Amamentar é nutrir com amor

Amamentar é nutrir com amor

Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo ao aleitamento materno

Amamentar é poder nutrir meu filho com o que existe de melhor para ele. É dar, junto com o alimento, muito amor e carinho”. A definição é de Licia Xavier de Souza, nutricionista, mãe de Arthur, Davi e Lucas. A relevância da amamentação é tamanha, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) designou o mês de agosto como o Agosto Dourado, um símbolo de incentivo à amamentação. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Segundo a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), a campanha é mais uma forma de proteger, promover e apoiar esse ato de amor e de saúde, e tem como principal objetivo sensibilizar a sociedade para a importância da amamentação, para que ela seja reconhecida como fundamental para o desenvolvimento infantil. A OMS traçou como meta alcançar o ano de 2025 com, pelo menos, 50% de aleitamento exclusivo até os seis meses de vida.

 


O médico ginecologista e obstetra Davidson Alvarenga, coordenador da maternidade São Lucas Ribeirania, afirma que a amamentação é uma alimentação tão necessária e específica para a criança, que justifica a data especial. “A amamentação protege a criança de uma série de infecções. É importante que a mãe dedique um tempo, pelo menos os seis primeiros meses após o parto, para essa questão de proteção e também do fortalecimento de vínculos com o bebê”, salienta.

 

 

Alguns obstáculos, muitos mitos

 


Licia amamentou o primeiro filho, Arthur, hoje com oito anos, durante um ano e cinco meses. Davi, de seis anos, foi amamentado por um ano e 11 meses. Lucas, hoje com cinco meses, tem no leite materno sua alimentação exclusiva. “Por ser nutricionista, sempre sonhei em amamentar. Eu consegui, mas não foi tão intuitivo como eu imaginei que seria. Logo que o Arthur nasceu, tive dificuldade em adequar a minha produção de leite”, conta Licia, que recorreu aos profissionais do Banco de Leite para orientações. Outra ajuda, segundo ela, veio do canal Amamentar É, no YouTube. Nele, a colunista Chris Nicklas compartilha informações e reflexões sobre a maternidade e os desafios nos primeiros anos de vida do bebê. Foi lá que Licia aprendeu que o medo poderia estar dificultando a descida do leite. “A informação transformou meus medos e, em alguns dias, eu estava amamentando sem a necessidade de complemento”, acrescenta.

 


Davidson ressalta que o apoio, o suporte e a orientação às mães no incentivo ao aleitamento materno devem acontecer durante todo o pré-natal, com informações sobre os cuidados a serem tomados no início da amamentação e após. “Ainda existe um medo imenso por parte das mulheres com relação à amamentação, como fissuras e a inflamação das glândulas mamárias, conhecida como mastite, além de mitos, como aumento e queda das mamas. Todas essas barreiras podem ser vencidas. O benefício que a amamentação traz para o filho, bem como o contato íntimo da mãe com a criança, superam qualquer tipo de mito ou preconceito”, enfatiza.

 


Lidia Alice Torres, pneumologista pediátrica e gestora do Setor de Ensino do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, lembra que um dos principais mitos relacionados à amamentação é o de que o leite é “fraco”. “As pesquisas mostram pouquíssimas diferenças na composição dos leites, mesmo nas mães muito desnutridas. Ou seja, não existe leite fraco”, destaca. Outro mito bastante comum é o do leite insuficiente. “Existe um mecanismo neurológico e psíquico bem regulado por hormônios, pelo qual a sucção do bebê estimula sempre a produção do leite. A sucção do bebê na primeira hora de nascimento é muito importante, bem como o contato pele a pele ao nascer. A conversa, os esclarecimentos sobre os benefícios da amamentação e a desmistificação desses preconceitos ajudam no esclarecimento, mas, é uma luta sem fim”, frisa.

 


Além dessas informações equivocadas, há a rotina diária de muitas mães que precisam trabalhar, a comodidade proporcionada pelas fórmulas prontas e a ausência de uma rede de apoio que envolva, não apenas profissionais da área médica, mas familiares e pessoas mais próximas às mães e seus bebês. “Infelizmente, vivemos em uma realidade extremamente corrida, com a dedicação não tão grande para com os filhos. Mães que trabalham, que têm dificuldades, medos e vão deixando a amamentação de lado. Acaba sendo mais prático fazer um leite de fórmula pronta”, comenta o médico. Lidia compartilha essa opinião e vai além. “Essa correria diária é seguida pelo estresse, falta de tempo, falta de paciência e interferências familiares. Além disso, a amamentação gera a necessidade da mãe permanecer sempre perto do bebê, à disposição, e muitas mães não acolhem essa ideia, sentem-se presas”, observa. Ela ressalta que a amamentação é o primeiro contato do recém-nascido com o mundo e ele se desenvolve a partir disso. “Mas, precisa ser um momento prazeroso para ambos. Se não for, passa a ser um peso para a mãe, que pode procurar subterfúgios e evitar a amamentação”, completa. 

 

Benefícios são muitos

 


Amamentar é um dos melhores investimentos para salvar vidas infantis e melhorar a saúde, o desenvolvimento social e econômico de indivíduos e nações. Lidia também aponta como um dos principais benefícios do leite materno a proteção contra infecções, já que ele possui imunoglobulinas e células de defesa do organismo que o recém-nascido não produz e, portanto, precisa receber externamente. “Há, ainda, a prevenção contra alergias. As imunoglobulinas e linfócitos do leite materno criam uma barreira que impede a penetração de proteínas estranhas que podem induzir à alergia num intestino tão indefeso como o do bebê. A colonização da pele e dos intestinos do recém-nascido por uma microbiota (flora), que evita os processos inflamatórios e a obesidade, também é propiciada pelo uso do leite materno. Existe uma verdadeira programação imunobiológica causada pelo aleitamento materno para o desenvolvimento saudável da criança”, explica.


A amamentação é, ainda, um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, importante para que ela tenha dentes fortes, desenvolva a fala e tenha uma boa respiração. Os benefícios maternos são incontáveis: a proteção contra o câncer de mama e ovário, a contração mais efetiva do útero no pós-parto imediato, o rápido emagrecimento durante o puerpério, a prevenção da obesidade e a diminuição de diabetes tipo 2 são alguns deles, segundo a médica.

 

Serviço

 

Hospitais como a Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto possuem atendimento para pacientes lactantes que apresentam dificuldades de amamentação. Na rede municipal, existe o Banco de Leite Humano de Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas FMRP/USP, que fica na Avenida Santa Luzia, 387, Jardim Sumaré. O telefone é (16) 3610.8686. 


Foto: Freepik

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