O Brasil em um Atoleiro

O Brasil em um Atoleiro

(este texto é um resumo executivo, em formato de tópicos e utilizado para fins didáticos, da matéria de 12 páginas dedicada pela conceituada revista The Economist, em 28 de Fevereiro de 2015, ao Brasil, com alguns comentários ao final)

Prof. Marcos Fava Neves[1]

A economia brasileira está uma bagunça, com problemas bem maiores do que o governo irá admitir ou os investidores tem registrado;

Uma imagem colorida foi vendida pela presidente/candidata antes das eleições – um falso prospecto;

Estagnação da economia nos últimos anos (media de 1,3% de crescimento, em 4 anos);

Em 2015 uma contração esperada de 0,5% a 2,0% é prevista na economia brasileira com recessão prolongada;

Alta inflação espremendo os salários e o pagamento das dívidas dos consumidores e trazendo erosão no poder de compra;

Com inflação ainda acima da meta, o Banco Central não consegue reduzir sua taxa básica de juros do nível atual de 12,25%;

Um aperto fiscal e taxas de juros altas significam mais sofrimento para famílias e empresas brasileiras e um retorno mais lento ao crescimento;

Forte desvalorização do câmbio, maior que 30% em relação ao dólar em 2014;

As empresas brasileiras possuem dívida externa de 40 bilhões de dólares. Essa dívida sofre ainda um crescimento enorme por conta da desvalorização do real;

Os índices de aprovação da presidente caíram de 42% para 23% em três meses (dezembro/fevereiro) e sua base política está desmoronando;

O chamado “capitalismo estatal tropical” envolveu frouxidão fiscal, contas públicas opacas, política industrial que debilitou a competitividade e intromissão presidencial na política monetária;

O déficit fiscal dobrou para 6,75% do PIB;

Erros nos subsídios para eletricidade e combustíveis foram grandes e estão sendo pagos;

Grandes empréstimos subsidiados por bancos públicos para beneficiar setores e empresas;

Governo atual com característica semi-parlamentarista com o presidente do Congresso não alinhado com o governo;

Recessão e receitas fiscais em queda podem debilitar o ajuste preconizado;

As manifestações em massa contra corrupção e mediocridade dos serviços públicos vistas em 2013 podem se repetir em 2015;

Preços de importação aumentando trarão maior inflação;

Riscos de falta de água e de apagões, que agora são menores devido ao aumento de 30% no preço da energia;

A produtividade do trabalhador brasileiro não justificou e não justifica mais aumentos reais nos salários;

A dívida das famílias está equivalente a cerca de 46% da renda disponível;

80% das dívidas das famílias referem-se a crédito ao consumidor, cujo custo chega a ser punitivo. Quando se soma o pagamento do principal da dívida, o serviço da dívida chega a 21% da renda disponível;

O total dos empréstimos para o setor privado saltou de 25% do PIB para 55% nos últimos dez anos;

A confiança do consumidor é a menor em 10 anos;

Os investimentos que subiram durante 8 dos 10 anos até 2013, despencarão em 2015;

A Petrobrás está atolada em um escândalo de corrupção que paralisou os gastos e deverá custar até 1% do PIB em investimentos estrangeiros perdidos;

Em 2014, o Brasil gastou R$ 314 bilhões (6% do PIB) com o pagamento dos juros, um aumento de 25% em relação a 2013;

A dívida pública hoje equivale a 66% do PIB, a mais alta dos países do BRIC;

O BNDES e a Caixa apresentavam 39% de empréstimos em 2009, hoje essa parcela equivale a 55%;

No ranking “Fortune Global 500” das maiores companhias por faturamento em 2014, somente 7 eram brasileiras (1,4%). Na lista das 2 mil empresas mais valiosas do mundo da Forbes apenas 25 (1,3%) eram brasileiras;

Empresas no Brasil enfrentam uma diversidade de obstáculos: burocracia, legislação tributária complexa, fraca infraestrutura, falta de mão de obra capacitada e uma economia estagnada;

Brasil ainda enfrenta gestão fraca em diversas empresas de porte médio;

Uma empresa de médio porte brasileira gasta 2.600 horas para declarar impostos a cada ano. No México são 330 horas.

Existem muitas empresas familiares ainda com baixa confiança em executivos, relutando em se profissionalizar;

Gestão de curto prazo, devido a décadas de alta inflação;

Os empresários brasileiros continuam a gastar horas em reuniões com políticos que poderiam ser mais bem utilizadas melhorando suas empresas. Protegidas da competição por tarifas, subsídios e regras de conteúdo local, as empresas têm poucos motivos para inovar;

O que fazer:

Encorajar o comércio internacional e abrir essa economia super protegida;

Simplificar impostos;

Recuperar a responsabilidade fiscal;

Recuperação na confiança nos negócios;

Baixar as taxas de juros assim que possível;

Reformar a generosa previdência pública;

Criar políticas mais favoráveis aos negócios;

Frear os empréstimos financiados por bancos públicos em favor de setores e empresas;

Comentários: apesar de em alguns momentos apresentar uma análise muito rigorosa, o retrato acaba sendo um bom resumo dos equívocos cometidos na esfera econômica e política pelo Governo nos últimos anos e traça os caminhos do que deve ser feito, amplamente conhecidos no Brasil, mas com pouca vontade e condições de fazer acontecer. Creio que a análise da Economist foi muito dura com as empresas brasileiras, muito crítica, sem ressaltar as difíceis condições para competir que as mesmas encontram na arena produtiva brasileira. 

Sem dúvida, ser capa da Economist, com uma matéria absolutamente crítica é algo que denigre mais ainda nossa já desgastada imagem internacional, mas mostra, principalmente ao leitor mais informado, seja do ambiente empresarial como político, os equívocos de nossa gestão.

 

Ressalto que aqui foi feito apenas um resumo da matéria.

 

 



[1] Prof. Dr. Marcos Fava Neves, é Professor Titular de estratégia e planejamento da FEA-RP, Universidade de São Paulo. Aqui foi feito um resumo das matérias em discussões de ensino e agradeço a tradução deste resumo do inglês para o português pelo mestrando Flávio Valério.

 

Compartilhar: