Primavera Árabe: qual o reflexo em Ribeirão, 5 anos depois?

Primavera Árabe: qual o reflexo em Ribeirão, 5 anos depois?

Em janeiro de 2011, egípcios foram as ruas pedir a deposição do presidente, que trouxe consequências do outro lado do mundo

Há exatos cinco anos, os egípcios saiam às ruas do Cairo em protestos contra o então presidente Hosni Mubarak, que já governava o Egito por 31 anos, e pediam a saída de Mubarak. Foi o primeiro país a “importar” a Primavera Árabe da Tunísia, que desde dezembro anterior também pedia a derrubada de um ditador - Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 21 anos – além de melhores condições de vida.

Depois dos dois países, a revolta da população se espalhou por outras nações do norte da África e Oriente Médio, como Líbia, Síria, Bahrein, Jordânia, todos com diversos pedidos, porém voltados para a liberdade, seja política ou religiosa.

Os frutos foram diversos. Tanto Tunísia, Líbia e Egito derrubaram os governos, porém apenas a primeira prosperou, ainda que enfrente uma crise econômica, a segunda passa por uma Guerra Civil e diversas disputas políticas, e o Egito entrou em outra ditadura, agora comandada pelo exército. Sem contar a Síria, que também está em estado de guerra.

A historiadora Sandra Rita Molina, em entrevista para Revideque pode ser conferida na íntegra na edição 796 – afirma que houve um erro de perspectiva das potências ocidentais - que em algum momento exerceram poder sobre essas nações, como França, Reino Unido e Estados Unidos – sobre o que foi a reinvindicação desses povos, o que causou a crise de refugiados.

“Talvez seja o momento de o sistema internacional dos estados refletirem que talvez não seja preciso voltar atrás e reconstruir a sociedade, as instituições à maneira deles, sobre as bases da cultura deles, respeitando sua diversidade para que encontrem de maior equidade”, aponta Sandra.

Entretanto, os frutos da mobilização nos países árabes foram maiores do que pretensões regionais, e se espalharam pelo mundo inteiro. Londres, Madrid e Nova York viram as ruas sendo tomadas por manifestantes contrários a medidas econômicas severas para que os europeus e norte-americanos saíssem da crise, inspirados na Primavera Árabe.

Tanto que na Espanha a situação gerou frutos políticos, como a criação de novos partidos políticos, tais qual o Ciudadanos e Podemos, que mudaram as tomadas de decisão no país ibérico, e hoje, mais de um mês após as eleições, tiram os cabelos das lideranças tradicionais que pretendem formar um governo.

Além disso, é possível identificar essa influência no Brasil, e o caso mais emblemático são as manifestações de Junho de 2013, inicialmente contra o reajuste das tarifas do transporte público em São Paulo, mas que se espalharam por todo o País, inclusive Ribeirão Preto, onde foi registrada uma das seis mortes durante os protestos, do estudante Marcos Delefrate.

O estudante de 18 anos foi atropelado por Alexsandro Ishisato em um ato nos cruzamentos das avenidas João Fiúsa, com a José Adolfo Bianco Molina, e recebeu homenagens, como um viaduto com o nome dele no quilômetro 330,6 da Rodovia Alexandre Balbo, e um monumento no local em que foi morto.

Na ocasião, a Prefeitura justificou a homenagem. “Considerando Marcos Delefrate um mártir das manifestações de Ribeirão Preto e símbolo da juventude, receberá um monumento em sua homenagem no ‘Marco da Paz’”. O julgamento de Ishisato ainda está na Justiça.

Inspiração

A estudante Gabrielly Martins, que começou a se interessar por política a partir da Primavera Árabe, diz que esse movimento influenciou os brasileiros que acreditavam que estávamos passando por uma grande perda de direitos e de regressos democráticos. “Não só nos incentivou pelas proporções que os protestos tiveram pelo impacto midiático que teve, mas principalmente pela resistência pessoal de cada um que esteve ali”, afirma a estudante.

“Nossa Primavera atravessa estações com as resistentes ocupações das escolas em São Paulo, atos pelo Fora Cunha no Brasil todo, protestos pelo passe livre e contra o aumento da passagem”, destaca Gabrielly que acredita que com essa luta as pessoas vão aprender a resistir e criar forças pelos diretos dos cidadãos.

Já um dos coordenadores do Movimento Brasil Limpo (MBL), Marcos Spínola, que no ano passado realizou uma série de protestos contra a corrupção e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em Ribeirão Preto, vê que os movimentos que surgiram no Brasil tiveram influencia com o que ocorreu no Oriente Médio, mas também aponta diferenças.

“Eu não diria que as intenções sejam as mesmas, porque a repressão social lá é muito maior. A nossa manifestação do MBL também busca defender os nossos direitos, mas está focada no combate a corrupção. Não seguramos bandeiras partidárias, e nem enfrentamentos religiosos. Temos muito mais liberdade. Mas há semelhanças, sim”, reflete Spínola.


Fotos: Julio Sian e Arquivo Revide

 

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