Não é ficcção

Não é ficcção

Estudante de Medicina na USP de Ribeirão Preto, Verena Paccola Menezes descobriu 25 asteroides nunca descritos

*Matéria publicada na edição 1096 da revista Revide.

Verena Paccola Menezes, de 22 anos, é estudante de Medicina na USP de Ribeirão Preto, mas, desde os quatro anos, já nutria um olhar questionador e curioso sobre o mundo. “Eu levava para a escola um microscópio usado, que ganhei da minha madrinha, enquanto as outras meninas levavam bonecas e casinhas”, recorda. No ano passado, enquanto observava o céu, a jovem descobriu 25 asteroides nunca descritos.

Um deles, inclusive, foi classificado como muito importante. Ele compõe o grupo chamado de ‘fraco’, ou seja, movimenta-se mais devagar. O fato que merece atenção especial é que, em sua trajetória, ele pode colidir com a Terra. Normalmente, um asteroide que colide com a Terra é nomeado como ‘fraco’. Porém, isso não quer dizer que todos os asteroides dessa classe caiam aqui. “Essa possibilidade existe porque eles caminham em uma órbita diferente da comum – que é ficar entre Marte e Júpiter, cinturão principal de asteroide na galáxia – e, como esse é diferente, precisa ser estudado”, conta Verena sobre o fenômeno que descobriu. A descoberta foi premiada em uma cerimônia promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações em Brasília

Passo a passo

O processo de busca foi essencial para que a estudante encontrasse os asteroides. Com um software da NASA, era possível encontrar corpos espaciais através de um telescópio no Havaí, que tira fotos do céu em pacotes com quatro imagens, em diferença de segundos entre uma e outra. Assim que chegavam até ela, Verena colocava as imagens em sequência e prestava atenção para ver se alguma coisa se movia naquele meio tempo. “O que eu vi na imagem são vários pontinhos parados, as estrelas. Mas, quando percebi algo se movendo, considerei a possibilidade de ser um asteroide, já que eles caminham pela órbita enquanto as estrelas ficam estáticas”, explica.

Depois de toda a observação, a análise numérica indicou que o objeto se encaixava no padrão. O relatório foi enviado para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que confirma se são asteroides – corpos rochosos de estrutura metálica, que orbitam o Sol – ou outro elemento do Universo. Agora, o trabalho da NASA é colher mais dados e analisar a órbita para verificar qual é a probabilidade de colisão com a Terra e quando isso ocorreria. 

Tempo de vitória

Daí em diante foi só comemoração. Verena participou de uma premiação em Brasília, a convite do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em 9 de dezembro de 2021. Recebeu três medalhas: honra ao mérito, primeiro lugar no Brasil e participação, além de um troféu por ter encontrado o asteroide raro e importante. “Não sei descrever o sentimento de ter a NASA no meu currículo, nem mesmo dos certificados e os troféus. Eu só consigo ficar muito feliz. É difícil de assimilar já que, desde pequena, eu me interesso por esse universo e nunca imaginei que um dia teria essa oportunidade e que seria possível contribuir com algo tão grandioso”, celebra.

A estudante ainda poderá dar nome aos asteroides descobertos após a emissão da documentação. “Até eu poder dar os nomes demora muito tempo, cerca de seis a oito anos. Então, ainda não decidi o nome de todos. Vou deixar para a Verena do futuro tomar as maiores decisões, mas de dois eu já tenho certeza. O primeiro vai ser em homenagem à minha avó Rochele e o segundo à minha mãe, Nathalia, porque eu nunca conheci meu pai. As duas me criaram sozinhas a vida inteira e nada mais justo do que retribuir todo esse carinho e cuidado do jeito que eu posso”, conta Paccola. 

Após aprovação em Medicina na USP, ela segue estudando e agora fazendo pesquisa e iniciação científica na área de Alzheimer

Outro sonho que virou realidade 

Ser médica sempre foi o sonho de Verena, que cresceu brincando e se imaginando nesta profissão. Com muito interesse pelo corpo humano e, principalmente, pelo cérebro, a estudante não poupa esforços para adquirir conhecimento. Inclusive, em uma das aberturas de competições cientificas, teve a oportunidade de vivenciar uma experiência com Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro e um dos melhores do mundo.

Após a palestra, teve a certeza de que iria trabalhar com esta área. “Me formei no ensino médio e no ensino técnico de enfermagem em 2017. Em 2018, fui convidada pelo Hospital Israelita Albert Einstein para fazer um estágio lá porque já tinha feito parte da Olimpíada Brasileira de Neurociência e meu desempenho tinha sido muito bom. Em 2019, representei o Brasil na Assembleia de Juventude da ONU em Nova Iorque e, no mesmo ano, mudei para o Canadá para dar início à graduação de neurociência comportamental na Columbia. Voltei para o Brasil em 2019 e comecei a me dedicar ao vestibular. Fui aprovada em Medicina na USP e aqui estou, fazendo pesquisa e iniciação cientifica na área de Alzheimer”, descreve.

Verena destaca que ainda está bem confusa com os dois caminhos e ansiosa para os próximos capítulos. Mesmo com a agenda apertada, a jovem confirma que vai continuar caçando asteroides e que, inclusive, será treinadora de ‘caçadores de asteroides’ através de seu Instagram. 


Fotos: Luan Porto /Divulgação

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