O professor me deixou de DP

O professor me deixou de DP

Para quem não sabe, a sigla DP é a abreviação da palavra dependência. Quando um aluno faz uma disciplina em um curso superior e não consegue ser aprovado, é dito que ele “ficou de DP”. Normalmente, quando um aluno é aprovado em uma disciplina que ministro, comenta que “passou” na disciplina. Porém, quando não é aprovado, comenta que eu o deixei de DP.

Esse fato é muito curioso, pois quando ele é aprovado, o mérito é dele, porém, quando é reprovado, a culpa é minha! Como explicar isso? Será que sou um professor aloprado que quer prejudicar os alunos? Qual é o tipo de interesse que eu teria para reprovar um aluno, ou seja, o que eu ganharia com isso?

Segundo Aldemi Alves, em matéria publicada no site Pensar Bem Viver Bem, Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton, apontou que o mundo atual vive uma estranha epidemia de infalibilidade, ou seja, todos querem transmitir uma imagem de absoluta eficácia. Admitir erros, assumir a responsabilidade por certas falhas ou más decisões que trouxeram sérias consequências é uma linha vermelha que ninguém quer atravessar.

Isso se deve, acima de tudo, à ideia clássica de que assumir um erro é mostrar fraqueza. E em um mundo caracterizado por constante incerteza, mostrar fraqueza é precipitar uma queda. Alves comenta que, além desse macro cenário social conhecido (e sofrido por todos), podem ser enumerados alguns perfis de pessoas que nunca admitem seus erros:

Narcisismo: a pessoa narcisista nunca admite falhas próprias, pois fazer isso supõe uma violação direta de suas expectativas de competência absoluta. Algo que sempre irá preferir é detectar (ou até inventar) os erros de outras pessoas para os deixar em evidência;

Mecanismos de defesa: todos nós cometemos erros, e quando o fazemos temos duas opções. A primeira e mais razoável é admitir o fracasso, assumir a responsabilidade. A segunda opção é recusá-lo, bloqueá-lo e levantar ao seu redor um mecanismo de defesa sofisticado. O mais comum é, sem dúvida, a dissonância cognitiva, na qual surgem duas situações contraditórias e alguém, em um determinado momento, pode optar por não vê-las ou não aceitá-las, de modo que sua identidade não seja afetada;

A culpa é sempre do outro: ao cometer um erro, a pessoa decide ignorar sua responsabilidade e a atribui à outra. A verdade é que, ao culpar os outros pelos seus próprios erros, de certa forma estão negando esses erros. Assim, por não terem a maturidade necessária para os reconhecer, também não a têm para melhorar o próprio conhecimento interior qualitativo. Essas pessoas costumam optar por atitudes vitimistas, incapazes de assumir culpas, e sem um critério construtivo sobre o ocorrido. Esse é o perfil dos alunos que dizem que eu os deixei de DP;

Não aconteceu nada aqui: outro grupo de pessoas se engloba entre aqueles que não culpam o outro, mas também não veem erro algum. Em outras palavras, por mais que alguém lhes mostre provas, são incapazes de reconhecer os erros. Assim, este grupo de pessoas negará, veementemente, ter feito algo errado. Não são capazes de lidar com a culpa diretamente, já que não a veem. Ou seja, para eles é impossível aprender com algo que não existe, ou que diretamente não estão dispostos a reconhecer em nenhuma circunstância.

“Eu gosto dos meus erros e não quero desistir da deliciosa liberdade de estar errado, pois é através deles que eu corrijo minha postura e melhoro meus passos”. Charles Chaplin.

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