Saúde e Butantan se dizem surpresos com postura do Governo Federal sobre CoronaVac

Saúde e Butantan se dizem surpresos com postura do Governo Federal sobre CoronaVac

Secretaria estadual afirmou que recebe com indignação a declaração e espera que Ministério da Saúde cumpra compromisso assumido sobre compra do imunizante, testado também em Ribeirão Preto

Na tarde desta quarta-feira, 21, a Secretaria de Estado da Saúde e o Instituto Butantan emitiram uma nota de posicionamento sobre a declaração pública feita pela manhã nas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou que o Governo Federal não comprará a vacina CoronaVac. Na nota, a secretaria e o instituto disseram que recebem com "surpresa e indignação a declaração do Governo Federal."

"A postura de uma parte da União vai na contramão de todos os avanços conquistados até aqui nas negociações por representantes por ele escolhidos para o Ministério da Saúde com autoridades dos Governos Estaduais de SP e do Brasil. Com destaque para reuniões, inclusive presenciais, em Brasília, com participação do Secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, com o Ministro Eduardo Pazuello e seus assessores especiais, disse a nota .

Na tarde dessa terça-feira, 20, após reunião virtual com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou um protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, que está sendo desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. 

Segundo estudo divulgado também nessa terça, a CoronaVac demonstra-se mais segura em comparação a outras vacinas em teste para Covid-19, e apresenta menor percentual de efeitos colaterais nos resultados obtidos até o momento.

"O compromisso do Governo do Estado de SP é disponibilizar aos brasileiros uma vacina comprovadamente segura, após a conclusão de todos os estudos clínicos e as devidas aprovações nos órgãos regulatórios, como a Anvisa. Assim, espera que o Ministério da Saúde honre o compromisso assumido publicamente ontem (20) com 24 Estados, adquira o imunizante, e garanta uma vacinação gratuita, segura e eficaz para proteger a população", diz a nota do governo. 

Ainda segundo a Secretaria de Estado da Saúde próprio Ministro da Saúde afirmou, na terça, que "a vacina do Butantan será a vacina brasileira. Nós já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantan e essa carta, ela é o compromisso da aquisição dessas vacinas".

A secretaria e o Butantan alega que frase é clara e "sequer da margem para interpretações divergentes, sendo descabida a afirmação do Ministério de que houve 'uma interpretação equivocada'. É evidente que qualquer aplicação requer aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e todos os esforços para celeridade em todos esses processos estão sendo empregados para que a população tenha acesso o mais rápido possível a uma  vacina segura e eficaz."

De acordo com reportagem publicada nessa terça, pela Agência Brasil, para o protocolo de intenções de compra de doses da CoronaVac, uma nova medida provisória seria editada para disponibilizar crédito orçamentário de R$ 1,9 bilhão. "O Ministério da Saúde já havia anunciado, também, o investimento de R$ 80 milhões para ampliação da estrutura do Butantan – o que auxiliará na produção da vacina. Segundo o Ministério, o processo de aquisição ocorrerá após o imunizante ser aprovado e obter o registro junto à Anvisa", diz a reportagem. 

Ao encerrar a nota de posicionamento, o Governo de SP disse desejar, também, que o Governo Federal compreenda que "salvar vidas é a missão máxima de qualquer gestor público responsável."

Testes em Ribeirão

Os testes da Coronavac envolveram cerca de 500 voluntários em Ribeirão Preto e 13 mil em todo o País. O estudo no Brasil foi iniciado em 21 de julho e prevê a participação total de 13 mil voluntários, todos profissionais da saúde que atuam no atendimento a pacientes com Covid-19. Eles estão sendo acompanhados pelos 16 centros de pesquisa distribuídos, além de Ribeirão Preto, por sete estados e o Distrito Federal.

A partir deste mês, a testagem do potencial imunizante contra o coronavírus está sendo ampliada para voluntários idosos, portadores de comorbidades e gestantes. “A vacina Butantan é a mais segura em termos de efeitos colaterais. É a vacina mais segura neste momento não só no Brasil, mas no mundo”, afirmou Dimas Covas, Diretor do Instituto Butantan.

Dados sobre a eficácia, porém, ainda não foram divulgados. Ainda segundo a coletiva de imprensa desta segunda, até o final do ano os índices de eficácia da vacina contra a doença devem ser constatados. 

José Medina, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 no estado, diz que os índices de eficácia dependem da incidência da doença entre os dois grupos que participaram dos testes, pessoas que receberam de fato as doses da vacina e as que receberam o placebo. "Essa diferença depende da dinâmica da pandemia. Então, estamos no caminho para obter esses números", explicou. 


Arte Revide

Compartilhar: