Homem viaja mais de 2,4 mil km de moto para viver em Ribeirão Preto
O percurso entre o interior do Maranhão e Ribeirão Preto contou com alguns imprevistos

Homem viaja mais de 2,4 mil km de moto para viver em Ribeirão Preto

Procurando por um emprego, Josierick saiu do interior do Maranhão e viajou por quase cinco dias

O motorista Josierick Almeida enfrentou um desafio pessoal para poder chegar a Ribeirão Preto e ter a oportunidade de melhorar a vida e a da família. O maranhense, pai de dois filhos, largou o estado natal e se mudou para São Paulo. Para chegar até aqui, viajou mais de 2,4 mil quilômetros de moto. 

No ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ribeirão Preto atingiu a marca de 682,3 mil habitantes. Segundo o Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno, sediado na Suíça, em 2017 aumentou a quantidade de pessoas que realizaram mudanças dentro do próprio país – cerca de 1,6 milhão, no período de 10 anos no Brasil. No entanto, a maioria dos registros estão relacionados a desastres naturais.

Já Josierick se encaixa em outra categoria: a financeira. Ele se mudou para Ribeirão Preto em janeiro de 2017, após quase cinco dias de viagem pelas rodovias do interior do país em uma moto de 160 cilindradas.

Parte do caminho ele acompanhou o carro que levava o irmão, a mulher e as filhas, no entanto, um pneu furado e alguns desencontros na estrada fizeram com que perdessem o contato e ficassem mais de 200 quilômetros de distância um do outro.

Hoje, ele trabalha como motorista de Uber no município, no qual roda mais de 150 quilômetros por dia no conforto do carro, bem diferente dos 2,3 mil quilômetros que separa Ribeirão Preto de Pedreiras, cidade de 38 mil habitantes, no interior do Maranhão, em que vivia com a família.

A viagem começou no dia 17 de janeiro de 2017 e durou até o dia 21, daquele mesmo mês, quando perdeu o emprego como segurança que tinha no nordeste e se viu com poucas condições financeiras para sustentar a família. “Ficou inviável continuar lá, aí eu vim”, comenta Josierick, que recebeu o convite de um irmão, que já morava em Barrinha, para se mudar para São Paulo.

O irmão viajou até o Maranhão para ajudar na mudança e trazer no carro as filhas e a esposa de Josierick, no entanto, ele necessitava, ainda, de trazer a moto do qual era dono. Aí foi preciso realizar a viagem.

Ele veio equipado com roupa, botas, luvas e proteção interna, caso sofresse algum acidente no meio do caminho. Além disso, foram duas trocas de óleo da moto. Mesmo assim, aconteceram imprevistos na estrada: o pneu furou. A sorte é que ele achou rapidamente um borracheiro.

Porém, outras complicações apareceram. “Nós perdemos contato na divisa do Pará com o Tocantins. Fiquei mais de 200 quilômetros para trás. Só fui achado meia noite, quando encontrei um posto com sinal Wi-fi e consegui me comunicar com o meu irmão”, conta.

Durante as viagens de até 12 horas por dia, ele diz que o que mais dava medo era passar próximo de caminhões. “Passava muito caminhão. Tinha hora que você achava que iria sair da pista, porque quando ele passava vinha uma corrente de vento e fazia balançar a moto”, comenta.

Além disso, ele ainda passava as noites em postos de combustíveis que encontrava pelo caminho. As impressões que ficaram do percurso foram a boa qualidade das rodovias do interior de Goiás e São Paulo e as condições precárias das do Tocantins e Maranhão.  
“Tive medo, mas deu para chegar sossegado, em paz”, relata.

No entanto, ao chegar a Ribeirão Preto, o esforço quase foi em vão. Um desentendimento com o irmão quase o fez morar na rua. “Aqui eu quase fiquei a ver navios, quase cheguei ao ponto de virar morador de rua, e tenha duas filhas para criar”, lembra. “Não é uma situação que você deseja passar. Abandonar tudo, e vir enfrentar isso aqui”.

No entanto, logo a experiência como segurança o fez encontrar um emprego em Ribeirão Preto. Para complementar a renda, ele vendeu a moto para dar como entrada no financiamento de um carro. Com o veículo, passou a trabalhar como motorista de Uber. “No Maranhão tinha uma casa boa, ralei muito. Trabalhei com quase tudo lá, e sei que estamos aqui lutando”, conclui o motorista.

 


Foto: Leonardo Santos e reprodução Google Maps

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