Desenvolvimento sustentável: ficção ou realidade?

Desenvolvimento sustentável: ficção ou realidade?

Vamos ser bem sinceros? Salvo algumas exceções, no Brasil, o desenvolvimento sustentável das empresas tem sido muito mais ficção do que realidade. Os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho, ocorridos, respectivamente, nos anos de 2015 e 2019, não me deixam mentir. De acordo com a WWF, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, ou seja, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

Em matéria para o BizNews, Ricardo Voltolini afirma que a sustentabilidade empresarial pressupõe objetivos, metas, indicadores, cronogramas, orçamento e remuneração variável por resultados. “Isso explica por que, no Brasil, apesar de duas décadas de discussão, poucas empresas avançaram para além do óbvio na gestão e, menos ainda, inseriram o tema na estratégia para além das demandas específicas de índices, ratings e protocolos de mercado”, comenta Voltolini.

O tema desenvolvimento sustentável voltou aos noticiários o mês passado, quando um grupo empresarial formado por grandes companhias, brasileiras e estrangeiras, solicitou ao vice-presidente Hamilton Mourão providências para o fim do desmatamento no Brasil. Em carta, de acordo com a revista Exame, os presidentes de 38 empresas se mostraram preocupados com as repercussões negativas das políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro. “Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, afirma a carta.

No entanto, segundo Voltolini, esta não será a primeira tentativa de protagonismo do conceito de sustentabilidade no mundo capitalista contemporâneo. “Houve quem se animasse com a sua possível valorização, em 2007 ou 2014, quando o Painel de Cientistas do Clima das Nações Unidas anunciou o avanço das mudanças climáticas”, afirma Voltolini. Porém, naqueles anos, a ciência não foi suficiente para convencer as empresas a reduzirem suas emissões e produzirem com menos impacto para pessoas e meio ambiente.

Voltolini afirma que houve também quem acreditasse que uma grave crise econômica global, como a de 2008, abriria espaço para uma revisão no modo convencional de pensar e fazer negócios, estabelecendo um parâmetro mais ético, transparente, íntegro, respeitoso ao ser humano e ao planeta. “Porém, a roleta russa engendrada pelos agentes de mercado – um emblema da especulação sem escrúpulos – não foi o bastante para uma virada de mesa global. Provocou mudanças pontuais, é verdade. Harvard chegou até a fazer um mea culpa por formar líderes levianos. Mas o tema logo perdeu força, quando deveria ganhar, frente à necessidade de ‘recuperar’ o caixa das empresas e a economia global”, conclui Voltolini.

Diante de tal realidade, Voltolini lança uma pergunta: se em momentos passados, a sustentabilidade não conseguiu confirmar a sua vocação protagonista, por que o faria justamente agora? Segundo ele, a partir de agora, a busca pela sustentabilidade empresarial pode deixar de ser ficção e se tornar realidade pelo fato de, atualmente, existir uma combinação de fatores de pressão que não existia anos atrás. Dentre tais fatores, destacam-se:

• Na crise de 2008, ao contrário do que se observa hoje, as gerações X e Y (orientadas por propósito), ainda não detinham tanto poder econômico e de influência; Larry Fink, da BlackRock, e os demais grandes investidores não enxergavam riscos e oportunidades socioambientais para a gestão dos seus ativos, e os capitalistas do Fórum Econômico Mundial andavam mais preocupados em gerar valor para os acionistas;

• O ativismo geracional, a ascensão da ASG como novo parâmetro de sucesso empresarial, o capitalismo de stakeholders e o desafio comum de enfrentar emergência climática representam uma nova realidade, produto das aspirações das pessoas e das sociedades no século 21.

Apesar de tão impressionante conjugação de fatores de pressão, Voltolini finaliza sua argumentação afirmando que a sustentabilidade só será um processo transformador se ocorrer, ao mesmo tempo, na gestão, na estratégia, na cultura e na marca das empresas. Acredito que seja por esse motivo que a matéria escrita por ele para a BizNews tenha recebido o seguinte título: O avanço na sustentabilidade depende do ativismo dos capitalistas.

Fontes: 
https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/
https://www.biznews.com.br/o-avanco-na-sustentabilidade-depende-do-ativismo-dos-capitalistas/
https://exame.com/brasil/38-empresas-pedem-a-mourao-fim-do-desmatamento/
 

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