Caso Faustão: lições do coração

Caso Faustão: lições do coração

Escrevo este texto logo após ter ciência de que o apresentador Fausto Silva, vulgo Faustão, passou por um transplante de coração e está em recuperação na UTI do Hospital Albert Einstein. Não sou um grande fã dele, mas não posso deixar de parabenizá-lo por sua longa carreira como apresentador.

Eu o conheci na década de 1980, quando iniciei minha jornada de baladas noturnas com os amigos. Faustão apresentou um programa chamado Perdidos na Noite, que era exibido no início da madrugada. Quando chegava da balada, sem sono, eu assistia ao programa para dar boas risadas. Esse programa estreou em 1984 na TV Gazeta de São Paulo, sendo transferido para a TV Record no mesmo ano. De 1986 a 1988, foi exibido pela Rede Bandeirantes, onde ganhou repercussão nacional.

Depois de assistir às notícias veiculadas pela mídia em torno do “Caso Faustão”, cheguei a três conclusões, as quais gostaria de compartilhar.

Cuide do seu coração

Faustão sofria de insuficiência cardíaca, que consiste na diminuição da função do coração, tanto para eliminar quanto para acomodar o sangue. Com o passar do tempo, os sintomas, que geralmente começam leves, vão ficando mais graves e o paciente pode ter falta de ar para realizar atividades simples do dia a dia e que não demandam tanto esforço, como escovar os dentes, tomar banho e ficar muito tempo em pé. Em casos graves como o dele, a única alternativa é o transplante de coração.

Não sou médico, mas acredito que a obesidade, o estresse e a vida sedentária do Faustão devem ter contribuído para sua insuficiência cardíaca. Portanto, essa a primeira lição: precisamos cuidar do nosso coração. Dieta saudável, exercícios físicos e atividades que reduzam o estresse são ótimas maneiras de cuidar desse órgão tão precioso.

Doe seu coração

Segundo o Ministério da Saúde, caso deseje ser doador de órgãos e tecidos, a primeira coisa a fazer é avisar sua família sobre a sua vontade pois, no Brasil, a doação só será realizada após a autorização familiar.

Após o diagnóstico de morte encefálica, a família deve ser consultada e orientada sobre o processo de doação de órgãos e tecidos. A morte de um ente querido é sempre uma situação difícil para toda a família, mas é justamente nesse momento de perda que o sofrimento pode ser transformado em um ato de esperança ao dar uma nova vida para pessoas que aguardam em lista de espera por um transplante de órgãos ou tecidos.

No Brasil, a retirada de órgãos só pode ser realizada após a autorização familiar. Assim, mesmo que uma pessoa tenha dito em vida que gostaria de ser doador, a doação só acontece se a família autorizar. Dessa maneira, se a família não autorizar a doação, os órgãos não serão retirados e a oportunidade da realização dos transplantes, tirando pessoas das listas e devolvendo a vida ou a qualidade de vida, será perdida.

Informe-se antes de julgar

“Informem-se antes de julgar, pede filho de Faustão após transplante de coração do pai”. Esse é o título de uma matéria publicada hoje (28/08/23) pelo Estadão. A mensagem faz referência a inúmeros comentários em redes sociais insinuando que, devido ao tempo com a qual o transplante de Faustão se deu - o anúncio de sua inclusão na fila por transplante de coração foi feito há sete dias, em 20 de agosto - ele poderia ter supostamente algum tipo de benefício, o que é negado.

Entre as informações destacadas na postagem feita pelo filho de Faustão, consta que há critérios para definir quem vai receber um transplante, incluindo a gravidade do estado de cada paciente.

No fim da tarde de domingo (27/08/23), o Ministério da Saúde divulgou uma nota oficial à imprensa informando que foram realizados 13 transplantes de coração no Brasil entre 19 e 26 de agosto, incluindo sete no Estado de São Paulo. “Neste domingo, 27, mais um paciente na capital paulista foi contemplado com um transplante cardíaco, neste caso, também priorizado na fila de espera em razão de seu estado muito grave de saúde - o apresentador Fausto Silva. Ele recebeu um coração após constatada a compatibilidade necessária para o procedimento, assim como os outros sete transplantados”, diz a nota oficial.

“A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada. A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados”.

“Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica”, conclui o Ministério da Saúde.

De acordo com Julia Braun, em matéria para o BBC News Brasil, o Brasil tem uma das maiores filas do mundo, mas também criou e mantém o maior sistema público de transplantes. O país é o segundo que mais realiza esse tipo de procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2022, foram quase 26 mil cirurgias de transplante no Brasil, entre os quais 359 de coração.

Para finalizar, segue mais uma lição: apesar dos problemas que apresenta, tenha muito orgulho do Sistema Único de Saúde (SUS) que possuímos em nosso país.

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