Reimaginando o capitalismo em um mundo em chamas
Murilo Carneiro
02 Jun 2020 18:57
Quando uma empresa pretende elaborar seu planejamento estratégico, o primeiro passo deve ser a análise SWOT, que é uma ferramenta bastante popular no âmbito empresarial. A sigla SWOT deriva de quatro palavras da língua inglesa: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças).
A análise SWOT consiste em enumerar as forças (pontos fortes) e fraquezas (pontos fracos) que a empresa possui, assim como identificar as oportunidades e ameaças que o mercado apresenta. Atualmente, para a esmagadora maioria das empresas, a pandemia do Covid-19 se apresenta como uma ameaça devastadora. Diante disso, torna-se muito difícil elaborar um planejamento estratégico otimista.
Apesar das imensas adversidades que as empresas estão enfrentando e ainda irão enfrentar, resolvi pesquisar para tentar descobrir se alguém estava conseguindo enxergar alguma oportunidade nesse vendaval de ameaças. Tal pesquisa fez com que eu identificasse uma matéria interessante, publicada pelo site da revista Época Negócios. Em tal matéria, Rebecca Henderson, professora da Harvard Business School, comenta que a pandemia causada pelo Covid-19 pode estimular muitas empresas a mudar seu propósito de forma positiva, por meio da melhora de suas práticas ambientais e sociais.
Rebecca explica em sua obra, cujo título é: Reimagining Capitalism in a World on Fire (Reimaginando o capitalismo em um mundo em chamas), porque as empresas precisam lidar com questões como desigualdade e mudanças climáticas. Ela afirma que a crise provocada pela pandemia do Covid-19 pode estimular algumas dessas mudanças a acontecerem rapidamente.
Segundo Rebecca, a meta das empresas não deve ser somente o lucro. A professora defende que as empresas devem estar centradas em propósitos mais profundos. Confira quais são eles:
Mudar o propósito da empresa: a pandemia está forçando muitas empresas a pensar em um propósito positivo. "Acho que uma das coisas que a pandemia está fazendo é deixar esse argumento muito claro: a sociedade humana é mais do que ganhar dinheiro. Parece, agora, que os negócios estão avançando e dizendo que, na verdade, estamos aqui para entregar mantimentos, criar bons empregos e proporcionar a prosperidade que a sociedade realmente precisa”, afirma.
Entender sobre desigualdade: em seu livro, Rebecca fala sobre três grandes problemas: mudanças climáticas, desigualdade e pobreza e degradação ou colapso institucional. Em reuniões com líderes de empresas, ela diz que era mais fácil levantar questões ambientais do que as que tocam em desigualdade. "[Durante a conversa] Quando chegava em desigualdade, todo mundo olhava para mim como se aquilo fosse trabalho de outra pessoa". Agora, como a pandemia expôs as desigualdades existentes, é impossível ignorar. “As pessoas de negócios estão vendo o que todos nós estamos vendo, ou seja, pessoas sendo forçadas a se arriscar sem remuneração adequada, porque não têm assistência médica ou reserva financeira. Acredito que a pandemia está levando mais empresas a pensar genuinamente sobre esse propósito", diz ela.
Ser sustentável: para Rebecca, as empresas que incorporaram o clima e o meio ambiente como pilares das operações provavelmente continuarão a trabalhar neles. Afinal, além do bom impacto na sociedade, os melhores profissionais só aceitam trabalhar para empresas que estão comprometidas com a ação climática e a diversidade. Os investidores também estão pressionando por ações climáticas. Em uma escala mais ampla, a pandemia pode levar a muito mais investimento em tecnologia verde por meio de pacotes de recuperação. "Se vamos gastar US$ 1 trilhão em colocar as pessoas de volta ao trabalho, por que não instalar painéis solares nos telhados, sem acionar usinas de carvão novamente?", diz ela.
Para alguns, o livro de Rebecca pode parecer uma obra de ficção científica. Algo que nunca ocorrerá no mundo capitalista. Porém, acredito que os empresários devem refletir sobre os 3 propósitos apresentados por ela, pois ainda não dá para definirmos como será o mercado e a sociedade pós pandemia. É importante que nos conscientizemos que só uma coisa é certa: as coisas não serão iguais ao que eram antes.
