Mães pesquisadoras: Ana Maria de Freitas Pinheiro

Mães pesquisadoras: Ana Maria de Freitas Pinheiro

Mãe dos gêmeos Aurora e Tomás, de 1 ano e 3 meses. Pesquisadora finalizando mestrado na área de Ciências Farmacêuticas

Nascida em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Ana Maria de Freitas Pinheiro veio para Ribeirão Preto em 2012, para estudar Química na Universidade de São Paulo (USP), e ficou por uma série de motivos. Conheceu o namorado por aqui e, após se formar, em 2018, foi trabalhar em uma indústria ribeirão-pretana, na qual permaneceu por três anos. Resolver iniciar um mestrado um pouco antes de a pandemia de coronavírus chegar ao Brasil, em 2020, o que contribuiu para o atraso em sua conclusão – está finalizando neste semestre.


Em 2022, Ana Maria foi morar com o “namorido” e logo em seguida engravidou. Nenhum dos dois suspeitaram de gêmeos, pois não tinham notícias de outros casos nas duas famílias. “Foi um susto quando descobrimos”, lembra. Aurora e Tomás nasceram em 3 de fevereiro de 2023. Como o marido não podia ficar faltando ao trabalho, a mãe “de primeira viagem” teve a sorte de contar com muita ajuda da mãe e da sogra, que vieram várias vezes a Ribeirão para ajudá-la com as crianças. 


Ana Maria já era, então, funcionária da USP, que garante seis meses de licença-maternidade, o que conflita com os quatro meses autorizados pela Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo), que paga sua bolsa de estudos. Durante o período, conseguiu acostumar os gêmeos a serem amamentados juntos, um em cada peito. Quando chegou o momento de deixá-los na creche, teve que fazer a introdução alimentar e deixar mamadeiras com fórmulas para para complementar a nutrição dos bebês. Achou a mudança – do peito para as mamadeiras – brusca, mas não havia outra escolha.


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Por sorte, sua readaptação ao trabalho se deu de forma gradual, graças ao orientador de seu mestrado, que entendeu a rotina complicada de uma mãe com gêmeos. Até permitiu que ela cumprisse um aparte do período de trabalho em casa, nas primeiras semanas. Assim pode fazer a adaptação das crianças à creche com relativa tranquilidade, ao menos no ano passado. Neste, porém, a adaptação a uma nova creche foi mais difícil para Aurora e Tomás, que vinham de passar as férias inteiras “colados” à mãe. Foi preciso que Ana Maria passasse duas semanas acompanhando-os, por meio período, até se acostumarem ao novo ambiente. 


Atualmente na reta final de seu mestrado, Ana Maria segue cansada pela jornada dupla – tripla se considerados os afazeres domésticos. Em um dia normal de semana, por exemplo, quando chega em casa do trabalho, ela tem que dar conta de amamentar os gêmeos, dar comida, banho, trocar fraldas, colocá-los pra dormir, cuidar da casa e ainda planejar o dia seguinte. E como eles ainda acordam de madrugada para mamar, continua dormindo mal. “Sinto que o dia tem poucas horas para eu conseguir fazer tudo. Vivo com a sensação de que não consigo me dedicar direito a uma coisa nem outra”, desabafa.


Mesmo assim, esta mãe-pesquisadora considera-se com sorte por atuar dentro da universidade, pois sabe que em outros trabalhos a licença-maternidade seria menor, a pressão por resultados maior e as demandas da maternidade as mesmas. “Eu sei muito bem como funciona! A ameaça de demissão paira sobre as cabeças das mães que têm de sair do trabalho pra levar um filho ao médico, por exemplo.  E no primeiro ano de um bebê, ele precisa ser levado ao médico todos os meses, mesmo quando está tudo bem, para avaliar peso, altura, etc.”, comenta.
Ana Maria também duvida que na iniciativa privada teria um chefe tão compreensivo quanto foi seu orientador do mestrado. “Mas claro que isso tudo depende muito do orientador, né?”. Por tudo isso, ela não se arrepende de ter engravidado e nem do momento em que isso ocorreu. “Apesar de tudo, a gente ama muito esses bebês. Estamos aprendendo muito com eles todos os dias”, derrama-se.

Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?


“Conciliar pesquisa e maternidade 24h demandam muito tempo e dedicação. Na minha preciso realizar muitos experimentos e analisar diversos dados, o que demanda bastante tempo do meu dia. Como meus filhos ainda são bebês, necessitam de muitos cuidados, atenção e educação. Isso sem falar dos afazeres da casa e dos cuidados a nós mesmas, que fica mais negligenciado. Por isso sempre me vem o sentimento de que estou em falta com algum dos dois papéis.”

 

Confira a segunda matéria desta série neste link.

 


Foto: Luan Porto

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