Pesquisadores de Ribeirão Preto planejam manifestação contra suspensão de bolsas
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP estima que previsão de cortes pode afetar até 35% dos pesquisadores
O comunicado do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), prevendo que bolsas de pesquisa tenham recursos apenas até o mês de agosto de 2019, ligou o alerta de docentes e estudantes de todo o País, inclusive em Ribeirão Preto. No município, a Associação dos Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo (APG-USP/RP) planeja ato solicitando mais recursos para a área de pesquisa, na próxima quarta-feira, 8.
A manifestação é prevista para acontecer no próprio campus da universidade. No entanto, o grupo pretende divulgar mais informações sobre o planejamento do protesto ainda nesta segunda-feira, 6. A notícia sobre a paralisação dos pagamentos não pegou a comunidade de surpresa, já que os recursos para o pagamento das bolsas vêm diminuindo ano a ano.
A estudante Susana Santos mora em Ribeirão Preto e é mestranda e bolsista na Universidade Federal de São Carlos (UfScar). Ela acredita que o anúncio da Capes deve ser visto como um alerta sobre o sucateamento da educação superior no Brasil.
“Caso seja aprovada a proposta de orçamento reduzido, o legado de Temer para a pesquisa brasileira será nefasto. O pior é que o valor que a Capes precisa para manter as bolsas é ínfimo frente aos gastos públicos com regalias para as classes políticas”, afirma a estudante.
Segundo a professora universitária Tiana Kohlsdorf, que é coordenadora do programa de pós-graduação e Biologia Comparada, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP), o impacto pode ser grande em estudantes da universidade, de até 35% apenas entre os estudantes da FFCLRP - o que representa 150 alunos.
“A Capes vem sinalizando que a situação é crítica há certo tempo. Em termos de corte, nós já sabíamos o impacto que esses poderia ter”, analisa a professora, que aponta que, desde 2015, o orçamento que foi passado na Capes foi diminuindo de R$ 7,4 bilhões para R$ 3,9 bilhões.
“Essa é uma redução considerável. Nós participamos de reuniões regulares lá na Capes e em todas as reuniões nos últimos três ou quatro anos, a fala da Capes sempre foi no sentido de honrar os compromissos assumidos e, principalmente, priorizar as bolsas, que garantem o vínculo dos alunos de pós-graduação de mestrado, doutorado e pós-doutorado”, explica Tiana.
Ela ainda afirma que as bolsas são importantes para garantir uma “formação de excelência” aos pós-graduandos no Brasil, permitindo que tenham dedicação exclusiva à pesquisa que estão desenvolvendo, o que pode se perder, caso o estudante perca a bolsa e não consiga continuar na universidade.
“O aluno que já recebeu dois anos de bolsa, por exemplo, e de repente precisa parar esse curso porque não consegue se manter exclusivamente na pesquisa. Você perde o investimento que foi feito nele. Que é o investimento que já foi feito na formação dessas pessoas, porque nós não concluímos o projeto e a formação dos alunos. Temos aí um ônus muito difícil de controlar”, pontua.
MEC e Temer dizem que não vai parar
Enquanto isso, tanto o presidente Michel Temer (MDB), quanto o Ministério da Educação (MEC), garantem que o pagamento das bolsas continuará e não faltará recursos para bolsas oferecidas pela Capes.
Na última sexta-feira, 3, Temer afirmou que já tratou do assunto. “Ainda ontem [quinta-feira, 2], fiz uma longa reunião com todo o conselho científico, entre o qual os membros da Capes, e tratamos desses temas. Se houver problema eventual, eu não vou deixar faltar. Eu compensarei”, disse o presidente.
Já o MEC divulgou nota afirmando que não haverá a suspensão do pagamento das bolsas e que o assunto foi tratado na última sexta, entre o ministro da pasta, Rossieli Soares, e o ministro do Planejamento, Esteves Colnago.
“As equipes dos dois ministérios têm realizado frequentes reuniões para tratar do tema. A valorização da educação é uma das prioridades do Governo Federal que, em dois anos, adotou medidas importantes para o setor, como a Lei do Novo Ensino Médio e a homologação da Base Nacional Comum Curricular da educação infantil e do ensino fundamental”, informou nota do MEC.
Foto: Arquivo Revide