Pesquisa mostra redução no nível de chumbo em esmalte dental de crianças de Ribeirão Preto

Pesquisa mostra redução no nível de chumbo em esmalte dental de crianças de Ribeirão Preto

Valor caiu em relação a um estudo de 2008, mas ainda é considerado alto

Uma pesquisa de mestrado apresentada em janeiro deste ano na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP) constatou que os níveis do metal nos dentes das crianças do município diminuíram 60% na última década, porém, continuam acima do limite. 

Em 2008, um estudo realizado pelo Laboratório de Proteínas e Histologia, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, que analisou o esmalte dental de crianças de Ribeirão Preto encontrou uma quantidade de chumbo quase cinco vezes maior do que o limite considerado inofensivo ao organismo humano. O resultado do estudo apontou que a quantidade de chumbo encontrada no esmalte dental das crianças da cidade estava em 1.335 partes por bilhão (ppb). O limite para a presença deste metal no esmalte dental é de 300 ppb.

Agora, em 2020, segundo dados coletados pelo biólogo Renê Seabra Oliezer e utilizando a mesma metodologia, esse índice ficou em 514 ppb –  ainda considerado alto, mas com uma diferença de 821 ppb em relação aos resultados do estudo anterior.

De acordo com o Jornal da USP, Oliezer, autor da pesquisa de mestrado apresentada em janeiro deste ano na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP), conta que a diferença entre os dois estudos pode estar relacionada a diversas mudanças nas atitudes humanas e em políticas públicas de descarte de baterias e equipamentos industriais que usam o metal em sua composição. O pesquisador também cita a interrupção, em 1989, da adição de chumbo à gasolina brasileira como fator que pode ter influenciado a queda dos níveis de chumbo no esmalte.

A pesquisa

A pesquisa de Oliezer analisou o esmalte de 80 dentes de leite e, além do chumbo, também encontrou manganês, zinco, arsênio, cádmio e mercúrio. Ele conta, em entrevista ao Jornal da USP, que ao relacionar a quantidade desses metais com as regiões da cidade de onde as amostras vieram, observou que os maiores índices de contaminação vinham de crianças moradoras das zonas norte, leste e sul de Ribeirão Preto, setores urbanos “onde temos uma maior concentração de indústrias que liberam substâncias nocivas ao meio ambiente”. 

Por outro lado, o pesquisador verificou que, nas regiões centrais, os valores desses metais nos dentes era menor. Como exemplo, cita o caso do arsênio que, na região sul, alcançou a marca dos 8,5 mil partes por bilhão, enquanto na oeste teve o menor valor encontrado, 2,08 mil ppb. 

Para o biólogo, o que chama a atenção é a diferença entre os valores mínimos e máximos encontrados. Cita como exemplo o valor de arsênio, com o menor índice de 50 ppb contra 8.522 ppb do maior, “uma discrepância muito grande”.

Já em relação ao zinco e ao manganês, é preciso ressaltar que o organismo humano necessita de quantidades equilibradas desses elementos para o seu bom funcionamento.

Mas, segundo Oliezer, a preocupação vem do fato de que os outros elementos químicos não deveriam ser encontrados no corpo humano, já que “são substâncias que não têm função no nosso organismo”. Ele diz que o ideal seria não encontrar nada, pois os metais não possuem nenhuma função biológica, portanto ficam retidos. “O pouco que tem já pode ser prejudicial”, diz. 

Efeitos

Quanto aos possíveis efeitos desses metais no organismo humano, o pesquisador lembra que outras pesquisas, ao longo de décadas, já revelaram que eles podem ser “tóxicos ao sistema nervoso” e causar problemas neurológicos, como deficiências cognitivas, perda de visão, audição e de coordenação motora e sensorial. “As crianças que se expõem podem ter dificuldades cognitivas e comportamentais, o que as levam, muitas vezes, ao isolamento social e dificuldades no desenvolvimento escolar”, afirma.

*Com informações do Jornal da USP / Texto de Tainá Lourenço

 


Foto: Michal Jarmoluk via Pixabay

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