Justiça determina arquivamento de inquérito contra secretário da Saúde de Ribeirão Preto

Justiça determina arquivamento de inquérito contra secretário da Saúde de Ribeirão Preto

Primeira instância do município não encontrou indícios de corrupção na licitação das ambulâncias

A juíza Ilona Márcia Bittencourt Cruz, da 5ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, determinou o arquivamento do inquérito policial que investigou o suposto favorecimento na dispensa de licitação feita pela Prefeitura de Ribeirão Preto para a contratação de ambulâncias. A decisão foi publicada na sexta-feira, 4.

Na decisão, a magistrada relata que não foram encontradas irregularidades na dispensa de licitação que levem a dar seguimento no inquérito e em uma possível denúncia. Ilona ressalta que a troca de mensagens entre a Secretaria de Saúde e a empresa SOS Assistência Médica Familiar, vencedora da licitação, não ocorreram durante a fase de sigilo da licitação e nem tratam de valores definitivos.

"As mensagens eletrônicas comprovadamente trocadas ocorreram no estágio licitatório das cotações preliminares, as quais, segundo a legislação não são sigilosas, tampouco, definitivas de modo permitir confecção de planilhas de orçamento que expressem os custos do serviço licitado", declarou a magistrada.

Além disso,  compra recebeu um parecer favorável do Centro de Apoio Operacional a Execução (CAEX), do Ministério Público. O órgão entendeu que não houve indícios de superfaturamento. 

A juíza também discorreu sobre a proximidade entre Scarpelini e Aníbal Carneiro, proprietário da empresa. Ambos frequentavam a mesma loja maçônica e a ex-esposa do secretário já foi sócia da empresa.

"Não há prova de que a relação tenha tido influência no desenvolvimento do procedimento licitatório em questão. Observou que, inclusive, a empresa do investigado já se encontrava registrada, antes deste procedimento licitatório, junto ao Cadastro Público de interessados em contratar com Administração Pública Municipal de Ribeirão Preto e que a troca de mensagens não permitiu concluir pela existência de vantagem efetiva no procedimento licitatório analisado, tendo em conta que as informações trocadas em referido estágio licitatório não eram sigilosas e foram colocadas em planilha que poderia ser alvo de consulta pública. Não havendo, portanto, divulgação de informação sigilosa, ou mesmo comprovação de que tal divulgação tenha favorecido o investigado", argumentou Ilona.

A análise da juíza levou em consideração relatórios da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP). Por parte do MP, o promotor Wanderley Trindade não encaminhou denúncia contra o secretário nem demais funcionários da administração pública. Segundo o promotor, não existem elementos suficientes para comprovar o favorecimento da empresa SOS Assistência Médica Familiar na licitação. 

Todavia, a determinação da promotoria destoa das indicações feitas pela Polícia Federal. De acordo com a PF, existem indícios de favorecimento na licitação, inclusive, com omissão de mensagens trocadas entre o secretário de Saúde e o empresário vencedor da licitação.

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Entenda o caso

Segundo o edital da dispensa de licitação, além do aluguel dos quatro veículos, devem estar incluso equipes, manutenção, combustível e outras necessidades. Os carros foram utilizados, principalmente, para suprir o aumento de demanda gerado pela pandemia do novo coronavírus.

O contrato previa um valor fixo por ambulância e um valor variável por quilômetro rodado. A média mensal de cada veículo é de R$ 68,9 mil, segundo levantamento do governo. O que resultaria em um gasto mensal de até R$ 275 mil por mês ou R$ 1,1 milhão nos quatro meses.

Segundo os documentos da contratação, a licitação foi feita em três lotes. O primeiro, no valor de até R$ 722 mil contempla os serviços de motorista, supervisores e técnicos de enfermagem. O segundo lote é referente a variável de quilômetros rodados pelas ambulâncias e apresenta uma estimativa de até R$ 226 mil.

Por fim, o terceiro lote diz respeito à locação dos automóveis pelo valor de R$ 189 mil. Desse modo, de acordo com a Secretaria da Saúde, o valor não alcançará a cifra de R$ 1 milhão, pois a quilometragem não foi tão elevada quanto se esperava. 

A Secretaria de Saúde informou que chegou aos valores após analisar o preço de mercado dos serviços. "Foram avaliados valores de mercado para estes profissionais, para um serviço de funcionamento 24 horas ininterruptas por sete dias da semana", declarou a Secretaria por meio de nota. Ao todo, três empresas foram consultadas. Uma ofereceu um valor de R$ 1.136.000,00, que foi superior ao oferecido pela vencedora.

Porém, uma das interessadas ofereceu R$ 563 mil pelos mesmos serviços. Contudo, segundo a Prefeitura, a empresa não apresentou Certidão Negativa de Débitos Federal e Municipal, além de não apresentar documentação relativa à capacitação técnica das equipes.

CPI

No dia 26 de agosto, foi lido na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a dispensa de licitação. No documento, de 34 páginas, os vereadores acusam o secretário Scarpelini e a servidora Jane de fraude no processo licitatório. A votação do relatório ainda não foi realizada pela Casa.

Dessa forma, a CPI solicita o afastamento do secretário Sandro Scarpelini e da servidora Jane Aparecida. Bem como, a instauração de um processo administrativo disciplinar na Prefeitura para ambos.

A respeito da CPI, a Prefeitura alegou que o momento eleitoral teria impulsionado o seu andamento. "Trata-se de um momento eleitoral e o fato foi tratado sem levar em consideração tempos em que decisões rápidas e enérgicas devem ser tomadas para salvar vidas. O relatório do Legislativo não apresenta nenhuma informação nova que o os órgãos competentes desconheçam", escreveram.


Foto: Revide

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