A saga de Valentina, a valente
* Imagem meramente ilustrativa

A saga de Valentina, a valente

Ela enfrentou dois tratamentos consecutivos para diferentes tipos de câncer: de tireoide e de mama e enfrentou tudo com fé e positividade

Passar por um tratamento de câncer já é difícil o bastante. Valentina (nome fictício) passou por dois consecutivos, para diferentes tipos de tumores, mas com muita tranquilidade e, acima de tudo, amparada por sua fé. “Sou valente”, diz, justificando inclusive a escolha do nome fictício escolhido para identificá-la na reportagem “O dilema de pais com câncer”, publicada na edição de digital da Revide deste 19 de julho.

 

Ela conta que fazia acompanhamento de um nódulo identificado em sua tireoide há anos, mas o negligenciou no intervalo entre 2018 e 2022, em que engravidou duas vezes – perdeu a criança na primeira, mas a segunda lhe trouxe sua caçula. Os fatores que a levaram a retomar o acompanhamento, àquela altura completamente apagado de sua memória, só sua fé explicam: “primeiro meu chefe, que não tem o hábito de dar de férias em final de ano, resolveu me conceder. Como estava tudo em dia com os médicos das minhas filhas, lembrei que fazia tempo que eu não ia ao endocrinologista e marquei. O resultado do exame de imagem que eu estava devendo mostrou que o nódulo que acompanhava estava do mesmo tamanho, sem problema algum, mas que surgiu um novo, menor”, conta.

 

Feita a punção, o resultado da biópsia do novo nódulo o identificou como um carcinoma papilífero, um dos tipos de câncer de cabeça e pescoço, alvo da campanha Julho Verde, que visa a conscientizar sobre a importância da investigação e diagnóstico precoce dessa modalidade silenciosa de tumor [leia mais a respeito na entrevista desta edição]. Imediatamente Valentina foi encaminhada para um cirurgião de cabeça e pescoço, que apresentou as opções de tirar apenas metade da tireoide ou a glândula inteira. Acabaram decidindo juntos pela retirada integral. E como durante a cirurgia foram detectados outros nódulos menores, não detectáveis nos exames de imagem, ela ainda teve que passar por sessões de iodoterapia – a quimio para a tireoide.

 

Novo susto

Passados dois meses do final do tratamento, Valentina se recuperava bem em casa quando, assistindo a um filme com o marido, sua mão apalpou aleatoriamente uma de suas mamas, encontrando o que parecia ser outro nodulozinho. “Parece que foi Deus que colocou minha mão diretamente ali. Apalpei a outra mama para comparar e não tinha nada. Como eu tinha prótese e precisava fazer ultrassonografia anualmente, decidi já marcar. O médico também pediu outros exames. Em 15 dias eu já estava com diagnóstico de câncer de mama”, lembra.

 

Vieram, então, novos exames. Um deles para investigar o tipo de tumor – “porque eles vêm com nome e sobrenome”, brinca ela hoje. Outro, que Valentia fez questão de procurar um geneticista para pedir, foi para investigar se suas células tinham pré-disposição a desenvolver câncer. “Esse exame vai para os Estados Unidos e demora de quatro a seis meses para ficar pronto, porque não tem no Brasil. O convênio, graças a Deus, cobriu. Mas eu queria que ficasse pronto antes da minha cirurgia de mama, porque dependendo do resultado, eu poderia decidir por tirar só um quadrante ou as duas mamas”, explica.

Valentina tirou só o quadrante e o silicone. “Graças a Deus foi o que bastou”, diz, pois o resultado da investigação genética descreveu seu carcinoma como de origem hormonal, favorecido pela liberação de hormônios femininos, ou seja, não demandava a solução radical escolhida pela atriz Angelina Jolie, por exemplo. E durante a cirurgia, foram identificadas células comprometidas também nos linfonodos (espécies de filtros de substâncias nocivas espalhados por nosso organismo) das axilas, também não detectáveis nos exames de imagem. A biópsia mostrou que, apesar de pequenos, eram de desenvolvimento rápido no caso de Valentina. Foi necessário, então, fazer um esvaziamento, que retirou 12 nódulos, dos quais apenas quatro era metastáticos. “Pelo fato de as células terem invadido a axila, ainda tive que fazer quimioterapia por segurança. Fiz 16 [sessões] – 12 brancas (menos agressivas) e quatro vermelhas (mais agressivas)”, conta.

 

Positividade

A auxiliar administrativa orgulha-se de ter enfrentado tudo de forma muito positiva. “Sempre achei que Jesus me curou antes mesmo de me dar a doença e não me questionei em nenhum momento: ‘por que aconteceu comigo?’. Meus patrões pagaram para mim aquela touca que impede o cabelo de cair, mas ele ficou bem ralinho. Com isso as minhas filhas não perceberam a gravidade do quadro. Viram que eu estava indo bastante aos médicos e tudo o mais, mas eu dizia que ia igual a elas”, diz.

 

Valentina optou por não contar sobre o câncer às filhas porque as considerou muito pequenas para lidarem com um assunto tão delicada. Também não contou para toda a família, pois quis preservar de preocupação os de mais idade e também limitar a atenção sobre si mesma, que precisava de tranquilidade. “Até porque meu foco sempre foi a saúde e viver, viver, viver. Eu acredito muito em energia do pensamento, então queria energias boas perto de mim. Não queria ninguém me olhando como vítima e coitadinha, tipo: ‘ai meu Deus, agora ela vai morrer’”, afirma.

 

Prova de que acreditava piamente em sua recuperação é que a auxiliar administrativa optou por não se afastar pelo INSS. Mesmo com o atestado de saúde com validade de um ano, quis trabalhar o quanto pôde. Quando passava pelas sessões mais fortes de quimio, não conseguia trabalhar de segunda, terça e quarta, mas ia na quinta e na sexta”, lembra. E terminada a quimioterapia, fez nova cirurgia no quadrante da mama para outra biópsia. Depois disso fez outras 25 sessões de radioterapia.

 

Atualmente, Valentina segue só com tratamento hormonal preventivo, de três em três meses. O último, realizado em julho, acusou tudo normal e ela segue "muito bem, obrigada!".


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