe paulatinamente a se perceber como um ser integral, como um corpo físico separado da mãe. E então os problemas acontecem.

D. Winnicott, importante psicanalista pediátrico, lança o conceito de “mãe suficiente boa”. Você pode pensar que a mãe suficientemente boa é aquela “mãezona” que faz tudo que filho quer, mas não. A mãe suficientemente boa é aquela que no momento certo e de maneira sutil, falha. A partir de um determinado momento, entre os 2 ou 3 anos de idade, se tudo correr bem, falhas maternas acontecerão. Essas falhas vão permitir o desenvolvimento mental do bebê no sentido de constatar inevitavelmente que ele é um ser sozinho no mundo. As falhas maternas, tão importantes para o desenvolvimento psíquico do bebê, indicam que o amor de mãe deve ter limites.

Creio que mais importantes do que colocar limites para seus filhos, os pais e as mães precisam se questionar sobre os seus próprios limites, sobre os limites do seu amor. A superproteção é nociva assim como o abandono. Os pais sentem-se inclinados a proteger seus bebês, e isso até os 3 anos de idade deve ser prioridade. Durante essa fase os pais desenvolvem um “amor aos limites”, em outras palavras, gostam de proteger seus filhos; e para muitas mães, essa atividade de proteção passa a ser a única atividade de suas vidas e, de maneira desastrosa, continuam nesse trabalho de maternagem indefinidamente. Ou você nunca viu por aí um bebê de 30 ou 40 anos? Um adolescente de 50 super apegado à mãe?

Você, portanto, ama seus filhos? ou ama dar limites à eles?

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