
Interligando os pontos
Com um dom natural para ‘construir pontes’, o presidente da Aeaarp e diretor do SindusCon-SP, Fernando Junqueira, chega aos 70 anos no auge da realização de projetos e do desejo de melhorar Ribeirão
O primeiro trabalho do engenheiro civil Fernando Paoliello Junqueira foi construir estradas o que, metaforicamente, resume sua vida profissional. “Para construir uma boa estrada, há que se ter uma boa base. O projeto se inicia com planejamento e a terraplenagem assume uma função de base, para só depois se chegar à pavimentação e sinalizações verticais e horizontais”, explica Fernando.
Carregando o sobrenome de uma das mais tradicionais famílias do interior paulista e mineiro — Junqueira —, Fernando traz no sangue um espírito de liderança que o conduziu, de estagiário a empresário da construção civil, a uma posição de construir pontes para dialogar com a sociedade.
O ramo original do Junqueira de Fernando é de Luís Antônio, cidade distante cerca de 50 km de Ribeirão Preto, que se originou a partir da fazenda de seu bisavô e, por isso, recebeu seu nome: Coronel Luiz Antonio Junqueira.
Neto de produtor de café do início do século XX, Fernando levou para a vida adulta pouco mais que o sobrenome. Em 1956, quando nasceu, sua família morava na Fazenda Nova Junqueira, depois mudaram-se para Ribeirão Preto, para uma casa na Rua Conde Afonso Celso, onde praticamente terminava a cidade. “Em frente era só pasto”, recorda o engenheiro.
A terraplenagem da sua vida começa na escola Cônego Barros, onde sua primeira professora, a inesquecível Dona Leda, apresentou-o aos números. Depois vieram o Guimarães Júnior, o COC, um cursinho pré-vestibular em São Paulo até, finalmente, a faculdade de engenharia no Centro Universitário Moura Lacerda, em 1975.
Sedimentação institucional
A oportunidade de estagiar na obra da construção da sede do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), antes mesmo de passar pela disciplina correspondente a essas obras na faculdade, foi o que o despertou em Fernando o interesse pela prática da engenharia em grandes empreendimentos. “Levantava cedo e ia para o canteiro antes mesmo de os operários chegarem. Eu queria aprender”, recorda. Fernando, porém, foi além de aprender. Somando mais de 600 obras em seu currículo — industriais, residenciais, comerciais e de infraestrutura —, o engenheiro consolidou a base da sua trajetória na prática da profissão por todo o país. “Preparei o trecho em uma rotina intensa de viagens a trabalho pelo Brasil no início da vida profissional. Estava sempre em alguma obra fora, fosse na Bahia, em Minas Gerais ou em São Paulo. Fui para todo lado”, ressalta.
Essa experiência sedimentou seu caminho para a Construplan, em 1986, e, mais tarde, em 2000, para a formação de uma outra empresa — a Perplan, fruto da fusão com a construtora Perdiza Villas Boas, e da qual hoje é sócio. Nessa construção profissional, que dá sentido à vida para Fernando, o trecho ao qual se dedica hoje – e cultiva –, é o institucional. Às vésperas de completar 70 anos de vida, o empresário vê a sua estrada tomar rumos importantes, à frente da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), onde é presidente desde 2023, e do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), onde acaba de ser conduzido à diretoria regional, depois de dois anos como vice-presidente do interior.
ENTREVISTA
Como você avalia sua história hoje?
Eu sou um cara que nunca teve preguiça. Meu dia sempre começou cedo, e é assim até hoje. Quando fiz engenharia, no Centro Universitário Moura Lacerda, agarrei todas as oportunidades que me apareceram. As pessoas, às vezes, pensam que por causa do meu sobrenome, que é de uma família muito conhecida sim, as coisas foram fáceis para mim, mas não foram. Nada me foi dado de mão beijada e, para ser bem claro, eu passei a desfrutar da vida, com viagens por exemplo, quando eu já tinha 40 anos e uma carreira profissional consolidada. Essa experiência eu gosto de compartilhar com a turma que é mais jovem, porque hoje o mercado é diferente, mais rápido, mais tecnológico, porém, nada substitui a vivência, a experiência e o relacionamento.
O que te atraiu para a engenharia?
Dois dos meus tios Dr. Marcio e Hênio Tavares já eram engenheiros. E é uma carreira muito interessante e dinâmica. Tanto que três dos meus quatro irmãos também se formaram em engenharia e foi essa profissão que me deu tudo na vida. Nasci em uma boa família, sim, mas não em ‘berço esplêndido’. Quando eu trabalhava no DER, ainda como estagiário e bem no começo da faculdade, eu queria sempre mais. Foi então que passei a chegar bem cedo, me encontrava com o mestre de obras e ia aprendendo a ler plantas, a conhecer o processo de construção de rodovias e edificações. Pegava a perua junto com os operários e ia para obra. É vivendo que a gente aprende.
Você hoje tem uma atuação destacada junto a sociedade civil organizada, como se interessou por este caminho?
Eu tenho convicção de que sozinho não fazemos nada. E, veja bem, aprendi isso lá no começo da minha vida, com a minha família e, principalmente, com as pessoas com quem convivi no trabalho. Nós fazemos parte de uma engrenagem complexa, tudo que começa em você ou em mim reverbera para o mundo. Por isso, precisamos estar perto das pessoas que comungam interesses e contribuem com o bem coletivo.
Como você chegou na AEAARP?
Essa é uma história que me orgulha. Tornei-me associado um pouco depois de sair da faculdade. Fui conhecendo as pessoas, participando dos eventos e um dia me convidaram para a diretoria. A AEAARP, diferentemente da Construplan e da Perplan, não é uma empresa que tem seus objetivos comerciais muito bem alinhados. A AEAARP é uma associação que reúne profissionais do mesmo setor – Engenharia, Arquitetura e Agronomia –, que formam um bloco sólido, capaz de ter voz em várias instâncias. Os objetivos dessa organização não são os mesmos de uma empresa, mas contribuem coletivamente para que novos negócios floresçam, que carreiras se aperfeiçoem e para que os profissionais tenham um ambiente amigável e seguro de troca de ideias e aperfeiçoamento profissional. E isso faz muita diferença.
Pode dar um exemplo?
No setor público, por exemplo, a associação tem uma história muito importante com a cidade, desde a sua fundação, em 1948, até hoje. Eu acho interessante que lá em abril de 1948, quando a associação surgiu, um engenheiro, o Galileu Frateschi, foi designado para representar a entidade nos debates sobre o Código de Obras, que estavam em curso na Câmara Municipal. Depois disso, praticamente todas as políticas públicas da cidade têm alguma participação da associação. Nos interessa contribuir tecnicamente nesses debates, pois é desta forma que valorizamos os profissionais habilitados no Sistema Confea/CREA e no CAU — que são os conselhos de classe de engenheiros, arquitetos, agrônomos e geocientistas. E esta é uma instituição tão sólida que, mesmo depois de mais de 70 anos de fundação, segue fazendo a diferença na sociedade. Os conselhos consultivos do município têm representantes da AEAARP em setores como meio ambiente, patrimônio e urbanismo, entre outros. Somos convidados para discussões importantes e sempre participamos. Nestes quase dois anos como presidente, abrimos a AEAARP para conversar com o poder público sobre mobilidade, abastecimento de água e meio ambiente, só para citar três exemplos.
Em relação ao meio ambiente, chamou bastante a atenção o projeto Ribeirão Floresta, não é mesmo?
Sim, é uma iniciativa na qual damos um passo à frente na discussão. Nós fomos para a rua, literalmente, falar sobre floresta urbana e viabilizar o reflorestamento de um bairro, que é o Jardim São Luiz, onde está a nossa sede. É um projeto fantástico, coordenado pelo engenheiro agrônomo José Walter Figueiredo, no âmbito da diretoria de agronomia, e também do engenheiro agrônomo Leonardo Barbieri. Nós reunimos pessoas da sociedade civil interessadas no tema, promovemos seminários no decorrer do ano passado que explicaram a importância da arborização e, mais do que isso, compartilharam técnicas para que isso aconteça de forma sustentável e saudável, para as pessoas e as árvores. Porque não basta abrir uma cova e colocar a muda ali. O espaço que vai receber a árvore precisa ser adequado, o manejo, a poda, o cuidado, precisam ser corretos para que ela cresça de forma saudável e não estoure a calçada – como a gente vê muito por aí –, e sobreviva por muitos anos, assim como a AEAARP evoluiu firme e forte nessas mais de sete décadas.
Você tem também uma atuação destacada no SindusCon-SP. Qual é o significado que isso tem para você?
Esta é a segunda vez que assumo a diretoria regional do sindicato, que é bem diferente da associação. No sindicato o diálogo é como empresário da construção civil, reunindo empresários em âmbito regional. São centenas de empresas, em mais de 30 municípios, que se fortalecem por meio do sindicato. O SindusCon-SP oferece muitas oportunidades para as empresas, como análises conjunturais e ferramentas institucionais, para que os negócios evoluam de forma saudável, oferecendo o que há de melhor para a sociedade.
O que você espera deste ano, que será o que você completará 70 anos?
Eu espero não parar e aprofundar essa atuação institucional. Acredito muito no diálogo, sem cores ou prevalência de algum ponto de vista que não seja o do interesse coletivo. Tenho convicção de que fiz muitas conquistas, dos pontos de vista pessoal, profissional e empresarial. À essa altura, fazendo uma revisão sincera, posso dizer que nada caiu do céu. Sempre foi trabalho e dedicação. É assim na empresa da qual sou um dos sócios – e o sucesso da CP Construplan e Perplan é o exemplo perfeito de como juntos somos mais fortes –; é assim na AEAARP, onde temos uma diretoria muito dedicada e afinada com os interesses dos profissionais e da cidade; e também é assim no SindusCon-SP, um sindicato que por si só é uma marca forte e consolidada, de um peso incrível na sociedade. E, é claro, é assim também na minha família, com a minha esposa, Maria Inês de Lazari, com quem construí também uma história de sucesso. Enfim, acho que isso sintetiza o quanto eu gosto e valorizo o fato de estar perto das pessoas e construir projetos coletivos.
Como se vê nos próximos anos?
Trabalhando pela minha cidade. Eu tenho um amor profundo por Ribeirão Preto. Quando recebi o título de Cidadão Emérito, conferido pela Câmara Municipal em 2022, eu disse uma frase que é muito cara para mim: ‘uma Ribeirão Preto bonita, segura, com saúde, educação, mobilidade, respeito, com arte, enfim, uma cidade feliz; dessa forma eu me comprometo a auxiliar no que for preciso para tudo isso, porque eu amo minha cidade’. É isso o que eu desejo, trabalhar pela cidade, institucionalmente, construindo pontes de diálogo entre setores da sociedade civil organizada. Acho que esta é uma vocação, além da engenharia.
Colaboração: Daniela Antunes Foto: Lucas Nunes