Mães pesquisadoras: Danielle Rocha Pinho Barros

Mães pesquisadoras: Danielle Rocha Pinho Barros

Mãe do Pedro, de 2 anos e nove meses. Pesquisadora em Ciências Farmacêuticas

Entre as mães-pesquisadoras desta edição, a farmacêutica bioquímica Danielle Rocha Pinho Barros, 33 anos, é a única a se considerar ribeirão-pretana – apesar de ter nascido em Passos (MG), veio para a cidade com apenas nove meses de idade e aqui cresceu e vive até hoje. Desde a graduação, iniciada em 2011, ela sempre quis ir para o mercado de trabalho. Fez apenas um ano de iniciação científica e já foi atrás de estágios em empresas. Conseguiu no controle de qualidade microbiológica da Ouro Fino e, em seguida, no de qualidade físico-química da Eurofarma, onde foi efetivada como funcionária assim que se formou, em 2016. 


No mesmo ano também se casou e se demitiu para candidatar-se a doutorado no programa de Ciências Farmacêuticas da USP Ribeirão, na área de concentração de produtos naturais e sintéticos. “O foco da minha tese é na técnica de espectometria de massas, a partir do estudo exploratório de diversas plantas do bioma caatinga, que é negligenciado e não tem muitos estudos, principalmente de química. Meu trabalho é tentar encontrar o que tem de diversidade química nessas plantas”, explica.


Apesar de ter iniciado em 2017, Danielle está finalizando só neste semestre sua pesquisa, que desde o ano passado tem tocado sem a remuneração da bolsa de estudos. Contribuíram para o prolongamento a pandemia de coronavírus, em 2020, e uma gravidez de alto risco cheia de percalços, muito além dos previstos. “A chegada do meu filho veio me ensinar que não adianta eu planejar tudo. Ele veio quando eu queria, mas minha gestação foi tudo o que eu não esperava que fosse”, afirma.


Ela descobriu que estava grávida no final de 2020, com quase dois meses de gestação e em pleno processo de mudança de endereço, com direito a carregamento de peso por escadas de prédio. Ainda fazia exercícios acrobáticos em sessões de pilates. Por isso, quando recebeu o teste positivo para gravidez, foi alertada de que corria o risco de abortar se não repousasse imediatamente. Então avisou seu orientador do mestrado e passou o Natal deitada. Logo em seguida, veio a bomba: nos primeiros exames pré-natais foi constatada uma toxoplasmose materna!


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Ser farmacêutica fez toda a diferença no que Danielle passou dali por diante, para o bem e para o mal. Para o mal porque teria sofrido menos sem entender a gravidade de tal diagnóstico. Para o bem pelo mesmo motivo, porque, ciente da gravidade, já começou a tomar providências. “Se eu fosse leiga, teria deixado para ver os resultados de exames junto com a ginecologista, um mês depois, o que implicaria grandes chances de meu filho ser atingido pela doença”, diz. Também impactou significativamente na seriedade com que os médicos a tratavam, quase de igual para igual.


Foi preciso correr contra o tempo para conseguir via SUS a medicação de alto custo que Danielle precisou tomar. Depois veio a espera para seu organismo acumular líquido amniótico suficiente para fazer o exame que constataria se o feto tinha sido afetado pela doença, o que acarretaria risco de graves sequelas. “Me apeguei muito à minha fé em Deus, porque foi um momento muito intenso de espera. No dia da amniocentese, numa clínica civil da USP, precisei assinar um termo me responsabilizando caso entrasse em trabalho de parto e abortasse. Muito pesado e muito triste”, lembra a mãe. 


Mas suas preces foram atendidas, porque o resultado não acusou contaminação do feto. Ela também deu “graças a Deus” por seu compreensivo orientador no doutorado, que entendeu a necessidade de passar toda a gestação em repouso. Jamais exigiu que fosse para o laboratório, mesmo após dar à luz e a pandemia começar a abrandar. “Isso me trouxe certa paz. Se eu estivesse trabalhando em um regime de emprego da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], teria sido desligada ou pedido demissão”, diz.


Danielle entrou em trabalho de parto dois dias antes da data marcada para a indução e assim permaneceu por 12 horas. Pedro nasceu em 24 de agosto de 2021 com desconforto respiratório e foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Os médicos não encontraram explicação lógica para o desconforto, mas estar na UTI favoreceu a descoberta de uma sepse prévia, infecção que pode ocorrer nas primeiras 72h de vida de um bebê. Ele começou, então, a receber dois antibióticos e, no quinto dia, quando seria liberado, teve uma crise convulsiva. Outro susto!


Mas nada foi detectado no exame cerebral. Então Pedro recebeu alta no dia 2 de setembro de 2021. “Foi quando tive minha primeira noite com ele, no hospital mesmo”, conta Danielle, soluçante de emoção. Daí para frente tudo foi mais fácil em comparação. Pedro não deu trabalho para amamentar – pelo contrário – e se desenvolve forte, como uma criança normal. A introdução alimentar, porém, foi um desafio, porque ele não come qualquer coisa. Só conseguiu desmamar com 2 anos e 3 meses. Talvez por tudo o que passou, sempre dormiu e é muito agitado, além de extremamente apegado à mãe, seu “porto seguro”.


Após cinco meses de licença, Danielle passou a trabalhar em casa, mas logo a maternidade começou a conflitar com as exigências do doutorado. O prazo de sua bolsa estava se esgotando. “A grande dificuldade de ser uma pesquisadora na minha área, sem vínculo empregatício no meu caso, que sou doutoranda, é que perante a sociedade sou uma estudante, mas sou cobrada mesmo assim. Tanto no nível da pesquisa, com relatórios e participação em workshops, quanto em produção. Foi ficando cada vez mais difícil eu executar as atividades do doutorado”, declara.
Só no ano passado Danielle convenceu o marido a concordar em deixar Pedro na escola por meio período.

 

Seguiram-se 15 dias “tensos” de adaptação, em que ela o acompanhou à escola, na primeira semana, e ficou escondida na recepção, na segunda, trabalhando em seu notebook. Ainda é ela quem o leva e busca na escola e faz todas as atividades domésticas da casa, além de alimentá-lo, fazê-lo adormecer, dar banho, etc. Só depois de jantar e cuidar de algum afazer doméstico a mãe-pesquisadora se senta, tarde da noite, para trabalhar. “Desde fevereiro de 2023 minha realidade de trabalho tem sido dedicação no período da tarde e parte da madrugada. Eu consigo dormir umas 4, 5 horas picadas, porque meu filho acorda e não tem jeito, tenho que preparar mamadeira”, diz.


Mas Danielle viveria tudo de novo para ter Pedro. “É um amor muito grande e eu aprendi muito com ele. Acho que evoluí como pessoa e isso molda também a profissional que sou, por toda a questão da resiliência. A maior recompensa é que o Pedro é uma criança saudável, um presente de Deus. Só peço a Ele que o proteja e o mantenha com saúde”, conclui.

 

Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?

“Minha maior dificuldade reside na conciliação das exigências inerentes ao cuidado de uma criança e das responsabilidades domésticas com a carga horária do meu trabalho, que transcende o padrão convencional de 8H diárias. Antes do nascimento do meu filho, eu podia me dedicar integralmente às atividades de pesquisa, sem restrições quanto a dias ou horas de trabalho. Depois fui compelida a relegar meu trabalho a um segundo plano, encontrando-me frequentemente a trabalhar nas madrugadas com pausas para os despertares noturnos do meu filho. As viagens para simpósios e congressos são um desafio maior para as mães que não tem com quem deixar os filhos. Nesse contexto, acompanhar o ritmo competitivo do ambiente acadêmico tornou- se uma tarefa praticamente inviável para mim.”

 

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Foto: Luan Porto

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