Um minuto de reflexão

Um minuto de reflexão

Apenas alguns minutos...
É assim que a vida passa para todos nós, de minuto em minuto lá se vão os dias, as semanas, os meses e os anos.
Então, de repente, acabou. Já não há mais tempo...
Ontem, por alguns minutos, os seres humanos ficaram reduzidos em Ribeirão Preto – na minha opinião - todos eles! 
Isso porque as cenas que assistimos na televisão e as fotos que estamparam os jornais de hoje, sobre a reintegração de posse na Favela da Família, que tanto nos emocionaram ou indignaram, não passam de triviais.
Nua e crua essa é a verdade.
O assunto vira manchete hoje, é requentado amanhã e não passa de alguns minutos de lucidez, de insatisfação, de revolta, de horror, de compaixão ou seja lá qual sentimento for...
Amanhã ninguém se lembra mais que aquelas pessoas estão por ai, passando frio, fome, necessitando do que vestir, onde dormir.
Amanhã ninguém se lembra mais que essas crianças se tornaram adultos, marcados pela necessidade e pela dor.
Amanhã ninguém se lembra mais que aqueles destroços foram um lar e que lágrimas molharam aquele solo.
Vende-se o terreno, constrói-se algo novo no lugar, o tempo passa e pronto...
Lá se foram os minutos perdidos a pensar na tragédia alheia, afinal, ela não nos pertence.
No aconchego de nossos lares, pouco importa se a noite é fria...
Com a mesa posta, pouco importa quem passa fome...
Com a escritura da casa própria em mãos, pouco importa quem não tem onde morar...
Também pouco importa se a Lei é essa, se é terreno particular ou público, se a prefeitura deve ou não se envolver.
Também pouco importa se são safados, desgraçados ou desafortunados simplesmente que moravam lá...
O que importa, o que é de fato, é que são GENTE minha gente.
Pessoas – de carne e osso – tão merecedoras de ocupar seu lugar neste mundo quanto nós.
E muitas delas talvez tenham seus corações mais puros do que os nossos.
A desgraça disso tudo não é ver fogões e geladeiras destruídos, em meio aos destroços, imaginando que tratava-se de tudo para quem já não tinha quase nada.
A desgraça disso tudo não é ver crianças aos prantos, mães desesperadas, homens taciturnos.
A desgraça disso tudo é que não passam de alguns minutos de vergonha em nossas vidas...
Apenas alguns minutos de pouca ou nenhuma reflexão sobre o mundo e as pessoas.
Apenas mais alguns minutos vãos, perdidos na imensidão de coisas boas que poderíamos fazer uns pelos outros, mas que não fazemos porque não nos impomos alguns minutos de comiseração.

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