Amor & Ódio e a Prática regular de Exercícios Físicos (Parte 2)

Amor & Ódio e a Prática regular de Exercícios Físicos (Parte 2)

         Olá, pessoal!

         No texto de hoje dou continuidade ao tema “Amor & Ódio e a Prática regular de Exercícios Físicos” com a participação da Fernanda Calixto, Doutoranda em Psicologia pela UFSCar.

         Estamos conversando sobre autocontrole e impulsividade. Então, quem não leu a parte 1, sugiro que primeiramente leia a parte 1 -> https://www.revide.com.br/blog/paulo-chereguini/amor-odio-e-pratica-regular-de-exercicios-fisicos/.

         Para “esquentar” o papo de hoje, esclareço que sob a perspectiva da Análise do Comportamento Aplicada (que é a abordagem científica que consideramos em nossos estudos, pesquisas e atuações), os problemas cotidianos que envolvem escolhas autocontroladas são analisados a partir das consequências eficazes ou ineficazes do comportamento em questão e não como fenômenos “internos” ou “mentais” do ser humano. Em outras palavras, em vez de entendermos que alguém possa “ter autocontrole dentro dela” ou uma “força de vontade” interna e mágica que causa ou permite alguém, então, ser impulsivo ou autocontrolado, nós consideramos a história de vida como determinantes para alguém fazer escolhas impulsivas ou autocontroladas. Interessados em saber mais sobre isso podem ler a referência apresentada no final deste texto. ;)

         Esta nossa interpretação é baseada em evidências científicas e que, de maneira geral, possibilita desenvolver uma combinação de estratégias de atendimento eficazes mediante compreensão de duas grandes categorias de problemas relacionados ao autocontrole: Excessos e Déficits comportamentais.

         Excessos comportamentais:
         -> Se referem a algo “indesejável” que alguém faz excessivamente. Simplificadamente, o objetivo do atendimento seria, então, a redução na probabilidade de escolhas impulsivas. Exemplos de relatos relacionados:
                   - “Estou de regime e não consigo resistir àquele bombom na hora do intervalo”;
                   - “Gostaria de não ser tão preguiçoso”;
                   - “Este garoto passa o dia inteiro em frente à TV” ou “... mexendo no celular”;
                   - “Eu sei que faz mal, mas é só mais um café e um cigarro que já volto”;
                   - “Eu gostaria de ter força de vontade para parar de beber cerveja toda noite”;
                   - “É só uma mentirinha e não vai fazer mal. Então, leve na esportiva”.

         Déficits comportamentais:
         -> Consiste em algo que precisa ou deveria ser mais frequente. Para tanto, o propósito geral das intervenções seria aumentar a probabilidade de escolhas autocontroladas. Exemplos:
                  - “Eu deveria passar fio dental todo dia logo após o jantar, mas me dá uma preguiça”;
                  - “Se eu conseguisse estudar um pouquinho todo dia, eu não passaria de ano direto”;
                  - “Eu gostaria de ter, mas não tenho motivação para fazer exercícios físicos todo dia”.

         Você se identificou com um ou mais destes relatos? Engraçado, não? Você consegue pensar em outros exemplos parecidos?

         Como é possível notar, um número muito grande de situações do nosso cotidiano envolvem escolhas autocontroladas ou impulsivas. O contexto da prática de exercícios físicos foi citado por ultimo para mostrar que ele é apenas mais um dos comportamentos que pode ser alvo de atendimento eficaz sob a perspectiva da Análise do Comportamento Aplicada.

         Na Parte 1, a Fernanda nos contou sobre um modelo de análise experimental que possibilita identificar se alguém faz escolhas autocontroladas ou impulsivas. As perguntas que fiz para ela, então, na sequência foram:

         E a partir da identificação de que a pessoa faz escolhas impulsivas é possível ensinar a ela a fazer escolhas autocontroladas?
         Quer dizer que é possível ensinar alguém que comumente faz escolhas impulsivas frente à prática de exercícios físicos a fazer escolhas autocontroladas em médio e longo prazo?

Fernanda Calixto:
         Sim, algumas estratégias são muito eficazes em aumentar o autocontrole em diversas situações, incluindo na prática de exercícios físicos. Uma estratégia muito utilizada é aumentar gradualmente o tempo de realização da atividade física. Por exemplo, em vez de planejar uma atividade física com uma duração final de 1 hora, o ideal seria iniciar em um tempo menor (15 min, por exemplo) e aumentar o tempo de atividade de 5 em 5 minutos ao longo de alguns dias até atingir o tempo planejado inicialmente (isto é., 1 hora).

Paulo Chereguini: Muito interessante!
         Com esta estratégia, mesmo aquela pessoa que diz que não consegue fazer uma aula inteira de academia ou que não gosta de caminhar ou pedalar por 1 hora pode se beneficiar. Se por um lado e em curto prazo, os ganhos podem ser poucos em termos estéticos, por outro lado e médio prazo, aumentam significativamente as chances de adesão à prática de exercícios devido ao caráter de aumento mínimo e gradativo de exposição ao contexto que inicialmente lhe é desagradável.

         Quais outras estratégias podem ser utilizadas?

Fernanda Calixto:
         Algumas pesquisas indicam que temos a percepção de que o tempo passa mais rápido quando realizamos atividades divertidas ou agradáveis. Com base nesse fato, outra estratégia é realizar alguma atividade de sua preferência durante a prática de exercícios. Por exemplo, você pode escutar músicas durante a caminhada ou realizar a atividade física com um amigo o que também pode tornar a própria atividade mais agradável.

         Visualizar os seus avanços ao longo do tempo pode auxiliar a se manter motivado na atividade física. Você pode utilizar aplicativos que registrem o seu desempenho a cada dia (quilômetros percorridos ou passos dados, por exemplo) ou até mesmo construir gráficos simples que indiquem o tempo ou quantidade de atividade física realizada ao longo das semanas. Você pode, ainda, planejar se premiar pelo seu engajamento na atividade física. Por exemplo, após uma semana, na qual realizou a atividade física conforme o planejado, você pode programar fazer algo que gosta muito, por exemplo, ir ao cinema ou a um restaurante.

Paulo Chereguini: Que legal!
         Entendi que algumas situações ambientais podem ser manejadas por uma pessoa com o propósito de aumentar as chances de ela própria fazer mais escolhas autocontroladas. Assim ela pode relacionar situações prazerosas ao momento de prática de exercícios e também pode planejar consequências agradáveis e potentes mediante a realização de metas pré-estabelecidas por ela, tal como um contrato de compromisso.

         Quais outras estratégias são possíveis?

Fernanda Calixto:        
          Outra estratégia muito importante envolve o modo de escolha da atividade física. É importante que dentre as opções de atividades disponíveis seja identificada qual a opção mais agradável. Por exemplo, muitas pessoas preferem fazer exercícios ao ar livre e sozinhas, então caminhar no parque seria uma boa opção enquanto que outras pessoas preferem realizar atividades em grupo, nesse caso encontrar um grupo de caminhada ou iniciar um esporte coletivo (por exemplo, vôlei, futebol, etc.) pode ser o ideal. O importante é se expor a variadas atividades físicas e identificar qual, ou quais, são de sua preferência!

Paulo Chereguini: Muito bom!
         Estas estratégias, certamente, serão ser muito úteis! Hoje terminamos por aqui.

         Agradeço à Fernanda pela valiosa participação. 

         Abraços e até breve!

Bibliografia de apoio:
Martin, G., & Pear, J. (2009). Modificação do Comportamento: O que é e como fazer. (8ª ed.) (N. C. Aguirre, Org. Trad.). São Paulo: Roca. (Trabalho original publicado em 2007).

Fernanda Calixto
- Doutoranda em Psicologia pela UFSCar.
- Graduação em Psicologia com ênfase em Análise do Comportamento.
- Mais informações: Lattes - https://lattes.cnpq.br/7438408946552610
- Contato: [email protected]

Imagens de destaque: Acesso em: <https://garotatecontotudo.com.br/category/bem-estar/> e <https://umadosedevc.blogspot.com.br/2015/01/uma-dose-de-fitness-em-tendencias.html>. Em: 12 de jul de 2015.

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