Programinha família em Paris
Tem gente de Ribeirão Preto e região indo curtir a agitação dos jogos olímpicos deste ano na cidade-luz – e em família!
Quando a seleção brasileira de futebol feminino estrear nas Olimpíadas de Paris, no próximo 25 de julho, uma família ribeirão-pretana estará entre a torcida amarelinha a ocupar as arquibancadas do Stade de Bordeaux, cidade a cerca de 600 km da capital francesa e uma das seis a sediarem as partidas do esporte nos Jogos. Os Fernandes – Sônia e Ariovaldo e seu casal de filhos, Vinícius e Gabriela – estarão em celebração tripla: a presença da namorada da caçula em campo, os 30 anos da mesma e o 60º aniversário dos pais.
A caçula em questão é a cantora Gabi Fernandes, habituè de palcos ribeirão-pretanos que desde 2021 toca sua carreira na capital paulista. Mora lá com a namorada – ninguém menos que a festejada lateral-esquerda da seleção, Tamires –, mas está sempre visitando a família na cidade natal. Partiu dela a proposta de viajar em família para acompanhar a participação brasileira nos Jogos Olímpicos, já que o esporte é uma paixão compartilhada entre eles desde sempre.
Graças aos pais, Gabi e o irmão, Vinícius, 33, sempre praticaram todo tipo de esportes. Gabi sequer lembra ao certo que idade tinha quando começou, bem pequenininha, com natação e balé, na escolinha. “Acho que uns 5 ou 6 anos. Judô também fiz na escola e dali para frente não parei mais. Quando descobri o futebol, que via meu pai jogando, criei gosto. Quando peguei a bola e comecei a brincar, todo mundo viu que eu levava jeito. Gostei demais!”, gaba-se, sem falsa modéstia. Em seguida vieram as práticas de tênis, handebol, vôlei – não exatamente nesta ordem –, entre outras modalidades, que ela ia conhecendo em diferentes momentos da vida. “Fui praticando e assistindo muito também. Até hoje consumo todo tipo de esportes”, acrescenta.
A princípio, os Fernandes têm garantidos os ingressos para os três jogos da fase de grupos da seleção brasileira de futebol feminino – no dia 25, contra a Nigéria; 28, conta o Japão; e 31, contra a atual campeã olímpica, Espanha –, mas a ideia é acompanhar o máximo de modalidades que conseguirem. “A gente gosta de muita coisa [além de futebol]: salto com vara, atletismo, ginástica, skate, vôlei, tênis, por exemplo, mas os ingressos estão quase esgotados em tudo. Então, a gente vai tentar comprar lá, se preciso até de desistentes. Mas independentemente de conseguir, vamos estar na França vivendo toda a atmosfera olímpica. Poder ir aos jogos do futebol, para a gente, já está sendo ótimo! O que vier além disso vai ser especial”, afirma Gabi.
E há muito o que apreciar na França, a despeito dos jogos. A própria cidade de Bordeaux, onde a seleção feminina joga a primeira e a última partida da primeira fase, é um destino turístico famoso: primeiro, por seus vinhedos e vinícolas, mas também por museus de arte, mansões dos séculos 18 e 19, jardins públicos ornamentando as curvas dos cais do rio Garonne e a Catedral Gótica de Santo André, entre outras atrações turísticas.
As paixões de Gabi
Mesmo Gabi Fernandes tendo praticado e acompanhado muitos esportes desde bem pequena, quis o destino – e sua grande vocação como cantora – que ela seguisse carreira na música. Mas a paixão pelos esportes nunca deixou de fazer parte de sua vida, permanecendo até hoje como parte de sua identidade e de vivências compartilhadas em família.
Até começar o isolamento forçado pela pandemia de coronavírus, em 2020, a carreira de Gabi se restringia a Ribeirão Preto. “Cantei em todos os lugares que dava para cantar na cidade e na região. Na pandemia me deu esse estalo: ‘preciso crescer’. E fui para São Paulo, acreditando que me abriria muitas portas. Tem aberto mesmo. Até comecei a gravar com outros artistas”, conta.
A jogadora Tamires [com Gabi na foto ao lado] ela conheceu pessoalmente em 2019, junto com outras jogadoras da seleção, depois que compôs uma música para a equipe que viralizou na internet. “As meninas do futebol começaram a acompanhar meu trabalho. Na mesma época a Tamires veio para o Corinthians, que é o meu time do coração. Mas a gente acabou se conhecendo mesmo em um dia em que fui fazer um show em Araraquara e ela estava concentrada no mesmo hotel que eu, antes de um jogo que teria contra a Ferroviária”, lembra a cantora.
A amizade veio primeiro. “Nos tornamos grandes amigas, uma acompanhando o trabalho da outra. Juntas mesmo estamos desde 2021 e hoje a gente mora junto”, conta Gabi, que sempre que pode acompanha Tamires a alguma cidade – ou país – em que a namorada jogará. “Vou por fora, pago a viagem, os hotéis. Fui para a Austrália no ano passado, acompanhar a Copa do Mundo feminina com outras duas amigas. Estive também na Inglaterra e na Alemanha para ver as meninas”, diz.
É assim que Gabi e Tamires vão administrando as diferenças de atividade e horários. “A profissão dela é completamente do dia, e a minha, da noite, mas a gente vai ajustando para dar tudo certo. Os finais de semana são mais difíceis pra gente se ver, porque ela vai para jogos e eu para shows. Quando dá, eu vou ver os jogos”, afirma a cantora.
De acordo com ela, Tamires amou a ideia da viagem em família dos Fernandes, mesmo sabendo que conseguirá ver Gabi muito pouco durante as concentrações pré-jogos. “São bem restritos os momentos em que a gente consegue se ver quando ela está concentrada. Eu a vejo pouco e de longe, no campo, quando dá para fazer uma visita, mas ela diz que consegue sentir o carinho da gente lá assistindo”, conclui Gabi.
Terceira Olimpíada, check!
Outra família natural da região a saborear ao menos um pedacinho das Olimpíadas de Paris será a do casal formado pelo músico Rubens Aparecido Antunes Júnior e a bióloga Rosicler Barbosa e os filhos: Rafael, 13, e Benício, 7. Naturais de Santa Rosa de Viterbo, na região metropolitana de Ribeirão Preto, Rubinho e Rosi moram, pela segunda vez, em Grenoble, no interior da França. Na primeira, ficaram de 2005 a 2014, por conta de um pós-doutorado de Rosi; voltaram em 2022, desta vez por conta de um trabalho de Rubinho – como o marido é mais conhecido.
Rosi conta que a família toda estava muito animada para curtir o agito das Olimpíadas em Paris, até porque esteve na de Londres, em 2012, e se surpreendeu muito positivamente. “A gente chega em um país estrangeiro com medo da confusão e da bagunça, mas achamos super bem-organizado, tranquilo para ir até com crianças”, lembra Rosi. Ironicamente, porém, nestes Jogos os Antunes só conseguirão assistir a um jogo de futebol feminino, que não será da seleção brasileira. Por uma série de compromissos assumidos anteriormente, a família não conseguiria estar toda junta para assistir aos jogos de futebol do Brasil, então se contentou em ter um “gostinho” das Olimpíadas no Stade de Lyon, assistindo ao duelo das seleções femininas da Colômbia versus Nova Zelândia, em 28 de julho.
Mas o casal está satisfeito em carimbar a participação em sua terceira Olimpíada, e Rosi considera emblemático que seja na França, pois quando fizeram a primeira viagem internacional, em 2005, o país perdia para Londres a disputa para sediar a de 2012, que eles conseguiram prestigiar. Em 2016, também estavam nas do Brasil. “Em Londres assistimos a um jogo das quartas de final da seleção feminina de vôlei brasileira, que foi a que ganhou o ouro naquela Olimpíada. Nas do Brasil assistimos a um jogo da seleção masculina, em São Paulo. No geral, é sempre futebol que nos interessa”, explica a bióloga.
Além de ver o jogo, a família Antunes vai aproveitar para “turistar” por Lyon, chamada por lá de “a capital dos Alpes” (cordilheira francesa). “Vamos dois dias antes para aproveitar a cidade, que é super interessante. Foi a maior cidade do Império Romano fora de Roma. Tem muitas construções antigas para visitar, como teatro de arena e igrejas. Sua geografia é bem bonita. A cidade é organizada com base nos dois rios [Ródano e Saône] que a cruzam e nas montanhas. Tem uma catedral muito bonita, um centro que é quase uma ilha, porque dos dois lados tem os rios, um teatro de marionetes muito tradicional e interessante, além de uma ligação grande com o cinema”, enumera a bióloga.
Ainda que só para ver um jogo, Rosi está feliz em colocar um “check” em sua terceira experiência em Olimpíadas.
Paixão herdada
Filho mais velho do casal Rubinho e Rosi, Rafael Barbosa Antunes herdou a preferência dos pais, pois também é louco por futebol e até grava com um tio um podcast chamado “Pés Descalços”, sobre pequenas curiosidades do esporte. Questionado sobre o que esperar do jogo que assistirá, responde: “Sinceramente, não sei, mas acho que pode ser uma grande chance de vivenciar um pouquinho dessas Olimpíadas”, anima-se.
Sobre o futebol feminino brasileiro, Rafael acha que “tem chances”, apesar de as favoritas serem as seleções dos Estados Unidos, da Alemanha e da Espanha. “O Brasil está no escalão ‘quem sabe?’”, brinca, emendando em seguida, mais sério: “[A participação feminina nas Olimpíadas] é muito diferente do futebol masculino, que participa só com a base do sub-23 e três jogadores mais velhos. No feminino são jogadoras de qualquer idade. É como se fosse uma um mini Copa do Mundo”, valoriza. Ele confessa não acompanhar muito os jogos das meninas, mas sabe que Tamires é “muito boa” e acha que Marta, apesar de estar com “certa idade”, mantém seu brilho de melhor do mundo. “É veterana, muito boa jogadora e uma líder. É tipo o Cristiano Ronaldo, mas um pouco mais humilde. Então a gente tem umas boas jogadoras que – quem sabe? – em um momento importante, podem brilhar e trazer uma medalhinha de ouro”, torce.
Já sobre a seleção masculina, Rafael considera os altos e baixos de atuação “curiosos”, para dizer o mínimo. “Um dia a gente está em primeiro na FIFA e no outro não ganha da Venezuela”, diz irônico. Ele não perdoa desclassificação para os Jogos Olímpicos. “Nossa Senhora, vergonha nacional! Não dá pra aceitar, principalmente com Endry e essa turma boa aí na equipe”, exclama.
Foto: Arquivo pessoal