Sutiã aos 6 anos

Sutiã aos 6 anos

Saiu na Folha de São Paulo do dia 7 de abril de 2011 a matéria bizarra intitulada “Sutiã aos 6 reabre polêmica da “adultização” de crianças”.Depois das maquiagens e dos sapatos de salto, crianças ainda longe da pré-adolescência, na faixa dos seis anos, agora têm à disposição sutiãs com enchimento. Lojas de departamentos passaram a vender peças para meninas com bojos que imitam o formato dos seios (FSP, 7 abril 2011). Na mesma matéria há depoimento de mães que cederam a realização desse estranho desejo das crianças em terem seios precocemente. Identifico duas questões relevantes aqui: (1) por que diabos essas crianças querem ter seios? e (2) por que os pais dessas crianças se submetem a comprar sutiãs para seus filhos?

Primeiramente, penso que as crianças são alvo fácil e lucrativo da mídia porque são indefesas e facilmente manipuláveis, e o que mais se vende hoje em dia na televisão e revistas é o próprio corpo e o sexo. Cirurgias plásticas são assuntos tratados abertamente em programas imbecis de domingo, em que os corpos são considerados como uma mercadoria moldável a bisturi. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas e só perde para os EUA e as cirurgias de mama e lipoaspiração – cirurgias narcísicas porque visam igualar a imagem corporal aos modelos existentes divulgados pela mídia – continuam liderando o ranking das plásticas mais realizadas. Isso quer dizer da moderna insatisfação com o corpo que atinge a grande maioria das mulheres brasileiras (e mães brasileiras).

Portanto está ficando muito comum as pessoas acreditarem em um ideal de beleza (na maioria das vezes inatingível) e que esse ideal passe a ser persecutório; passe a fazer parte até de um distúrbio mental que por sua vez é facilmente "resolvido" pelos cirurgiões plásticos. Essa cultura permissiva e absurda em relação à modelação do corpo influi obviamente as crianças, que percebem o valor alto que se dá as mulheres que tem peitos grandes e empinados ou “barrigas chapadas”. E esse valor é dado por todos nós, pais, mães cidadãos que compram essa ideia diariamente. Saibam, a culpa é nossa.

Por outro lado, os pais dessas crianças ficam em uma “sinuca de bico”. Em um belo dia sua filha de 6 anos chega em casa e diz que quer passar batom, porque todas as coleguinhas já estão passando. Neste momento, ou você exerce sua função parental educadora ou você se torna um pai permissivo. E ninguém no mundo pode falar a você qual seria a opção mais correta, porque ainda não se sabe onde isso tudo vai dar, trata-se de um fenômeno relativamente novo. Mas há pistas de que uma relação persecutória com o próprio corpo possa estar relacionada à anorexia e bulimia. 

Você pode até achar ruim, e dizer que sua filha de 6 anos não vai usar batom ou sutiã, mas a cultura diz “sim” a todo momento e você, caro leitor, vai perder a briga. Nós definitivamente aceitamos uma cultura pedófila e perversa, que entra todos os dias em casa pela televisão.

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