Formar Estoques pode Ser Boa Estrategia na Laranja

Formar Estoques pode Ser Boa Estrategia na Laranja

(Folha de São Paulo, 27/11/10 – caderno Mercados)

Marcos Fava Neves

A citricultura teve uma reunião histórica no dia 20 de outubro em São Paulo. Mais de 400 pessoas da cadeia produtiva e lideranças do agronegócio brasileiro estiveram em debate onde se discutiram seus números e estratégias, numa nova publicação do setor.  O ótimo astral mostrou que esta data pode ser um marco de uma virada. Foi consenso que a cadeia precisa de um mecanismo que possa integrar mais o elo produtor e o elo industrial para uma agenda de trabalho conjunta, aprendendo com as experiências positivas e negativas do seu passado e com outras cadeias produtivas, mas principalmente pensando e discutindo seriamente apenas seu futuro.

Parte importante do atrito existente entre seus elos é porque os preços flutuam entre 700 a 2400 dólares a tonelada do suco, prejudicando o equilíbrio da cadeia e causando danos irreparáveis. Ano passado citricultores receberam 5 reais por caixa, com prejuízo certo. Este ano será 15 reais. E o ano que vem? Como conviver com isto, como tomar decisões?

Do lado da oferta, temos variáveis como índice de pega da florada, chuvas, secas, pragas e doenças, investimentos em tratos culturais e outros, além da produção na Florida, trazendo grande variação na produção. Excedentes de produção de fruta e conseqüentes preços baixos transferem renda aos elos internacionais (engarrafador e varejista) e a falta de produção e conseqüentes preços altos do suco fazem com que exista substituição por outros sucos e também estimula a entrada de outros países concorrentes no mercado.

Tendo apenas 4 empresas exportadoras que detém 85% do mercado mundial, mas que disputam mercados e clientes e somos, incrivelmente, tomadores de preços. A idéia é polêmica, mas este mercado tem especificidades tão elevadas, que precisamos pensar numa estratégia institucional de estoques de suco para que abrandemos esta variabilidade, dentro de regras aceitas.

Isto poderia facilitar uma precificação internacional que possa ao mesmo tempo ser rentável e mais previsível para a cadeia no Brasil e relativamente confortável aos compradores internacionais, além de não estimular outros países produtores de suco de laranja a entrarem no mercado e não perder mercados para outros sucos vindos de outras frutas.

O mundo está em guerra comercial (tarifária, não tarifária) e em guerra cambial, e não podemos ser ingênuos. Esta estratégia de estocagem e precificação será uma contribuição para maiores entradas de recursos no Brasil e conseqüente distribuição na cadeia produtiva, contribuindo para a sustentabilidade.

Marcos Fava Neves é Professor Titular de Planejamento na FEA/USP em Ribeirão Preto ([email protected]) e Coordenador Científico do Markestrat.

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