Exportações do Agronegócio podem Chegar a US$ 200 bilhões em 2020

Exportações do Agronegócio podem Chegar a US$ 200 bilhões em 2020

Será necessária uma estratégia para a criação e a captura de valor nas cadeias produtivas integradas.

Marcos Fava Neves

(Folha de São Paulo, Caderno Mercados, 17/12/10)

Eis que o agronegócio, o papai Noel da economia brasileira, nos dá o presente de fechar 2011 exportando o recorde de US$ 75 bilhões de dólares (quase R$ 128 bilhões). Subtraindo-se as importações do setor, deixará de saldo na balança algo entre US$ 62 a 64 bilhões. Crescemos em número de países compradores e a pauta de produtos exportados está cada vez mais variada. Este incrível desempenho foi atingido mesmo com o grande vilão do ano, o câmbio.

Seus efeitos nocivos fizeram com que muitos empresários perdessem o estimulo exportador, focando produtos no mercado interno, e também contribuiu para que 22% dos produtos que consumimos tenham sido importados. Uma conta simples: se o câmbio estivesse a R$ 2,10/dólar, as cadeias produtivas poderiam ter mais R$ 30 bilhões de renda para distribuir no nosso interior.

A enxurrada de dólares advindos das exportações do agronegócio apreciou o câmbio, e por conseqüência, ajudou fortemente nosso Governo a controlar a inflação.

Num cenário de demanda mundial futura fortemente crescente e produção de alimentos tendo que dobrar, e com nossas condições competitivas sem subsídios, um exercício mantendo nossa taxa de crescimento das exportações na década (eram de US$ 23 bilhões em 2001) temos a chance de sonhar com US$ 200 bilhões de exportação em 2020. Para atingir este objetivo, necessitamos de um plano estratégico fundamentado principalmente na estratégia de “criação e captura de valor nas cadeias produtivas integradas”, via três eixos ou pilares estratégicos: custos, diferenciação e ações coletivas.

Em custos (1), precisamos rever todas as operações, explorando as competências centrais, os recursos e os ativos, visando operar em escala, estudando novos insumos e componentes, através de tecnologia, inovação, escolher os melhores momentos de compra de insumos e engenharia financeira. Entram as questões de tributos, trabalhistas, transporte, entre outras reformas necessárias. E mais competitivas ficarão nossas cadeias se conseguirem reduzir seus custos de transação, melhorando os padrões de relacionamentos (contratos) e governança entre seus elos. Ou seja, trata-se do “corte de gorduras”.

Em diferenciação (2), nossas cadeias devem buscar a informação, o conhecimento, a inteligência e o conseqüente desenvolvimento de mercados, focando no relacionamento e intimidade com os compradores internacionais oferecendo soluções únicas e diferenciadas, com serviços agregados. Diversificar oferecendo também produtos inovadores em linha com as demandas do consumidor final, e esforços de mais processamento, embalagem, presença em canais e pontos de venda no exterior, marca de origem e desenvolvimento da imagem do fornecedor mundial de alimentos, que é confiável, sustentável e eficiente.

Finalmente, em ação coletiva (3), são estratégias que envolvem o fortalecimento das organizações das cadeias produtivas, sejam estas associações, cooperativas, sindicatos e outros, eficientemente administrados, alem das ações conjuntas entre as empresas, visando compartilhar ativos, estratégias e estruturas, pois é o momento de se comprar ativos no exterior que podem ser compartilhados visando maior acesso e presença no mercado, capturando valor.

Confio nos US$ 200 bilhões, pois temos muito a melhorar nos três pilares estratégicos. Que o novo Governo possa adubar o setor mais competitivo e admirado da nossa economia e colher os excelentes frutos desta adubação. Desejo ao leitor da Folha um feliz natal, e ao agronegócio, meu obrigado pelo presente de 75 bilhões de dólares... 

Marcos Fava Neves é Professor Titular de Planejamento na FEA/USP em Ribeirão Preto ([email protected]) e Coordenador Científico do Markestrat.

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