Dia do Circo

Dia do Circo

Por Mariza Helena Ruiz


E o palhaço o que é? É ladrão de mulher.

Começava assim a sessão de circo. Eu, sentadinha, esperando para vê-lo entrar, com seu sapato enorme, a caratonha branca, a boca descomunal e vermelha, a peruca de parcos cabelos, a roupa colorida. O Palhaço, que alegria! Homens, mulheres, adultos, crianças, todos presos às suas graças, todos agradecidos pelo momento de não precisar ser sério, de poder rir de bobagens, de esperar o óbvio e divertir-se com ele.

Admiro e muito os palhaços. Eu, que abomino parecer ridícula sinto uma inveja louca desses artistas que se expõem sem preocupação alguma, só para divertir os outros. Isso é ato de doar!

Aliás, não concordo quando comparamos palhaços às pessoas tolas. Não concordo que digamos: olha nosso nariz de palhaço quando somos enganadas por alguém seja em nossas casas, seja em nosso serviço, seja na política. O dicionário conta que palhaço pode significar aquele que faz papel de ridículo, e ridículo significa também cômico e rísivel. O palhaço é cômico e faz rir e muito. Não é tolo, não é bobo. É um artista que torna a nossa vida melhor. Alguém que abdica de empáfias: nem mostra seu verdadeiro rosto! Alguém que consegue fazer rir mesmo através da repetição, pois as besteiras que diz apontam para os erros de todos nós, eternos claudicantes no circo da vida. Alguém que pode representar a tristeza, a injustiça, a desesperança, a pobreza, e ainda assim angariar risadas. Que pode veicular cultura e dar, também, bons exemplos, sempre vestido de leveza e graça.

Grande Palhaço foi Chaplin com sua bengalinha, seu chapéu coco, seus olhos borrados a contar estórias dos desajustados e desvalidos, a zombar da tirania e de desmandos, a quem Carlos Drummond de Andrade homenageou no poema Canto ao Homem do Povo Charle Chaplin: “ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e de esperança.”

Grande Palhaço foi Piolin, nascido em 1897, na cidade de Ribeirão Preto, artista completo, tocador de violino e clarineta, engolidor de espadas, mímico, comparável aos melhores cômicos do mundo que foi homenageado por Jair Ianni em seu livro Piolin - a trajetória iluminada do maior palhaço brasileiro.

Há outros admiráveis homens, palhaços, não tão famosos, mas igualmente dignos de admiração. Homens que alegraram pequenas e grandes cidades, com suas tendas montadas, redondas, sinônimo de congraçamento, com poucos ajudantes, muito trabalho, muita vocação, e muita vontade de se apresentar.

No dia 27 de março, que é Dia do Circo, que tal homenagear Arrelia e Pimentinha lembrando seu jargão hilariante: Como vai, como vai, como vai, vai, vai?

E Carequinha e sua gravação “O Bom Menino”. Bonitinha, quer ver? “O bom Menino não faz pipi na cama / O bom menino não faz mal-criação / o bom menino vai sempre à escola...”

E o Palhaço Picolino que em 2010, aos 87 anos de idade, deu uma entrevista em que dizia não gostar que as pessoas usassem narizes vermelhos como forma de protesto. “Pois ser palhaço é coisa séria!”

Para homenagear mais um pouco e terminar nossa conversa aí vai um poema sobre o palhaço.

Meu Palhaço(*)
Busco o poema
Para o palhaço
Que habita em mim.
Gargalhante
colorido
Sem idade.
Palhaço reflexo
comediante e
trágico
deve ser mágico
o meu objeto de culto
Grandeza cósmica
máscara de anjo
o Palhaço do meu
circo íntimo
(*) Ecos do Outono - Jair Ianni

Editorial de março/2011 do Jornal Alumiar - https://www.alumiar.com/
Escrito por Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz - Educadora em Florais de Bach, DOULA

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