Sexo, sexualidade e repressão

Sexo, sexualidade e repressão

“No meu tempo, as coisas eram diferentes”. Creio que, se você nasceu antes dos anos 70, já disse isso para alguém ou para si mesmo. Temos a impressão atualmente de que vivemos em uma época liberal, em que os desejos são plenamente realizáveis e que não há mais repressão das vontades humanas. Os regimes democráticos trazem a liberdade humana como o grande slogan… E acabamos acreditando nisso.Afinal de contas, pode-se tranquilamente aniquilar um casamento infeliz em prol de uma suposta felicidade pessoal, pode-se viver uma vida promíscua sexualmente, pode-se ter amantes diversos mesmo em um contrato de casamento cristão.

Um paciente me disse um dia que hoje em dia, os indicadores de sucesso profissional em sua área eram que primeiro o sujeito consiga um carro, depois um casamento, casa própria, filhos, um sítio para passar os fins de semana e, finalmente, uma ou duas amantes. É trágico, mas é verdade. Podemos afirmar com certeza que o sexo está liberado, porque ninguém mais tem medo de pagar seu preço, mas a sexualidade continua sendo reprimida. Explico.

Sexo é o ato sexual em si, realização de fantasias mais diretas a respeito do outro, por exemplo, você convida uma colega de trabalho para jantar e fazer sexo (simples assim, como jogar futebol). O sexo esta à venda, mas não me refiro às prostitutas. Digo que está a venda no sentido de ser moeda de troca direta. Uma mulher sente-se triste, compra uma roupa sensual, faz unha, faz depilação, vai à balada, e busca sexo como forma de alivio de certa tensão da qual ela pouco sabe. Um cara, sente-se envelhecido, malha 4 vezes por semana, enche os bolsos de camisinha e Viagra e vai à balada em busca sexo como forma do mesmo alivio de certa tensão. Os dois se encontram e pronto, está feito. A troca ocorreu, ambos venderam diretamente sua “performance sexual”.

- “Foi bom pra você? Sim, não, que bom, Beijo, me liga!”

A sexualidade abarca o conjunto de mecanismos psíquicos pelos quais o ser humano pode se relacionar com o outro, não se refere apenas ao ato sexual. Uma relação de amizade tem aspectos bastante parecidos com a relação marido-esposa como, por exemplo, o ciúme que você pode sentir de algum amigo ou brigas por causa de atrasos em um encontro e por ai vai. Nossa relação com nossos pais é a mais rica em sexualidade e se trata de nossa primeira e mais importante experiência sexual a qual vai determinar, em maior ou menos grau, todas as outras relações que tivermos em nossas vidas, com os amigos, com o trabalho, como nosso chefe, com nossos parceiros e etc.

O sexo, hoje em dia, não sofre repressão significativa, pelo contrário, é incitado e faz parte de um mercado complexo que vai desde fábricas de camisinha, bebidas alcoólicas, remédios para impotência, igrejas e empresas de festas de casamento. O sexo não traz a satisfação que promete, é efêmero, e arrebatadoramente bom. Estou quase convencido de que é o sexo que move a economia da sociedade ocidental. A sexualidade, por sua vez, é reprimida.

Uma vez que se estimula o sexo como a via mais fácil de acesso ao outro e é vendido em qualquer revista nas bancas de jornais, desenvolvimento da sexualidade se transforma em um fardo, um processo mais obscuro e difícil de se conseguir. Em termos econômicos colocar o sexo como produto é tão lucrativo como o tráfico de drogas porque, assim como as drogas, o sexo é efêmero e brutalmente prazeroso. O estimulo precoce ao sexo e a hipervalorização do corpo como fetiche (já cansei de falar disso, basta ligar a televisão no domingo à tarde), produzem, paradoxalmente, uma repressão da sexualidade.

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