Medidas de isolamento social completam dois meses em Ribeirão Preto

Medidas de isolamento social completam dois meses em Ribeirão Preto

Segundo estudo da Unicamp, em todo o Estado de São Paulo, isolamento social já salvou vidas

Neste sábado, 23, as medidas de isolamento social em Ribeirão Preto completam dois meses. Inicialmente, a medida previa o fechamento de serviços não essenciais até o dia 26 de abril.

Quando o estado de calamidade pública foi decretado, no dia 23 de março, a cidade possuía oito casos confirmados da doença e nenhuma morte. O primeiro óbito foi registrado no dia 26 daquele mesmo mês. Atualmente, segundo boletim divulgado na tarde de sexta-feira, 22, a cidade apresenta 693 casos confirmados e 17 mortes.

Vidas salvas

Segundo um estudo realizado pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), que reúne pesquisadores de instituições como a Universidade de São Paulo (Usp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 165 vidas já foram salvas em todo o Estado de São Paulo devido às medidas de isolamento social. Até este sábado, 23, no Brasil, são 408 vidas salvas. Caso as medidas sejam mantidas até o dia 1º de junho, o país já terá salvo 2.411 pessoas.

Sem nenhum tipo de distanciamento social, o estudo estima que cerca de 600 mil pessoas teriam se infectado no estado. Número quase dez vezes maior que o atual.

O estudo observa a taxa de contágio do coronavírus e, com isso, aferem se ela se ele varia no tempo. A ideia é identificar tendências na evolução da taxa de propagação do vírus e, consequentemente, a aceleração ou desaceleração da epidemia depois do início dos protocolos de distanciamento social. 

Quando os dados anteriores ao dia 24 de março não são suficientes para fazer a análise, os pesquisadores utilizam os dados da primeira semana em que conseguiram estimar o comportamento do vírus para representar o período anterior ao isolamento social.

Histórico

No dia 8 de maio, que o governador João Doria (PSDB), anunciou que prorrogaria as medidas de isolamento social até o dia 31 de maio em todo o Estado de São Paulo.  O anúncio foi feito durante coletiva convocada no Palácio dos Bandeirantes, na Capital. "Queria dar uma notícia diferente, mas o cenário é desolador: teremos que prorrogar a quarentena até o dia 31 de maio", declarou Doria. 

Sobre a possibilidade de tomar medidas mais duras, como um lockdown, o governador declarou que a possibilidade não está descartada. "Nós esperamos que isso não tenha que ser praticado, mas para isso vamos ter que depender muito de vocês que estão em casa", alertou. 

"Estamos atravessando o pior momento dessa pandemia. Só não reconhece aqueles que estão cegos pelo ódio ou pela ambição pessoal. Autorizar o relaxamento agora, seria colocar em risco milhares de vida, o sistema de saúde e a recuperação econômica", completou Doria. 

O diretor do instituto Butatan e do Hemocentro de Ribeirão Preto, Dimas Covas, avalia que a taxa de isolamento social ideal seria em torno de 70% e o mínimo para se manter níveis aceitáveis seria de 55%. Em Ribeirão Preto, durante o mês de abril, a média foi de 47%. Segundo o diretor, são estimadas, até o final do mês, entre 90 e 100 mil casos em todo o Estado e uma estimativa de 9 e 11 mil mortes.

Para que haja uma flexibilização e uma saída do período de isolamento social o governo leva em consideração a taxa de ocupação de leitos e o índice de contágio. Ambos os indicadores são afetados, diretamente, pelo respeito às medidas de isolamento social. Segundo Covas, o período mínimo para se realizar uma análise dos efeitos das medidas é de 14 dias.

Na tarde do mesmo dia, o prefeito Duarte Nogueira anunciou que acataria as medidas de Doria. "Quero abrir? Quero. Posso? Não", frisou. O prefeito explicou que, segundo a Justiça, as regras nos municípios podem ser somente mais restritivas em relação as do governo estadual, e não mais brandas. "Não posso decretar a retomada das atividades econômicas, para além das que já estão regulamentadas, sob pena de o Ministério Público recorrer à Justiça e conseguir a suspensão dessa decisão, a exemplo do que já aconteceu anteriormente”, justificou. 

Com isso, ficou para, após o dia 31 de maio, em caráter facultativo, a reabertura do comércio, incluindo shoppings. Os estabelecimentos deverão respeitar as medidas de distanciamento entre pessoas, fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) aos funcionários e com horário de funcionamento apenas de segunda à sexta-feira. A reabertura de bares, igrejas e templos religiosos, cinemas, teatros e locais de entretenimento ainda foi mantida, a princípio, para o dia 8 de junho. 

Recuo

Todavia, uma edição extra do Diário Oficial da União, do dia 11 de abril, voltou a conturbar a relação dos governadores com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Pelo dispositivo, as atividades de higiene pessoal, como salões de beleza e barbearias, passam a ser consideradas essenciais. O decreto também inclui as academias e o setor de construção civil, este último, não possuía nenhuma restrição no estado de São Paulo. 

Não obstante, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no dia 15 de abril, que cabe ao governo determinar as diretrizes gerais do combate à pandemia no país, porém, não pode interferir na autonomia dos estados e municípios. Dessa forma, a palavra final sobre a liberação das atividades citadas cabe aos governantes locais.

Inicialmente, o prefeito de Ribeirão Preto informou que seguiria a recomendação do governo federal. Porém, após o governo do Estado decidir que não acataria às ordens de Brasília, Nogueira teve que voltar atrás e manteve os salões e academias fechados.

Economia

Um levantamento realizado pela Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) mostrou que cerca de 120 empresas demitiram funcionários desde o início da quarentena. A pesquisa, que consulto 306 empresas associadas à Acirp, revelou que 39,5% das empresas realizaram demissões, enquanto 60,5% mantiveram os postos de trabalho. 

As empresas consultadas são, em sua maioria, do setor de serviços (46,2%) e comércio (42,8%), com predominância (57,1%) de atividades não-essenciais. Cerca de 90% dos empresários ouvidos declararam que as vendas caíram em relação a abril de 2019.

Das empresas que demitiram, o estudo aponta que um quarto delas dispensaram mais de 30 funcionários. Outras medidas, como a redução da jornada de trabalho e de salários, também têm sido adotadas pelos empregadores.

Segundo a Acirp, um dos motivos para o número de demissões é, sobretudo, a falta de acesso a empréstimos para folha de pagamento e capital de giro. Como mostra a pesquisa, dentre as empresas que procuraram instituições financeiras para obter linhas de crédito, 58,2% tiveram a solicitação negada. O estudo leva em conta pedidos de financiamento para folha de pagamento, capital de giro, investimento para adequar a operação, entre outros.

Maioria segue ativa

Realizada entre os dias 14 e 15 de maio, a pesquisa perguntou aos empresários quanto tempo a empresa deles conseguiria sobreviver com a prorrogação da quarentena. A maioria, respondeu que a empresa poderia sobreviver por mais dois meses com a quarentena. 

Segundo a Acirp,  10,5% declararam que a empresa não fecharia com a continuidade da quarentena, 11,1% declaram que conseguiriam manter a empresa ativa por mais seis meses, 18% até três meses, 19,3% por até dois meses, 28,4% respondeu que por mais um mês e 11,4% declarou que a empresa encerrará as atividades caso a quarentena continue. Os outros 1,3% afirmaram que já fecharam as portas.

 


Foto: Luan Porto

Compartilhar: