Mães pesquisadoras:  Evandra Strazza Rodrigues Sandoval

Mães pesquisadoras: Evandra Strazza Rodrigues Sandoval

Mãe do Gabriel, de 9 anos. Pesquisadora em Imunohematologia e Virologia

Natural de Casabranca, Evandra Strazza Rodrigues Sandoval, 45, sempre gostou da disciplina de Biologia. Por isso veio para Ribeirão, em 2001, cursar Ciências Biológicas no Centro Universitário Barão de Mauá. Como ocorre muito, acabou ficando. “Casabranca é uma cidade pequena, então o campo de trabalho não é tão desenvolvido. Depois também comecei a namorar”, justifica.


Ela conheceu o marido na época da faculdade, quando trabalhava em um comércio de Ribeirão. Namoraram anos, enquanto ela fazia mestrado em Clínica Médica (2006), e decidiram se casar em 2010, quando ela iniciava o doutorado em Biociências aplicadas à Farmácia, concluído em 2014. Foi mais ou menos quando o casal começou a planejar o aumento da família. Gabriel chegou em 2015, quando Evandra já havia passado de bolsista a tecnologista e pesquisadora contratada do Hemocentro de Ribeirão Preto. 


Contou com seis meses de licença-maternidade pelo Hemocentro, mas, como ocorre em muitos outros casos, a instituição de fomento que paga sua bolsa autorizou apenas quatro. Ao final do período, sua sogra concordou em cuidar de Gabriel enquanto ela trabalhava, então ele não precisou frequentar creche antes de completar 1 ano e 8 meses.

 

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A retomada da pesquisa não foi tranquila. “No período de amamentação, é lógico que você não tem como produzir nada científico. Então, quando volta ao trabalho, precisa começar a se inteirar do que aconteceu durante sua ausência, rever os fatos, ver o que mudou na tecnologia utilizada, porque a gente trabalha com coisas que se atualizam muito rápido. Então até você voltar a produzir um trabalho científico na mesma velocidade de antes, demora”, afirma. 


Foi quando começou, para Evandra, uma pressão interna para provar que, mesmo sobrecarregada pelas novas obrigações de mãe, podia voltar a ser a mesma profissional de antes. Tarefa difícil considerando que toda pesquisadora leva trabalho para casa. Ainda assim, em 2019 ela decidiu submeter uma proposta de pós-doutorado à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que foi aceita. “Mas aí veio a pandemia e eu tive que vivenciar tudo junto e ao mesmo tempo: os diagnósticos [de covid], o pós-doc e a maternidade”, conta ela, que integrou a equipe encarregada de desenvolver os testes de detecção da doença. “Foi um trabalho em conjunto com a equipe da professora Simone Kashima [também nesta reportagem]. Nós fomos um dos primeiros aqui a aplicar a ferramenta molecular para análise dos positivos. Quando a doença chegou aqui, a gente já tinha uma equipe preparada para fazer os diagnósticos”, lembra Evandra.


Foi uma fase de difícil, de trabalho intenso, tanto para a mãe quanto para a pesquisadora. Em plena quarentena, era difícil para Evandra encontrar com quem deixar o filho, que começava a ser alfabetizado à época. Até conseguir autorização para entrar 1h30 mais tarde – 9h30, em vez de 8h –, não conseguiu acompanhar as aulas online de Gabriel. Em contrapartida, chegava a cumprir jornadas de 10 horas de trabalho. Afinal, era uma emergência mundial!


Mas como tudo passa, aquela fase também passou. Hoje com 9 anos Gabriel, está mais autônomo, mas ainda cobra muita atenção, principalmente quando a mãe-pesquisadora leva trabalho para casa. “É uma coisa incrível! Quando estou em casa sem trabalho daqui para terminar, ele até quer brincar, mas parece que não tanto quanto quando eu tenho que concluir algo”, comenta.
A principal linha de pesquisa em que Evandra trabalha atualmente é Imunohematologia: Avaliação molecular de antígenos eritrocitários. Com tanto a fazer todos os dias, acha mais difícil administrar o cansaço físico do que o mental – lida com ambos. “Se você está mentalmente cansada, sentar e brincar com seu filho é uma delícia. Traz paz... É muito gostoso! Tira qualquer cansaço mental. Mas se você está fisicamente cansada, não há nada que ajude”, declara.

 

Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?

 

“A pesquisa científica tem como objetivo novas descobertas e soluções de problemas da sociedade, exigindo do pesquisador um aprendizado contínuo. Por isso é comum pesquisadoras necessitarem de horas extras, por exemplo, no período da noite, para preparar uma aula, ler um artigo científico ou se atualizar em uma nova tecnologia. E este período é o único em que a mãe pode ficar com os filhos, dar atenção, fazer uma atividade ou acompanhar seu desenvolvimento.” 

 

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Foto: Hugo Saponi

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