Prefeitura de RP estuda alternativa de abastecimento com água do Rio Pardo
Rio Pardo: projeto de infraestrutura e estudos ambientais para saber a viabilidade de usar a água do rio no abastecimento

Prefeitura de RP estuda alternativa de abastecimento com água do Rio Pardo

Atualmente, toda a água consumida na cidade vem do Aquífero Guarani; Atlas Brasil recomenda busca de novo manancial para abastecer o município, em complemento ao atual sistema

Ribeirão Preto é uma cidade totalmente abastecida com a água do Aquífero Guarani. No entanto, desde 2013 um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) alertou que o município precisa adotar um novo manancial, pois o aquífero não atende à demanda, e recomenda o uso do Rio Pardo.

Recentemente, a cidade chegou a 720 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a preocupação é evitar que o recurso hídrico falte na cidade nos próximos anos. Em nota divulgada nesta quinta-feira, 21, a prefeitura informou que seguiu as recomendações da ANA e conseguiu, junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional, recursos para custear um projeto de infraestrutura e respectivos estudos ambientais que analisarão a viabilidade de aproveitamento da água do Rio Pardo para o abastecimento do município.

No Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, a ANA aponta que Ribeirão Preto e outras 73 sedes municipais necessitam de novos mananciais, considerando a insuficiência de disponibilidade hídrica superficial ou subterrânea para o atendimento da demanda no longo prazo.

“É responsabilidade dos gestores das cidades pensar nas futuras gerações e garantir o abastecimento para uma cidade em plena expansão como Ribeirão Preto”, afirmou o prefeito Duarte Nogueira (PSDB). A nota detalha que o valor total previsto para a elaboração dos estudos e projeto é de R$ 3.118.368,93 – dos quais R$ 2.962.450,48 serão financiados pelo Ministério do Desenvolvimento, e R$ 155.918,45 serão contrapartida do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp).

Atualmente, o abastecimento de água na cidade é feito a partir do Aquífero Guarani, mas estudos geológicos apontam queda nos níveis do manancial, o que acende um alerta quanto à preservação da fonte e mostra a necessidade de busca de novas alternativas de captação de água.  De acordo com a prefeitura, a atual concepção da operação do abastecimento de água no município já está sendo revista e reestruturada pelo Daerp por meio de um programa amplo de Gestão, Controle e Redução de Perdas.

“Com os investimentos feitos até o momento, as perdas no sistema de abastecimento foram reduzidas em 25,3%, passando de 61,48%, em 2016, para 49,06% em 2020. O programa pretende reduzir ainda mais essas perdas e recuperar um volume aproximado de 1 m³/s, a fim de garantir o abastecimento da cidade no médio prazo e diminuir a pressão sobre o aquífero”, diz a nota.

Segundo a Prefeitura, por Ribeirão Preto ser sede de região metropolitana e um dos municípios mais importantes do Estado de São Paulo, precisa planejar ações que aliem desenvolvimento social e ambiental para alcançar sustentabilidade e garantir água de qualidade e em quantidade suficiente à população – que deve chegar a 900 mil habitantes em 10 anos. “Para tanto, o município deve agir pela preservação do Aquífero Guarani e assegurar uma nova fonte de abastecimento, de modo que, no longo prazo, os dois sistemas funcionem concomitantemente. Desta forma, a captação da água superficial do Rio Pardo diminuirá os volumes captados no manancial subterrâneo, reduzindo também os impactos”, detalha a nota.

Ainda segundo a prefeitura, os estudos e projetos necessários para analisar a viabilidade de captação de águas superficiais e implantação de nova fonte manancial devem compreender:

• Harmonização do abastecimento da cidade, no longo prazo, aos planos e intervenções na área urbana;

• Análise e diagnóstico do sistema de abastecimento existente: avaliação do(s) manancial(ais), estudos hidrológicos, avaliação da captação, estudo de tratabilidade e qualidade da água a ser tratada, adutora de água bruta, estação de tratamento de água, reservatórios, elevatórias de água tratada, interligações ao sistema de reservação e redes de distribuição;

• Estudos demográficos: inspeções de campo, análise e estudos da dispersão populacional existente, análise de legislação de uso e ocupação do solo, definição de áreas homogêneas e projeções demográficas com horizonte de projeto para 35 anos;

• Determinação de demandas de água: critérios e parâmetros de projeto, cálculo das demandas mínimas, médias e máximas diárias e horárias;

• Inspeções de campo para definição de alternativas e traçados - Matriz de Alternativas;

• Concepção do Sistema Proposto: avaliação do manancial, elevatória de água bruta / tratada, adução de água bruta / tratada, estação de tratamento de água, reservatórios e interligação ao sistema existente; e

• Pré-dimensionamento das instalações propostas e definição da melhor concepção sob os aspectos de custo/benefício e ambientais.

• Estudos complementares: levantamento topográfico planialtimétrico, batimetria; investigação do solo com sondagem a percussão, estudos geológicos, geotécnicos e arqueológicos.

O Projeto Básico compreende:

• Projeto básico da captação de água superficial;

• Projeto básico de adução de água bruta;

• Projeto básico da estação elevatória de água bruta;

• Projeto básico da estação de tratamento de água;

• Projeto básico da estação elevatória de água tratada;

• Projeto básico da adução de água tratada;

• Projeto básico dos centros de reservação setoriais e

• Projetos das interligações ao sistema existente.

Os estudos financeiros compreendem:

• Avaliação de investimentos e despesas de exploração do Projeto de aproveitamento do rio Pardo; e

• Estudos econômicos e financeiros ao longo do período de alcance do projeto (35 anos).

Os estudos ambientais compreendem:

• Estudos Ambientais de todo o sistema produtor de abastecimento rio Pardo; e

• Licenciamento Ambiental Prévio.

Deverão ser projetados os reservatórios, as adutoras e estações elevatórias de água tratada que interligarão o sistema de captação superficial ao sistema de distribuição existente, de modo que a água captada superficialmente também seja distribuída para todas as regiões da cidade, finaliza a nota da prefeitura.

Ações da Prefeitura

Em setembro deste ano, a Revide trouxe o assunto em uma reportagem de capa, que alertou para a busca de alternativas para o abastecimento de água na cidade. O texto mostrou que, há cinco anos, uma polêmica foi palco do segundo turno das eleições municipais em Ribeirão Preto. O então candidato – e atual prefeito – Duarte Nogueira defendeu a construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) no Rio Pardo, para desafogar o Aquífero Guarani e garantir o abastecimento da cidade. O projeto tem um custo milionário. Em 2013, quando foi apresentado ao Daerp, foi previsto um investimento de R$ 324,4 milhões

De acordo com a Prefeitura, na ocasião, o Daerp informou que o município não corre risco de enfrentar, neste momento, uma crise hídrica. “Apesar da cidade ser abastecida através do aquífero, é necessário que se faça um planejamento visando o futuro, a fim de garantir o abastecimento de água para a população. Para isso, o Daerp priorizou, nos últimos quatro anos e meio, os programas de redução de perdas, com o objetivo de reduzir em 50% as perdas totais de água da cidade”, explicou a prefeitura, em nota.

Sobre a criação da estação no Rio Pardo, discutida por Nogueira nas eleições de 2016, a prefeitura diz que são necessários investimentos para a contratação do projeto. “Neste momento, a autarquia prioriza o programa de redução e perdas e aguarda a autorização do Ministério de Desenvolvimento Regional para iniciar o projeto básico e ambiental do Rio Pardo”, esclareceu a nota na época.

Como toda a água que abastece Ribeirão Preto vem do aquífero, um problema que o município enfrenta são os vazamentos subterrâneos. Para evitar o problema e melhorar a captação de água, a prefeitura informou que tem feito obras para a melhor distribuição do recurso hídrico.

“No programa de Gestão, Controle e Redução de Perdas de Água e Eficiência Energética, implantado desde 2018, uma das principais ações é a setorização do abastecimento, com a criação de 56 novos setores na cidade. Para isso, estão sendo implantados 65 quilômetros de adutoras e 250 válvulas de fechamento de setores; construção de 17 novos reservatórios, com capacidade para 23,3 milhões de litros; perfuração de um novo poço e recuperação de outros nove. Hoje, a maior parte do abastecimento, 65%, é feita em marcha. Ou seja, segue do poço direto para os imóveis. Apenas 30% do volume captado vai para reservatório. Com a conclusão das obras, 100% da produção irá para os reservatórios e deles, para a rede de distribuição, o que permitirá a gestão da vazão e a redução da pressão, diminuindo vazamentos”, disse a nota.

A prefeitura também vai combater ligações clandestinas e contratou empresa para identificar vazamentos subterrâneos. “Além da produção e distribuição, o programa prevê a implantação dos Distritos de Medição e Controle, implantação do Centro de Controle Operacional e a implantação de um programa caça-fraudes, para encontrar e eliminar ligações clandestinas e fraudes em hidrômetros. Uma empresa contratada já faz a pesquisa e reparos de vazamentos não-visíveis, porque provocam perdas maiores que os vazamentos aparentes, uma vez que duram muito mais tempo, por estarem invisíveis”, reforçou a nota.

Combate ao desperdício 

Também na reportagem veiculada na Revista Revide de setembro, o vereador e presidente da comissão de Meio Ambiente da Câmara de Ribeirão Preto, Marcos Papa (CID), afirmou que a prioridade da prefeitura, neste momento, é combater o desperdício de água. “É muito importante buscar alternativas de abastecimento, mas a administração priorizou o combate ao desperdício, o que é um acerto. Hoje, 55% da água captada em Ribeirão é desperdiçada. Era 60% há pouco tempo. Conseguimos isso através de um balanço hídrico. O Ministério Público exigiu que a prefeitura colocasse macromedidores nos poços de captação para conferir o desperdício. O aquífero não está dando conta, estamos captando seis vezes mais do que ele é capaz de recompor”, explicou Papa.

Segundo o vereador, existe esse desperdício “monumental” na cidade porque nosso sistema de abastecimento não é eficiente. “Desde os incas e os maias, a humanidade usa a lei da gravidade para distribuir água, mas Ribeirão usa o sistema a montante, com pressão e bombeamento de água direto na torneira. Isso causa vazamento, pois o bombeamento estoura a rede e provoca um prejuízo enorme. Agora, a prefeitura fez reformas de reservatórios e construiu novos, o que vai inverter esse sistema de abastecimento e a tendência é o balanço hídrico melhorar”, afirmou.

No entanto, Papa alertou que, se o desperdício continuar alto, em 2025 será necessário fazer a captação de água em um manancial. “Mas a prefeitura pode tomar algumas medidas antes de construir a Estação de Tratamento de Água, porque é um gasto milionário. São quatro medidas necessárias: combater o desperdício, até chegar a 10%, que é a média aceitável; criar um sistema de captação e distribuição de água de reúso; recomposição das matas ciliares dos cursos de água; e o processo de educação ambiental da população. A estação, em um futuro próximo, será necessária, em cerca de 10 anos”, finalizou o vereador.

Aquífero em risco

Para o doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e professor da Unaerp, Luciano Faria de Novaes, o Aquífero Guarani está em risco. “Diversos estudos vêm mostrando que o nível do reservatório diminui ao longo do tempo. Na prática, está sendo retirada mais água que a sua capacidade de recarga. O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico na região aumentam a demanda. Assim, torna-se essencial realizar estudos para viabilizar outras fontes alternativas de abastecimento”, explicou.

De acordo com Novaes, a captação de água do Rio Pardo é viável. “No entanto, devido aos custos das obras, há a necessidade de buscar recursos financeiros para sua execução, pois não se trata apenas de uma Estação de Tratamento de Água, mas também de uma captação (incluindo infraestruturas civis, elétricas, hidráulicas e eletromecânicas), bem como das tubulações (adutoras de água bruta) para realizar o recalque do rio até o tratamento. Também serão necessários investimentos para implantar adutoras de água tratada e Estações Elevatórias de Água Tratada, interligando a estação de tratamento até os centros de reservação, que realizam a distribuição de água no município. Essas obras possuem valores financeiros elevados, necessitando de investimentos significativos”, destacou o professor.

Além disso, Novaes informou que a estação de tratamento no rio vai precisar ter a tecnologia necessária para garantir a qualidade da água tratada. “A água subterrânea do aquífero possui melhor qualidade. A estação deverá ser projetada para realizar o devido tratamento, deixando a água potável. Portanto, deverá possuir tecnologia para realizar o devido tratamento”, esclareceu o professor.

 


Foto Guilherme Sircili

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