Brasil do Pinhal Pereira Salomão - Nasce um advogado

Brasil do Pinhal Pereira Salomão - Nasce um advogado

Desde menino, Brasil Salomão já sabia exatamente o que queria: seu nome gravado em uma placa como advogado

Uma das grandes questões humanas está na descoberta da vocação. Muitas pessoas levam uma vida inteira para descobrir seus dons, algumas sequer têm está sorte. Para o doutor em Direito, Brasil Salomão, a vocação despertou ainda na infância, através do brilho de uma placa prateada, que chamou a atenção de seus olhos de menino.

A década de 1940 caminhava para seu final quando o pequeno Brasil, então com sete anos de idade, impressionou-se com a gravação do nome “Dr. Jaime Martins de Oliveira”, em uma placa instalada na fachada da residência do colega Moacir de Oliveira. Era o escritório do pai do garoto, advogado conceituado no interior de São Paulo, que hoje dá nome a uma sala do Fórum de Monte Aprazível. O menino Brasil, nascido em Espírito Santo do Pinhal (SP), achou aquilo “o máximo”. Descobriu ali um sonho: ter uma placa como aquela com seu nome gravado. 

Doutor Jaime faleceu em 1957 e o jovem que ele inspirou com sua placa estava no velório. Brasil continuou amigo de Moacir, o terceiro filho de Jaime, por toda a vida. Com o quarto e último filho, Regis Fernandes de Oliveira, protagonizou um reencontro memorável. Também advogado, Regis chegou a ser prefeito de São Paulo. Quando desembargador, foi convidado a lançar um livro seu na cidade em que o já adulto Brasil Salomão atuava. “Eu lhe contei esta história envolvendo o pai e ele me deu a placa de presente”, conta, emocionado.

A próxima cidade a exercer papel determinante na vocação do jovem Brasil foi Rio Claro. Aos 13 anos, quando cursava a 3ª série do ginásio, no Ginásio do Estado Joaquim Ribeiro, Brasil teve contato com uma orientadora pedagógica que perguntou aos alunos da sua classe quem já sabia o que queria fazer da vida. Brasil foi o primeiro a responder: “Direito”. Ela, então, orientou o jovem a procurar informações reais sobre a profissão junto a pais de amigos que eram advogados. 

Assim fez Brasil, e o sonho de infância ganhou força na adolescência, apesar de seus pais não apoiarem seu plano. Funcionários públicos — a mãe, Vera Cruz Pereira Salomão, era professora primária —, seus pais comungavam as aspirações em voga para os pais daquela época: ver o filho passar em um concurso para Banco do Brasil ou Banespa. O pai até cultivava um conceito ruim dos advogados, achava que ganhavam mal, e queria que o filho cursasse Medicina.

Sob tal influência, Brasil acabou prestando concurso para a Secretaria de Estado da Fazenda — e passou —, mas, paralelamente, também ingressou na Faculdade de Direito Laudo de Camargo, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). 
 

Primeiros passos


De 1963 a 1968, Brasil Salomão fez carreira na Secretaria da Fazenda em Ribeirão Preto. Formou-se em Direito em 1967 e, à está altura, já estava casado com Lúcia Helena Viana Salomão, sua grande parceira até hoje. 
Em 1968 recebeu o convite que o faria, finalmente, realizar o sonho de infância. E partiu de um amigo que sequer era advogado. Antônio Carlos Próspero, o Caio, era então um empresário bem-sucedido, que trabalhava com rifas de caminhão, mas queria mudar de ramo e, por isso, propôs investir na criação da banca de advocacia de Brasil. Se o amigo aceitasse, ele mesmo ingressaria no vestibular para o curso de Direito, mas o preço era alto para o bacharel: abandonar a segurança do emprego público.


Lúcia Helena estava, então, grávida do primogênito, Marcelo. Ouviu o convite de Caio ao lado do marido e achando a proposta interessante, ao ser consultada, olhou para o Simca Esplanada de Caio, um dos carros brasileiros mais caros da época, e perguntou: “Se o Brasil for advogado vai dar pra ele comprar um carro desses?”. Ao que o amigo respondeu: “no primeiro ano”. Foi dada assim, sem garantias, como um salto no escuro, a largada para a realização do sonho de menino pelo adulto Brasil. 


Caio alugou uma sala do Edifício Padre Euclides, no Centro de Ribeirão Preto, para o escritório. A inauguração foi realizada em 1º de março de 1969. Enquanto ele estudava, Brasil chamou Alberto Abbud, seu colega na faculdade, para integrar o escritório. Levou junto tudo o que aprendeu na Fazenda do Estado, sobretudo em administração e organização. “A Secretaria era um modelo e isso me ajudou muito depois, à medida que o escritório foi crescendo. Havia um princípio básico de gestão, de papéis, de andamentos, de prazos, de agendamento, que eu aprendi na Secretaria, pois as faculdades de Direito não têm essas matérias”, pontua Brasil.


Sua experiência na pasta também rendeu o primeiro cliente do escritório, já no segundo dia de funcionamento. Francesco Cammilleri foi à Secretaria da Fazenda questionar uma autuação que seu restaurante, Bella Sicília, recebeu, com base em um entendimento de que a venda de frango assado era uma atividade industrial. O estabelecimento operava uma daquelas máquinas de assar frangos aos sábados, que atraía grandes filas de clientes à porta. Localizado, à época, numa esquina das ruas General Osório e Barão do Amazonas, em frente ao saudoso Cine Centenário, o Bella Sicília era também um ponto de encontro dos funcionários do posto fiscal da Fazenda em Ribeirão Preto. Foi um amigo de Brasil Salomão quem orientou Cammilleri a procurar o escritório. 


E foi graças a esse primeiro honorário que Caio Próspero jamais precisou complementar o salário de Brasil, como havia prometido, se este recebesse menos que no antigo emprego. O processo levou anos, mas foi bem-sucedido e iniciou a fama do escritório na área tributária. “Não tenho como esquecer o primeiro cliente, que me procurou no segundo dia de abertura do escritório. Ele é o número um no meu coração”, recorda.
Em seguida vieram a família Ignácio, dos irmãos Fábio e Mário, distribuidores de banana para a região; o revendedor de tijolos e areia Francisco Morandini; e as famílias de panificadores de Ribeirão e região Crispim, Dall Picollo e Pane. As panificadoras procuraram o escritório quando o Estado passou a lhes cobrar um imposto novo, o ICM, de uma forma que o advogado fundador já sabia ser arbitrária. “Eu arrisquei entrar com um mandado de segurança. Nunca tinha feito. O primeiro grupo que me procurou foi a família Crispim e fui bem-sucedido”, relembra. Padarias de várias cidades, como São José do Rio Preto, Votuporanga e Fernandópolis passaram, então, a procurar o escritório, que nessa época cresceu muito. “O pessoal brincava que eu era o “advogado das massas”. Não a populacional, a de pão”, diverte-se.

 
Um homem de família


Enquanto o escritório crescia, já nos primeiros anos, a família constituída por Brasil Salomão e sua esposa, Lúcia Helena, também crescia. Em 1971, tiveram a segunda filha, Simone Viana Salomão. Brasil Salomão conta que os dois filhos cresceram dentro do escritório, vendo o pai ter como premissa atender aos clientes em tempo integral, mas sem nunca perder a atenção à sua família.


Nascido em 18 de novembro de 1941, filho de José Pedro Salomão e Vera Cruz Pereira Salomão, Brasil teve nos pais uma forte referência para a Educação do filho, Marcelo Viana Salomão, que saía do colégio e ficava brincando e fazendo a lição de casa, enquanto o pai trabalhava. Aprendeu, da recepção do escritório, a ver inúmeros clientes chegarem preocupados e saírem sorrindo. Do período da infância, Marcelo carrega as lembranças do bom humor do pai ao acordar todas as manhãs e chamar os filhos para irem à escola. A alegria ao chegar em casa, sempre sorrindo e com um assobio que virou marca da família. “Recordo muito das idas ao parque de diversão e, fundamentalmente, nossos jogos de futebol, onde quer que fossem, inclusive na sala de jantar”, acrescenta Marcelo com bom humor. O filho de Brasil Salomão cresceu, formou-se e conquistou seu próprio espaço na advocacia. Atualmente, Marcelo é sócio presidente do escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, advogado tributarista, mestre em Direito Tributário e professor em cursos de pós-graduação.


A filha caçula, Simone Viana Salomão, ocupa o cargo de diretora da área de consultoria em gestão na TOTVS JuriTIs e, assim como o irmão, lapidou os valores pessoais e profissionais com base no exemplo dado pelo pai. Suas melhores recordações da infância são do companheirismo do pai. “Nos acordar para ir à escola, nos levar e buscar no Marista, ao cinema e em comemorações eram alegrias para ele. Nos deixava fazer sua barba, tomar café no seu colo e molhar o pão, nadar, segurava elástico para eu pular, comprava bexigas e flores. E quantas caminhadas juntos, onde ele ia cantando e eu reclamando. Em especial, recordo das viagens da Banda Marista, quando eu era baliza, e ele sempre estava lá, me acompanhando com o maior carinho do mundo para assistir ao desfile”, ressalta. 


Das recordações mais marcantes da vida, Brasil carrega a do ano em que conheceu sua esposa, Lúcia Helena. “Foi no ano de 1966. Era início da tarde e me aproximei e me apresentei. À noite nos encontramos para dançar e a pedi em namoro. Pouco mais de um ano depois, estávamos casados. Isso faz quase 57, anos”, conta. Com carinho muito especial, fala também dos seus quatro netos: Arthur, o primogênito, de 22 anos, já se destaca como analista em um Banco Canadense, atualmente vive em Toronto. João Pedro, de 19 anos, está cursando Publicidade e Propaganda em São Paulo, onde trabalha na Empresa Júnior da faculdade. Joaquim, de 14 anos, já conquistou seu lugar na FAAP, onde se prepara para os três últimos anos de formação. E, por último, a caçula, Maria Júlia, com 4 anos de idade, é o encanto da família. 


Entre as atividades favoritas no tempo livre, Brasil destaca “ler e ler”. Sua devoção à leitura abrange desde jornais impressos ao Direito Tributário. Esta paixão pela leitura demonstra sua sede incessante de conhecimento e sua busca por se manter atualizado em seu campo de atuação. Seu livro favorito “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, confessa já ter lido inúmeras vezes. Além disso, admira Machado de Assis, especialmente “Conto”, uma das obras-primas do renomado autor.

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