Desafios e diferenciais dos trabalhadores 50+

Desafios e diferenciais dos trabalhadores 50+

Diante da câmera do próprio celular, um senhor de 70 anos grava um vídeo para se candidatar a um emprego num e-commerce de moda. Ele explica por que, apesar de ter um padrão de vida confortável com a aposentadoria, quer voltar ao dia a dia do escritório. “Eu adoro fazer conexões, amo a excitação do trabalho. Quero ser desafiado e me sentir necessário. Também quero que saibam que vesti a camisa da empresa minha vida toda. Sou leal, confiável e bom em situações de crise".

A fala é de Ben, personagem de Robert De Niro no filme Um Senhor Estagiário (2015). Aproveitando uma ação de inclusão da empresa (um programa de estágio para terceira idade), ele assume um cargo para o qual tem excesso de qualificação. Tudo para conseguir voltar à ativa. Essa cena do filme é uma síntese do que trabalhadores com mais de 50 anos, conhecidos agora como 50+, podem trazer a uma organização.

Segundo Alexandre Carvalho, em matéria publicada pela Você S/A, há um consenso entre especialistas de carreira de que a experiência torna mulheres e homens mais resilientes e lhes dá maior inteligência emocional para aguentar o tranco nas crises. De quebra, eles têm o mapa de atalhos para encontrar soluções para os dilemas da empresa – afinal, já passaram por muitas mudanças, tanto da organização quanto da economia, e testemunharam o que deu certo e o que falhou.

Além disso, ao contrário dos millennials (nascidos de 1981 a 1995), que gostam de mudar de ambiente com certa frequência, os 50+ seguem uma tradição do mercado de trabalho do século 20: a de criar raízes. Daí a lealdade e o vestir a camisa de que fala De Niro.

Aliás, o preconceito contra o “velho” (chamado de etarismo), segundo Carvalho, é talvez o único que resiste abertamente na sociedade. Num episódio recente, ocorrido em 2021, um escritório de agentes autônomos da XP publicou uma foto de sua equipe formada quase exclusivamente por jovens homens brancos – e recebeu uma enxurrada de críticas por isso. As queixas eram sobre a falta de diversidade de raça e gênero, mas não se viu problema algum na maioria jovem.

Expulsar essa turma do mercado vai contra a economia em vários aspectos, afirma Carvalho. Primeiro, a reforma da Previdência empurrou a aposentadoria pública de mulheres para os 62 anos, e de homens para os 65. Se a pessoa perde o emprego antes disso, precisa se recolocar no mercado – ou vai começar a queimar muito antes a reserva financeira feita para a velhice de verdade. É o que acaba acontecendo hoje. Isso se a pessoa conseguiu, ao longo da vida, constituir uma reserva financeira!

A boa notícia é que, na contramão da dispensa dos profissionais maduros, há mais e mais iniciativas de inclusão. E muitas são estratégicas, ou seja, não servem só para dar um verniz de diversidade etária à equipe. Seguem algumas vantagens, listadas por Carvalho, que poderão ser obtidas por empresas que contratam trabalhadores 50+:

1ª) Resiliência: eles são duros na queda. Já passaram por diversas crises em empresas e na economia do país, então não entram em desespero e buscam saídas mais ponderadas;

2ª) Lealdade: diferentemente da ansiedade para mudanças de trabalho e de carreira das novas gerações, os 50+ vestem a camisa. Muitos adiam a aposentadoria por sentir que a empresa depende deles;

3ª) Experiência com soluções: eles já testemunharam inúmeras tomadas de decisões, e viram de perto o que dá certo e o que é certeza de fracasso;

4ª) Outra perspectiva: uma empresa com clientes de diversas faixas etárias não pode depender só de jovens para se comunicar com seu público. Os mais maduros entendem melhor as necessidades de quem tem sua idade;

5ª) Mentoria: profissionais 50+ têm muita experiência para transmitir, inclusive aos jovens que estão sendo preparados para cargos de liderança. E melhor:  eles gostam de compartilhar conhecimento;

6ª) Equilíbrio: nenhuma empresa se torna longeva contando apenas com uma garotada ágil e questionadora. A inteligência emocional dos 50+ faz o contraponto a quem pisa demais no acelerador. Estudos mostram que a diversidade (não só etária) é uma alavanca de sucesso para o time.

É como diz o “estagiário sênior” interpretado por Robert De Niro: “Eu li que músicos não se aposentam. Eles param quando sentem que não há mais música dentro deles. Bom, eu tenho certeza de que ainda tenho muita música em mim”. Como eu já passei dos 50, concordo totalmente com o “estagiário sênior”: ainda há muita música em mim!

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