O Pit Boy e o Samurai

O Pit Boy e o Samurai

MMA é o Big Brother que se passa num fim de festa das boates chiques das grandes metrópoles.

Temos uma relação bastante especial com o passado, de modo que vamos ficando velhos e fatalmente utilizamos a frase: “No meu tempo, as coisas eram diferentes”. Essa sensação se estende para coisas que não conhecemos também como, no meu caso, com as artes marciais. Eu imagino que os samurais tinham um código de conduta mais elegante e humano que os “sensacionais” lutadores de MMA.

Coisa que aprendemos desde pequenos: “não podemos abusar de um ser humano em condições desfavoráveis”; “não podemos resolver conflitos na violência”. Acho que o MMA vai na contra mão desses dois preceitos comuns. Não que seja ruim, errado, mas é desumano. Não precisamos ir muito longe: mesmo em guerras, há respeito pela fragilização do oponente.

Socos, chutes, sem utilizar proteções exageradas (como no boxe por exemplo, com aquelas luvas em forma de pirulito) mais parecem um luta de rua de dois garotos bêbados. Talvez por ser esse simulacro da realidade, o MMA tenha atraído tanta atenção de homens, mulheres garotos e, claro, da grande mídia que aprendeu muito bem que a realidade vende muito. MMA é o Big Brother que se passa num fim de festa das boates chiques das grandes metrópoles. Os profissionais dessas lutas criaram um esteriótipo do “pit boy”, aquele sujeito ignorante, que fala alto, “pega as mina à força” e destroça os opositores do sexo masculino. Utilizam roupas de tais marcas, bebem drinks de tais marcas e treinam em certas academias, ou seja, constituem um naco de mercado interessante.

 Claro que os lutadores são profissionais disciplinados, treinam duro e brigam apenas nos espetáculos mas, chutes e pisões na cara de um sujeito que está no chão e demais golpes que degradam o ser humano a uma condição ínfima, me indigna profundamente.

A relação causa e consequência é bastante aplicada no caso do cigarro e demais comportamentos nocivos. Por exemplo, na batalha contra o fumo, gasta se bastante energia para reprimir o hábito sobretudo retirando o espaço de publicidade na mídia (no caso do cigarro de todas as mídias possíveis) e tem se, por consequência, um abaixamento do consumo e de novos usuários. Porque não acreditar que uma geração cativa desses espetáculos crescerá embrutecida? Ou a desumanização, assim como o câncer, não é um problema?

Nos indignamos quando vemos maus tratos com animais, assassinatos brutais, violência, estupro e etc. Porque não nos indignarmos com essa amostra estúpida do pior que o ser humano pode produzir?

Não nos indignamos porque na verdade gostamos de ver sangue. Adoramos postar no facebook que o coitadinho do cachorrinho foi violentado e aplaudimos um circo de horrores que está diretamente ligado a disseminação de uma cultura antissocial e violenta.

Por mais que uma arte marcial dê auto-controle e disciplina ao sujeito, a espetacularização disso traz consequências sociais sim e ponto. E outra coisa, pisar e chutar a cara de um ser humano que está sangrando no chão é inaceitável. Meu avô tem razão: não se faz mais homens como antigamente.

Tenente-Coronel Dave Grossman, do Exército norte americano, se refere em seu livro “Matar – Um estudo sobre o ato de matar”, quando comenta as influências de filmes e videogames que contém cenas de violência nas pessoas:

“Nossa sociedade descobriu poderosa receita para habilitar toda uma geração de norte-americanos a matar. Produtores, diretores e atores são todos generosamente recompensados por criar os filmes os mais violentos, repulsivos e aterrorizantes possíveis. Filmes em que as facadas, os tiros, os abusos e a tortura de inocentes homens, mulheres e crianças são mostrados nos menores detalhes. Torne esses filmes tão divertidos quanto violentos e, ao mesmo tempo, proporcione aos (normalmente) adolescentes espectadores as guloseimas, os refrigerantes e a intimidade do contato físico com o namorado ou a namorada. Pronto! Já é possível compreender como os adolescentes espectadores aprendem a associar as recompensas recebidas com as cenas que estão assistindo.”

 

 

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