
Frio e vírus respiratórios elevam risco entre idosos em Ribeirão Preto
Subnotificação mascara o fato de a população idosa ser a mais vulnerável aos surtos de síndromes respiratórias, típicos desta época do ano
Toda chegada do outono em Ribeirão Preto traz consigo as primeiras frentes frias do ano, que, além de abrirem a temporada de promoções de inverno no comércio e a de sopas e caldos em residências e restaurantes, provocam surtos de síndromes respiratórias dos mais variados níveis de gravidade e vírus causadores. Apesar de a população 60+ não representar o maior número de internações hospitalares por Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), na prática, ela segue como a mais vulnerável. “Citamos muito os idosos por causa da mortalidade e da repercussão que essas síndromes têm para eles”, pontua o secretário municipal de Saúde de Ribeirão Preto, Maurício Godinho.
De acordo com dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep), que norteiam as ações da Secretaria Municipal de Saúde na prevenção e combate às síndromes respiratórias, de janeiro deste ano até 1º de junho último foram registradas 635 internações por SRAG, das quais 42 culminaram em óbitos (veja quadro ao lado). Esses números, porém, mascaram o volume total de ocorrências de todos os tipos de síndromes –incluem resfriados comuns e gripes comuns a pneumonia, passando por bronquites e afins – pelo fato de os casos menos graves serem tratados apenas na rede primária, sem chegar aos hospitais.
O próprio secretário admite uma subnotificação. “Quando falamos de síndromes de forma geral, é muito maior do que isso [referindo-se ao número de internações por SRAG, o tipo mais grave], mas acaba não sendo notificado, porque não é para tanto”, diz. Ele garante, porém, que o dado é suficiente para que a Vigilância faça uma análise estatística norteadora, como a de que, proporcionalmente, as síndromes respiratórias estão mais letais que a dengue, que registrou, em período equivalente, 19 mil casos e apenas 6 mortes.
A subnotificação também mascara o fato de que as síndromes respiratórias castigam especialmente os idosos. “Entre eles, a SRAG é a grande vilã”, acrescenta o secretário. Ele informa que há três vírus principais circulando neste momento no município. Um deles é o Sincicial, que preocupa por acometer mais crianças, provocando bronquiolites. “Os outros dois em alta circulação são da Influenza e da Covid. E o campeão deles é o da Influenza. Neste momento é o que mais nos preocupa, a nós e ao Estado de São Paulo inteiro”, declara.
ILPIs
Sazonais, os vírus da influenza também são os que mais fizeram vítimas em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) locais, este ano, segundo profissionais da área. Entre eles o fisioterapeuta e proprietário das seis unidades do Florença Residence – instituição privada –, João Catulino Andrade. Ele confirma surtos de síndromes respiratórias entre os hóspedes, mas prefere não divulgar números de casos e óbitos.
Ana Paula Oliveira, coordenadora de Enfermagem e vice-presidente da Sociedade Espírita Cinco de Setembro “Casa do Vovô”, conta que nem todas as medidas preventivas implementadas pela entidade, a cada outono, evitaram o surto entre os internos neste ano, em que já foram registradas 11 hospitalizações e duas mortes. Ela acredita que a Casa do Vovô tenha sido a primeira ILPI a receber campanha de vacinação in loco este ano, em 11 de abril. Ao registro dos primeiros casos, as visitas na instituição também foram restritas apenas a poucos parentes mais próximos, sob rígidas regras sanitárias. “A influenza é o que está pegando e acho que muito mais forte neste ano que no anterior”, lamenta a enfermeira.
Na rede primária de saúde, o secretário Godinho informa haver um protocolo específico para idosos identificados com síndrome respiratória, que consiste em isolá-los em uma sala de maior complexidade. Mas ele frisa que, na falta de método mais efetivo, a prevenção da vacina ainda “é a coisa mais importante que se pode fazer” contra os vírus da gripe. Neste momento, aliás, todas as unidades de saúde municipais estão oferecendo a vacina. “Seguimos a recomendação e o calendário do Ministério da Saúde com a vacina da Influenza: começamos com alguns grupos específicos e depois liberamos para toda a população. Até agora, recebemos mais de 150 mil doses e não há perigo de faltar, porque o Ministério da Saúde vai distribuindo conforme a demanda, até por conta do armazenamento”, diz ele.
Até a última semana, porém, a cobertura vacinal no município não havia passado dos 35%. Na intenção de aumentá-la, o secretário informa que a pasta continuará com campanhas de vacinação em unidades estratégicas, aos finais de semana, além de todas manterem suas salas de vacinação com doses à disposição até o final do inverno, pelo menos. O objetivo é atingir, no mínimo, 90% de cobertura. Do contrário, os vírus continuarão em alta circulação, ameaçando principalmente a população 60+.
Dentro e fora das estatísticas
A dona de casa aposentada Izaura Medeiros Carvalho, 78 anos, e sua irmã mais velha – cujo nome será preservado – estão entre os idosos vítimas de síndromes respiratórias deste ano. A diferença é que a irmã, de 70 anos, entrou na estatística de internações por SRAG e seguia no hospital até a última sexta-feira. Já dona Izaura, que foi diagnosticada com pneumonia pela segunda vez este ano, há apenas três semanas, foi liberada para se tratar em casa após atendimento em uma unidade de saúde. “Tomei injeções, corticoide, fiz aerossol e estou usando aquela bombinha [Aerolin] para o pulmão. Para a tosse, estou tomando xarope”, conta. Ela acredita que a covid a deixou mais vulnerável a síndromes respiratórias e que o tempinho frio contribui para sabotar sua imunidade, mas está decidida a se cuidar e prevenir mais contra os vírus. “Teve um dia que eu passei mal a ponto de me faltar o ar, mas já estou melhorando. Se Deus quiser, não vou deixar me pegar de novo”, promete-se.SIl
Silvia Pereira