Família, uma base sólida

Família, uma base sólida

Diante das tragédias diárias, resgatar o convívio das famílias, com respeito e dignidade, é o principal desafio do juiz Ricardo Monte Serra

Texto: Rose Rubini
Fotos: Beto Baptista

Funcionário público desde os 18 anos, o juiz Ricardo Braga Monte Serrat se espelha em sua experiência de vida, pautada na união familiar e na vida cristã, para conduzir os trabalhos diários à frente da 1ª Vara da Família e das Sucessões no Fórum de Ribeirão Preto. Otimista por natureza e confiante no resgate dos valores das relações humanas e da família como principal instituição, o juiz busca, em primeiro lugar, a reconciliação em seus atendimentos.

Inspirado em seu pai, Paulo Monte Serrat Filho, Ricardo revela que o caminhar com Jesus Cristo é o grande segredo para manter uma vida conjugal harmônica e feliz. As lições herdadas do pai o ajudam a lidar com as tragédias que diariamente chegam a seu gabinete e a reverter alguns casos, muitos deles, na própria audiência. Segundo o juiz, a falta de valores, o materialismo e o individualismo são os principais motivos para a desestruturação familiar. “Quando não se tem uma base emocional sólida dentro de casa, os filhos crescem sem estrutura e se abatem frente ao menor problema encontrado fora de casa”, aponta Ricardo.

De acordo com o magistrado, o equilíbrio emocional é fundamental. Por isso, não se deixa abater pelos problemas de milhares de famílias que constituem o objeto do seu trabalho e de seus esforços de reconciliação, acima de tudo, porque não permite que qualquer outro bem ou atividade tome o lugar que sua esposa e seus filhos ocupam em sua vida, logo abaixo de Deus. “Ser juiz vem depois”, frisa Monte Serrat.

Com valores extremamente aguçados e presentes em todas as ações diárias, o juiz lembra a importância que seus pais, Maria Helena e Paulo Monte Serrat Filho, tiveram em sua formação moral. “Meu pai foi um ser humano maravilhoso, que serviu a todos, especialmente aos mais humildes e necessitados, deixando somente exemplos de fraternidade e caridade”, afirma. Para mãe, só elogios. “Ela foi muito além, revelando-se um verdadeiro anjo durante a longa enfermidade que levou meu pai. É uma doce saudade”, observa.

Casado com a advogada Dionéia, tem dois filhos, Daniela e Paulo, ambos estudantes de Direito. A vida cristã, segundo Ricardo, fortalece ainda mais a relação familiar. “Nossos filhos seguiram o mesmo caminho com Deus e nossa vida é de total integração e felicidade”, revela. O esporte também integra a rotina familiar, que pratica ginástica e caratê, modalidade que Daniela e Paulo foram campeões brasileiros e integraram a seleção brasileira no Mundial da Austrália, em 2006. Em cada competição, segundo Ricardo, todos participam de várias formas. Segundo Monte Serrat, sua melhor experiência esportiva foi formando equipe com os filhos em torneio misto. “Vencemos um campeonato interestadual de caratê, enquanto a Dionéia nos filmava e fotografava, registrando cada momento”, relembra.

Com 36 anos de vida pública, sua trajetória na Justiça começou com a aprovação no Curso de Formação de Delegados de Polícia da Academia de Polícia Civil do Estado de São Paulo, aos 21 anos de idade, indo atuar em Serrana. Aos 23, foi o terceiro colocado no concurso para ingressar na carreira de juiz de Direito. Por convocação, integra a 30ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo e é membro da terceira turma do Colégio Recursal Cível da região de Ribeirão Preto.

Quando solicitado, exerce também a função de juiz eleitoral de Ribeirão Preto, tendo presidido três eleições. No último pleito eleitoral, promoveu a campanha “Voto: O Poder dos Jovens”, que triplicou o número de eleitores de 16 e 17 anos na cidade. Como delegado, foi diretor do Presídio Feminino de Serrana, onde criou o programa de recuperação espiritual e psicológica das presas e, com o auxílio do Senac, conseguiu que todas se formassem e fossem diplomadas em cursos profissionalizantes.

Na Escola Paulista da Magistratura, foi docente orientador, coordenador de curso e de estágio, além de diretor do Centro de Estudos Judiciários. Iniciou na área acadêmica em 1979, como professor de Direito da Academia da Força Aérea Brasileira, em Pirassununga, e lecionou também em duas universidades ribeirãopretanas. É presidente da Seção do Estado de São Paulo do Instituto dos Magistrados do Brasil (IMB) e foi eleito membro nacional do Conselho Fiscal do Instituto dos Magistrados do Brasil (IMB), onde cumprirá o sexto mandato consecutivo. Foi diretor de comunicações da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e do Departamento do Interior da Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis) em duas gestões. No sistema dos Juizados Especiais, foi presidente do Colégio Recursal Cível da 41ª Circunscrição Judiciária, além de criador e responsável pelo Juizado Especial Cível de Dumont. Também reativou e dirigiu o Juizado Especial Cível de Guatapará.

Aliando intensas atividades culturais em seu currículo, é membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas, e integrou a Associação Latino-americana de Juristas (entidade ligada à Organização dos Estados Americanos), o Colégio Judiciário Nacional dos Estados Unidos e também a Associação Nacional de Administração de Tribunais dos Estados Unidos. É mestrando em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), participou de curso de aperfeiçoamento para juízes no National Judicial College (Reno, Nevada, EUA). Participou, ainda, de intercâmbio judiciário realizado na Universidade de Kent, em Canterbury, Inglaterra, e de mesa de debates no Centro de Estudos Judiciários de Portugal, em Lisboa.

Entre suas paixões culturais, Ricardo destaca o trabalho desenvolvido em Dumont e em Guatapará, a criação do programa “Escolas Afilhadas”, que implantou programas culturais, além de ter reformado e ampliado uma escola de Guatapará. O juiz também criou as bibliotecas dos Fóruns de Monte Azul Paulista e Ribeirão Preto e o primeiro boletim regional da Associação Paulista de Magistrados e a primeira revista de um Centro de Estudos da Escola Paulista da Magistratura.

Amante da arte literária escreveu para alguns periódicos, integrou o Conselho Editorial da revista “Decisão”, da Associação Paulista de Magistrados, fez parte de bancas examinadoras em instituições universitárias, promoveu diversas palestras, simpósios e encontros internacionais. O reconhecimento profissional veio em forma de homenagens, como os títulos de Cidadão Honorário de Ribeirão Preto, de Monte Azul Paulista, de Paraíso, de Serrana, de Guatapará e de Dumont. Recebeu de câmaras municipais, títulos de honra ao mérito e diploma de mérito cívico, entre outras honrarias.

Sua experiência de vida pessoal e profissional o levaram a considerar que a desagregação familiar, que está na base da maioria dos casos, é gerada pelo materialismo, pela falta de amor e pela irresponsabilidade que prevalecem nos dias atuais. Para o juiz, enquanto hoje todos se propõem a salvar o mundo, o maior serviço que alguém pode prestar à humanidade seria criar uma família feliz. Para comprovar sua ideia, cita os exemplos de Hitler e Stalin. “Se tivessem sido criados em famílias estruturadas e tivessem aprendido a cultivar ideais positivos e elevados, provavelmente 40 milhões de pessoas não teriam sido sacrificadas na primeira metade do século passado”, argumenta.

Com três Varas da Família e mais de 20 mil processos de separações, ações de alimentos e guarda de filhos em andamento no Fórum em Ribeirão Preto, a busca em ajudar na re-estruturação dessas famílias conta com apoio de um setor psicossocial, composto por uma equipe multidisciplinar, como psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, entre outros.

O setor de Conciliação contribui sensivelmente para agilizar o trabalho e já solucionou em tempo recorde mais de dois mil processos. Na instituição, segundo ele, são comuns ações promovidas contra pais que não se comovem com as privações enfrentadas por seus filhos por darem maior importância às suas próprias necessidades. Nas audiências de conciliação, o juiz explica que o filho não teve o direito de escolher quem gostaria de ter como pai ou mãe. “Ele nem mesmo teve o direito de escolher se queria nascer ou não. Sendo assim, seus pais, que fizeram a escolha em seu lugar, têm a obrigação de enfrentar qualquer sacrifício para que ele não sofra”, conclui. 

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