Amor e dedicação ao próximo

Através de um trabalho que alia solidariedade, educação e cultura, Julieta Taranto possibilitou que diversas crianças tivessem uma vida melhor

Algumas histórias merecem ser contadas por diversas gerações com ênfase e entusiasmo, de diferentes formas e ângulos, para servir como exemplo. Em especial, histórias de pessoas que sabem transformar o comum em extraordinário, que se doam para fazer o bem e que lutam por uma causa nobre. Tudo isso, pelo simples prazer de ajudar, de ser útil, sem esperar nenhuma recompensa, a não ser a felicidade e o bem-estar do próximo.

Solidariedade é uma das palavras costumeiramente empregadas para resumir essa proposta de vida. Termo que, apesar de estar em voga nas conversas atualmente, poucos praticam, já que não é fácil seguir esse ideal que exige, além de um amor genuíno pelo semelhante, disciplina e dedicação. Esse foi o caminho escolhido por Julieta Fernanda Sousa Taranto, presidente da Creche Modelo da Vila Virgínia em Ribeirão Preto.

O engajamento social, com foco especial em trabalhos em benefício das crianças, não é novidade na vida de Julieta. A vocação surgiu na juventude, quando cursou magistério e se formou em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia do Porto, em Portugal, seu país de origem. A influência dos pais, José Antônio e Leonor, também foi fundamental nesse processo. “Meus pais deram uma educação inquestionável tanto para mim quanto para a minha irmã, Mariazinha. Eles nos estimulavam a buscar conhecimento em todas as áreas, inclusive nas mais variadas manifestações de arte como música, dança e literatura. Além de termos essas informações para o nosso desenvolvimento pessoal, eles nos instigavam a passar isso adiante. Era a nossa maneira de contribuir, pelo menos um pouco, para que aquelas pessoas que não tinham acesso ao conhecimento buscassem um futuro melhor”, lembra Julieta.

A mudança para o Brasil, por conta do seu casamento com Eduardo Guidão da Cruz, representante diplomata do Brasil na Organização Internacional do Trabalho (OIT), não a afastou de sua missão fraternal. Logo que se instalou na nova pátria e na nova cidade, o Rio de Janeiro, Julieta trabalhou em diversas entidades assistenciais, como na Organização das Voluntárias, onde recebeu o diploma de Benemérita. Também foi Secretária Geral das Obras Assistenciais de Santa Maria Margarida, pertenceu ao Clube das Senhoras do Brasil e foi diretora social do Country Clube de Santa Tereza. Mesmo quando ficou viúva, em 1954, e se mudou para um sítio no município de Iguaba Grande com sua filha, Tânia, Julieta não parou de trabalhar e ajudou na fundação do posto de saúde da cidade.

Em 1958, casou-se com o médico pediatra Roberto Taranto, e mudou-se definitivamente para Ribeirão Preto. “Amo esta cidade. Esse município é uma ótima moradia, por inúmeros fatores. Destaque para as pessoas que aqui vivem e fazem Ribeirão Preto crescer e melhorar a cada dia”, declara Julieta, que ganhou o título de cidadã ribeirãopretana em 1982. O trabalho na comunidade para ajudar pessoas carentes continuou. Atuou na assistência social do Hospital Santa Lydia, na Assistência e Proteção à Criança, na Vila Fraternidade, na Construção do Bom Samaritano, na casa do Alvergado e na grande Feira das Nações. Em 1975, foi eleita presidente da Liga das Senhoras Católicas e da Creche Modelo da Vila Virgínia, onde exerce o cargo até hoje. “Não tenho intenção de parar tão cedo. Trabalhar com as crianças é algo sublime e minha vontade de estar com elas é renovada diariamente. Por isso, acompanho tudo bem de perto. Poder oferecer oportunidades e assistir ao desenvolvimento de cada um é inexplicável. Com pequenas atitudes, fazemos toda a diferença e, assim, auxiliamos essas crianças a encontrar o rumo certo a seguir”, revela.

Desde que assumiu a direção, Julieta reformulou toda a filosofia da creche. As ações começaram pela parte estrutural, com a construção de seis salas de aula, uma quadra de esportes, dois playgrounds, uma lavanderia equipada e uma sala de artesanato, entre outras mudanças. Hoje, o espaço acolhe cerca de 500 crianças de até 12 anos que se dividem em várias atividades, como dança, capoeira, judô, coral, flauta, violão e piano, por exemplo.

Uma equipe de voluntários qualificada cuida dos alunos em diferentes turnos. “O mais importante é que são pessoas de coração aberto, que oferecem um atendimento humano, próximo e compreensivo. Todos realmente se envolvem com as histórias das crianças que passam por lá e são parte fundamental do trabalho que desenvolvemos. Contamos também com o apoio dos pais das crianças, para darem continuidade ao nosso trabalho. Tenho muito orgulho do que conquistamos ao longo dos anos, mas ainda há muito o que fazer. Gostaria que mais pessoas se envolvessem nessa causa e promovessem a inclusão social de maneira efetiva”, afirma Julieta. Mesclando educação, cultura e entretenimento em um espaço aconchegante e repleto de alegria, a creche se tornou referência e sua abrangência ultrapassa os limites municipais, sendo considerada um modelo nacional de ensino de qualidade.

Juntamente com a paixão pelas crianças, o universo das artes ocupa espaço importante na vida de Julieta. Por isso, ela faz questão de ser sua promotora. Escritora e poetisa, tem dois livros publicados: “Se o amor germinasse”, com duas edições esgotadas, e “Nas emoções, a razão”, e participou de várias antologias. Ocupa a cadeira nº 34 da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto. Julieta também pertence a vários grupos culturais, entre eles a Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto (CPERP), e a Sociedade Alarpeana Amigos da Arte (SOARTE). “Sou apaixonada por todas as manifestações de arte. A música, a dança e a literatura fazem parte do meu dia a dia, mais uma vez, por influência dos meus pais. Como desfruto dos encantos da cultura e sei o quanto ela pode contribuir para uma evolução positiva do ser humano, levei esse meu gosto particular para a creche e os resultados não poderiam ser melhores”, explica.

Outro pilar da vida de Julieta é sua família. Mesmo atarefada com suas funções, soube equilibrar seu lado profissional com o pessoal. Muito próxima de sua irmã, Mariazinha, sua filha, Tânia, e de suas netas Patrícia e Renata, Julieta acompanhou e participou ativamente de cada etapa da vida dessas mulheres e, hoje, celebra a chegada da mais nova integrante, sua bisneta, Laura. “Minha família é muito importante para mim. Eles são minha base, minha fortaleza e minha alegria. A união do trabalho social, das artes e da minha família fazem de mim uma mulher completa e realizada”, finaliza Julieta.

Texto: Paula Zuliani
Fotos: Júlio Sian

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