
Mãs pesquisadoras: Amanda Mizukami Martins
Mãe das gêmeas Sara e Stela, de 2 anos e 8 meses. Pesquisadora e gerente de produção no Nutera Núcleo de Biotecnologia
Quem vê Amanda Mizukami Martins, 38, visualmente impecável e toda ativa na gerência de produção do Nutera Centro de Biotecnologia, em Ribeirão Preto, não imagina quantas noites mal dormidas produzem as discretas bolsas sob os belos olhos. Na verdade, ela nem se lembra quando teve a última noite de sono contínuo desde que deu à luz as gêmeas Sara e Stela, há 2 anos e 8 meses. “Ainda tenho privação de sono porque as meninas não dormem a noite inteira”, afirma.
Nascida em Ribeirão Pires, Amanda se formou em Química, em 2008, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi onde conheceu o marido, que cursava Engenharia Civil. Por ele, que tem família em Ribeirão Preto, mudou-se para a cidade e ficou. Casaram-se em 2013, mas planejando ter filhos bem depois. “Eu quis, primeiro, terminar doutorado e o pós-doutorado, ter uma experiência de estudo no exterior”, conta Amanda, que concluiu esse plano com sucesso: tem mestrado em Biotecnologia Pela UFSCar (2011), doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Oncologia Clínica, Células-Tronco e Terapia Celular por USP e University of Washington. Trabalhando com pesquisas no Hemocentro de Ribeirão Preto, ainda acumulou experiência na área de tecnologia de cultivo de células animais, o que a capacitou para o atual cargo.
“Depois de tudo isso e de seis anos de casamento, decidimos engravidar. Foi totalmente planejado”, lembra Amanda. Só não estava nos planos virem duas crianças de uma vez só, embora soubesse dessa probabilidade. “Minha avó era gêmea. Hoje brincam que o gene costuma pular uma geração. Até me sinto privilegiada por isso”, diz.
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Mães pesquisadoras "pagam mais caro" por carreira
Mas o privilégio veio com altos custos, pagos com muito cansaço. A mãe-pesquisadora descobriu na prática o quanto é difícil cuidar de dois bebês ao mesmo tempo, mesmo contando com a parceria do marido, profissional autônomo que conseguiu ficar bastante tempo com ela durante a licença-maternidade e até hoje divide todas as tarefas relacionadas a Sara e Stela. “Enquanto eu segurava uma, ele segurava a outra. Não havia como um de nós descansar enquanto o outro cuidava. Como não tínhamos babá, às vezes passávamos dias sem almoçar. Não conseguia chegar em casa sozinha com as duas nas cadeirinhas do carro, porque se tirava uma, não tinha onde colocar a outra. Meu marido tinha que chegar junto comigo. Temos que fazer todas as tarefas relacionadas às meninas sempre juntos, não tem escolha”, conta Amanda.
A fase mais difícil foi quando as gêmeas tiveram que começar a frequentar a escola, passados os 5 meses e meio da licença. Com a rotina mais pesada – incluía tirar leite de manhã para as meninas tomarem à tarde e ir amamentá-las na hora do almoço, entre outras novas obrigações de mãe –, Amanda demorou um pouco para retomar o ritmo de trabalho. “Foi um pouco complicado porque as pessoas do trabalho, na maioria das vezes, não entendem que você pode estar mais fora do ar, um pouco mais preocupada, e cobram que esteja totalmente focada. A cobrança é pela produtividade que a gente tinha antes de ter filhos e isso nem sempre acontece”, comenta.
E na escola as gêmeas também começaram a adoecer – às vezes ambas ao mesmo tempo –, o que intensificava em Amanda o sentimento de culpa típico de toda mãe trabalhadora. “Durante a licença-maternidade a gente fica focada e não é mais a gente. Perdi a identidade um pouco. Ao mesmo tempo eu tinha certeza de que queria voltar a trabalhar. Por mim, para construir minha carreira. Então fui superando e me reencontrei. Dou amor e carinho no tempo em que estou com elas, mas continuo fazendo o que gosto”, afirma.
Hoje, Sara e Stela estão um pouco mais independentes, embora ainda demandem muita atenção. Estão na fase encantadora de perguntar os porquês de tudo. Mas o cansaço físico e mental de Amanda continua, pela privação de sono e tudo o mais. Mas Amanda jura que ser recebida pelos sorrisos das meninas, ouvi-las falarem “mamãe” e ser abraçada por elas recompensa absolutamente tudo! “É desafiador ser mãe e pesquisadora! É uma luta constante e uma culpa que vira e mexe volta, fazendo a gente questionar algumas coisas. Mas sou realizada como mãe das meninas e no trabalho e isso é o que importa. No final das contas, sou uma mãe melhor porque amo o que faço. Mãe precisa ser feliz!”, conclui.
Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?
“O mais difícil de ser mãe-pesquisadora é tentar conciliar a atençāo/rotina das crianças (buscar na escola, levar para as atividades extracurriculares) com a necessidade de trabalho à noite e nos finais de semana pela elevada demanda de atividades.”
Confira a terceira matéria desta série neste link.
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Foto: Hugo Saponi