Diminui o número de trabalhadores no campo da região de Ribeirão Preto
Municípios da região apresentaram diminuição de mão de obra de até 30%, como foi o caso de Sertãozinho

Diminui o número de trabalhadores no campo da região de Ribeirão Preto

De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE, nos últimos 11 anos, trabalhadores da área rural em Ribeirão Preto caíram de 4 mil para 1,6 mil

A agricultura perdeu a quantidade de trabalhadores nos últimos 11 anos em todo o País, segundo o Censo Agropecuário, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado de São Paulo e a região de Ribeirão Preto acompanharam o mesmo fenômeno, de acordo com o levantamento.

Os números iniciais apresentados pelo IBGE apontam que a quantidade de trabalhadores rurais em Ribeirão Preto caiu de 4 mil, em 2006, ano do último Censo, para 1,6 mil, em 2017. Situação parecida pode ser conferida pelos municípios que mais empregam neste setor, como Sertãozinho (de 8,8 mil para 6 mil trabalhadores), Serrana (de 4,6 mil para 1,9 mil), Pontal (de 6,7 mil para 4,5 mil), Batatais (de 10,6 mil para 6,4 mil), Bebedouro (de 3,1 mil para 2,3 mil), Franca (de 3,5 mil para 2,7 mil) e Jaboticabal (de 5,2 mil para 3,3 mil).

No Estado de São Paulo, houve a diminuição de 75 mil pessoas no campo, caindo de 910 mil para 835 mil pessoas ocupadas em estabelecimentos rurais, segundo o Censo. É o caso de Jessica Quirino, que é médica veterinária e saiu da fazenda de pecuária em que ajudava a administrar com a família, para seguir a própria carreira. "Eu, simplesmente, quis começar do zero, porque se eu tivesse lá, já estaria completamente estabilizada. Só que eu queria seguir a minha carreira", explica a veterinária.

Porém, ela não descarta a possibilidade de voltar trabalhar no campo. "Eu não quero agora, mas sei que é uma coisa que vale a pena para a vida. Meu pai é pecuarista, mas agora eu não quero seguir isso. Eu tenho a minha carreira e quero segui-la, mas, quem sabe futuramente? Não é algo que eu nunca queira fazer na minha vida", conclui.

Mecanização e novas culturas são os principais motivos

O principal motivo para a diminuição da quantidade de trabalhadores no campo se deve à mecanização das lavouras, além do aparecimento de novas culturas na região, como aponta o professor da Universidade de São Paulo, Luciano Nakabashi, que é coordenador do Centro de Pesquisa em Economia Regional (Ceper).

“Houve uma grande redução por questão tecnológica, em razão da mecanização do corte da cana, que reduziu bastante o uso da mão de obra em alguns processos. O que é mais importante em São Paulo é a cultura da cana-de-açúcar. Tem uma questão importante de valor e mão-de-obra. Teve impacto relevante. Nos últimos anos, o setor ainda passou por dificuldades. A área plantada oscilou. Se você pegar hoje a área plantada, é muito próxima com a de 2010. Não teve aumento”, explica Nakabashi.

O professor ainda afirma que têm aparecido novas culturas agrícolas que demandam menos mão-de-obra no interior do Estado, o que, segundo ele, também ajudou a potencializar este número, como o cultivo de madeira, que, na região de Ribeirão Preto, pode ser encontrado próximo à região de Serrana, e de seringais, que têm ganhado terreno na área entre Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.

“Isso demanda menos mão-de-obra. Você planta a cultura, deixa crescendo e fica anos esperando”, aponta o pesquisador, que lembra que os empregos diretos no campo não são tão relevantes, já que representam uma parcela perto de 5% da população brasileira. No entanto, ele destaca a importância do agronegócio, que envolve a indústria - esta, sim, um dos principais provedores de emprego na região.

“Mas pegar o agronegócio, já com a indústria integrada, é mais importante, como é o caso de Sertãozinho, que tem o setor industrial construído ao redor do agronegócio”, explica Nakabashi.


Foto: Arquivo Revide - Julio Sian

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