Profissional de Ribeirão Preto auxilia no enfrentamento à pandemia em Manaus

Profissional de Ribeirão Preto auxilia no enfrentamento à pandemia em Manaus

Em colapso, sistema de saúde de Manaus recebe auxílio de outros estados e da Organização Mundial de Saúde que enviou um profissional de Ribeirão Preto ao local

A cena rodou o país. Às pressas, profissionais de saúde carregam cilindros de oxigênio que acabaram de chegar a um hospital em Manaus, capital do Amazonas. A ação desesperada é comemorada por outros funcionários da unidade. Palmas, choro e orações podem ser ouvidas pelos corredores. Dentro daqueles cilindros está a esperança de que os pacientes internados com Covid-19 não morreriam asfixiados nas próximas horas. A imagem traduz bem a tragédia pela qual atravessa a capital amazonense.

Ao todo, o estado registra 8,4 mil mortes e 271 mil casos confirmados. O que se traduz em uma taxa de 203 mortes por 100 mil habitantes, muito maior que as 116 mortes por 100 mil habitantes do estado de São Paulo. Sem uma articulação do governo federal, Manaus vive dias sombrios. Uma possível inércia do governo federal – que detinha informações do colapso da saúde no estado – será investigada em um inquérito aberto pela Polícia Federal, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Esse caos despertou a atenção da comunidade internacional. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) – braços da Organização das Nações Unidas (ONU) – enviaram reforços e suprimentos ao local. As entidades têm auxiliado a região desde o início da pandemia, em 2020. Entre os apoiadores está o diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Ribeirão Preto, o pesquisador Rodrigo Stabeli.

Por se tratar de uma missão diplomática, já que é um enviado da OMS/ONU em solo brasileiro, Stabeli não pode dar detalhes sobre a atuação no momento, apenas os dados que são divulgados pelas entidades de forma geral.  O profissional partiu de Ribeirão Preto no dia 18 de janeiro, sem data de volta. "A gente está trabalhando em uma catástrofe, então, temos data de ida, mas não tem nada de volta", comentou Stabeli antes da viagem.

Os manauaras também sofrem com uma nova variante do coronavírus, que apresentou um risco de maior transmissibilidade e reinfecção. A descoberta acendeu o sinal de alerta na OMS, que já detectou a mutação em ao menos outros oito países. “Manaus é importante, é uma cidade sentinela para todo o país, por isso a Organização Mundial da Saúde já mandou equipes para Manaus para acompanhar todos os técnicos de Vigilância Epidemiológica, da gestão assistencial, e grupos também que possam ir para assistência caso necessário”, acrescentou Stabeli.

O apoio da OPAS/OMS não se resumiu apenas ao envio de profissionais ao norte do país. Durante a última semana de janeiro, a OPAS doou 4,6 mil oxímetros, um equipamento que mede a quantidade de oxigênio no sangue dos pacientes. As doações foram destinadas à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas e para a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. Também foram enviados 45 cilindros de oxigênio para abastecer estabelecimentos de saúde do estado, 1,5 mil termômetros e 60 mil testes rápidos.

Ademais, os 46 profissionais selecionados pela entidade internacional garantem o funcionamento do laboratório central do estado 24 horas por dia, sete dias por semana. Ainda segundo a OPAS, os agentes enviados prestam apoio contínuo de campo na assistência e gestão da saúde às autoridades sanitárias locais, incluindo orientação técnica para o uso de equipamentos, como concentradores de oxigênio, uso racional de insumos médicos, principalmente oxigênio, bem como a distribuição nos hospitais de campanha. Outra atribuição da equipe será na campanha de vacinação.

Antes da partida, em Ribeirão Preto, Stabeli ressaltou que a disputa política em torno da pandemia e da vacina tem atrapalhado o trabalho de profissionais da saúde e pesquisadores. "Fazer política de saúde pública é diferente de fazer política. Política de saúde pública exige ação, exige menos 'gogó' e mais trabalho. A narrativa da vacina e a disputa política que a gente tem percebido tem atrapalhado muito o nosso trabalho. Primeiro porque, coloca mais uma vez a ciência em descrédito e agora alegam que as instituições públicas não prestam".

Na sequência, o pesquisador ressaltou a importância do Butantan, da FioCruz e da Anvisa. "O Butantan é um patrimônio do povo brasileiro. Apesar de ser uma autarquia estadual, ele tem uma história da saúde pública importantíssima na erradicação da peste bubônica e na soroterapia de acidentes ofídicos. Já a FioCruz foi criada a partir do instituto soroterápico federal para poder cuidar da febre amarela, da peste bubônica e foi ela quem conseguiu erradicar a varíola no brasil. E a Anvisa que foi criada em 1999, que é a segunda melhor agência em capacidade de organização e de fiscalização do mundo. Então, essa narrativa só prejudica um patrimônio que é do povo brasileiro", concluiu.

Apoio federal

Enquanto a crise em Manaus se agravava, pacientes precisaram ser transferidos para outros estados, como São Paulo, em busca de atendimento. Ao todo, de acordo com dados do governo federal, foram realizadas 430 transferências até o início de fevereiro. Durante o hiato de ações contundentes na capital amazonense – que resultou na abertura de um inquérito pela PF, como já mencionado – o governo federal enviou suprimentos e equipes ao local. Na última terça-feira, 2, o Ministério da Saúde informou que a situação do abastecimento de oxigênio no Amazonas já é considerada normal.

"O consumo hospitalar diário de 80 mil metros cúbicos do gás está coberto, e há sobra de aproximada 8 mil metros cúbicos por dia", informou a nota do governo. A pasta ressaltou que em janeiro, foram recrutados 2,5 mil profissionais de saúde para fortalecer o atendimento. Ao todo, foram convocados 205 médicos, 562 enfermeiros, 1,2 mil técnicos de enfermagem, 313 fisioterapeutas e 263 farmacêuticos, segundo o Planalto.

Os esforços, a partir de agora, serão direcionados para ampliar a oferta de leitos e reduzir as filas de espera. O governo federal estima que, nessa primeira fase, a previsão é abrir mais 150 leitos clínicos e 50 UTIs no estado. Em paralelo, o Ministério da Defesa segue prestando auxílio no transporte de pacientes para outros entes da federação.

Leia mais:

Vacinação contra a Covid-19 em idosos acima dos 90 começa na segunda-feira, 8

 


Foto: Valdo Leão - Prefeitura Municipal de Manaus

Compartilhar: