Calor humano
Para reduzir a distância entre pacientes internados por Covid-19 e seus familiares, hospitais de Ribeirão Preto investem na humanização durante isolamento social necessário
Durante o período de isolamento social em internações por Covid-19, a distância entre pacientes e familiares pode durar semanas. A falta de afeto impacta diretamente quem precisa se recuperar da doença e, por isso, hospitais de Ribeirão Preto decidiram investir na humanização para minimizar os efeitos das ausências e reduzir as distâncias.
A Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, por exemplo, coloca em prática o projeto Conexões do Cuidar, realizado pela ONG ImageMagica, que atua há 25 anos com projetos sociais e há mais de dez anos com projetos de humanização nos hospitais. A missão do grupo é auxiliar os profissionais de saúde com uma ação que parece simples, mas que demanda tempo e organização para ser realizada: a visita virtual.
Nesse trabalho, a ONG disponibiliza uma equipe para ajudar a instituição nas videochamadas, com o intuito de diminuir o distanciamento entre os pacientes internados e seus familiares e amigos, além de dar apoio aos profissionais de saúde do hospital, com psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Para a realização das visitas virtuais, a equipe oferece celulares — esterilizados e que serão utilizados apenas para esse fim —, agenda os horários para cada paciente e faz as ligações.
Segundo Sandra Araújo, presidente da ONG ImageMagica, receber relatos sobre os resultados das chamadas é gratificante. “Muitas vezes, os pacientes se sentem abandonados no hospital, já que não podem ver ninguém. Essa ação resgata o afeto e o carinho que os familiares expressam nas chamadas, dando um novo sentido para a vida e para a recuperação de quem está internado”, pontua.
Ana Maria Fortaleza Teixeira Ficher, coordenadora do núcleo multiprofissional da Unidade de Emergência, afirma que, com o Conexões do Cuidar, o paciente tem a possibilidade de resgatar o protagonismo da própria vida, entrando em contato com o mundo externo. “As palavras de conforto e o apoio do familiar o estimulam para o foco no tratamento, trazem informações sobre outras pessoas de seu meio, trazem à tona situações vivenciadas por eles anteriormente e dissolvem preocupações externas ao hospital. Tudo isso os fortalece”, afirma.
A Unidade de Emergência do HC de Ribeirão Preto foi uma das primeiras instituições a receber o projeto no começo da pandemia e agora o recebe novamente, em razão do aumento dos casos no município e na região, já que o hospital é referência no atendimento a pacientes internados por Covid-19. Desde o início do projeto, mais de 30 instituições no Estado de São Paulo já receberam o Conexões do Cuidar.
A importância desse movimento é tão grande que, até o momento, 2.781 pacientes e 7.523 familiares foram envolvidos com o projeto, somando, juntos, mais de 10 mil pessoas impactadas pela ação. No HC de Ribeirão Preto, considerando a atividade anterior e a atual, foram atendidos aproximadamente 200 pacientes, atingindo mais de 500 familiares.
EMPATIA
A Santa Casa de Ribeirão Preto também desenvolve diferentes ações de humanização aos pacientes. O grupo Expresso Riso promove, semanalmente, interação, também por meio de videochamada, com o apoio do boneco Tablito, aos pacientes internados em tratamento no setor da Covid -19. A atividade é coordenada pela equipe de Psicologia, enquanto os palhaços interagem, de suas residências, ao vivo com os pacientes.
Além disso, a equipe do setor desenvolveu máscaras para a proteção dos olhos, parceria com a hotelaria, objetivando a diminuição do incômodo relatado por pacientes sobre a claridade causada pela luz dos aparelhos.
Segundo a coordenadora do serviço de psicologia, Maria Augusta Rosa, os efeitos positivos da humanização estão presentes nos cuidados diferenciados. “A humanização no setor Covid é desenvolvida por toda a equipe, que inclui médicos, fisioterapeutas, equipe de enfermagem, higiene e limpeza, entre outros. É uma ação conjunta de quem cuida”, destaca.
NA REDE PRIVADA
O Grupo Humanizar, do Hospital São Francisco também realiza projetos seguindo os protocolos de segurança em relação à Covid-19. Uma das ações é a atenção aos desejos dos pacientes: sempre que um deles apresenta um desejo e há a possibilidade de realização, a equipe do Hospital São Francisco busca atender.
Em datas comemorativas, são realizados atos especiais. Em março deste ano, por exemplo, em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, todas as pacientes e acompanhantes ganharam uma planta suculenta como forma de homenagem — além da videochamada.
O Hospital também apresenta o Projeto ReconheSer, voltado ao profissional de saúde. O trabalho consiste em sempre que um colaborador é elogiado pelo paciente ou familiar, anexar o elogio em um painel como uma forma de aclamar o trabalho, além da entrega de um cartão simbólico como acolhimento às suas atitudes.
