Alimentação: conheça o vegetarianismo

Alimentação: conheça o vegetarianismo

Dieta vegetariana é opção para quem preza pelo bem estar dos animais; acompanhamento nutricional é indispensável

Segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho último, o Brasil abateu no primeiro trimestre de 2015 7,7 milhões de bovinos; 9,1 milhões de suínos e 1,3 bilhão de frangos. Os dados são oriundos de estabelecimentos sob algum tipo de inspeção federal, estadual ou municipal.

Seja em prol destes animais abatidos, do meio ambiente afetado pela indústria ou simplesmente pela busca de uma alimentação considerada mais leve, 15,2 milhões de brasileiros se declaram vegetarianos.

A estimativa foi publicada em uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em outubro de 2012. Naquela época, o número correspondia a 8% da população do país.

Se dependesse dos vegetarianos, em 2014 o Brasil não teria abatido 4,1 bilhões de frango; 27,5 milhões de suínos e 25,3 milhões de bovinos.

A consultora de Marketing Paola Miorim é adepta de uma dieta sem carne. Ela conta que desde 2002 passou a reduzir a quantidade de carne ingerida para recentemente aderir à dieta vegetariana.

“Aderí ao vegetarianismo pois me sinto bem, falando em questão de energia mesmo. Além de não concordar com o processo de abate”, conta.

Adepta também de um consumo consciente, Paola acredita que o brasileiro, no geral, é um consumidor exagerado. “Chegará um momento em que as pessoas terão que se conscientizar para o impacto ambiental que todo este consumo gera. Não só na parte da carne”, completa a consultora.

Nutrição

Por manter uma rotina de treinos, quando iniciou em uma dieta livre de carne, Paola Miorim notou que passou a perder massa muscular magra. Então, ela decidiu voltar a consumir carne até procurar um acompanhamento nutricional.

Quando se trata da dieta vegetariana, há uma preocupação em relação à deficiência de proteína, ferro, cálcio e, principalmente, a vitamina B12. Visto que esta vitamina é especialmente de origem animal, com exceção do levedo de cerveja e algas marinhas, onde pode ser encontrada.

O nutrólogo Ricardo Gomes (CREMESP 88703) afirma que é possível ter uma vida saudável sem utilizar proteínas de origem animal, porém, ele ressalta, é mais difícil e exige muito cuidado de quem se lança a esta proposta. "Os vegetarianos podem obter todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo de alimentos de origem vegetal. Porém, especialmente para vegetarianos ‘estritos’, isso exige muito esforço e cuidados e, muitas vezes, os pacientes não conseguem uma ingestão adequada de nutrientes como o ferro e a vitamina B12”, ressalta.

Para o especialista, em dietas restritas de alimentos de origem animal, é indicado uma suplementação de ferro, vitamina B12 e, em alguns casos, cálcio. Além do acompanhamento de um profissional da nutrição para ter um cardápio equilibrado.

Pelo bem dos animais

Alana Paiva Pieronti e o marido Thiago Dias decidiram aderir à dieta vegetariana há dois anos, após assistirem a um vídeo em que mostra o processo de fabricação de salsichas. “Todos sabem da maneira como acontece a morte dos animais em abatedouros. Sabemos que não podemos mudar a realidade brasileira, mas, ao menos temos a consciência tranquila por não fazermos parte desta ‘indústria da matança’”, diz Alana.

Formada em marketing, no final de 2014 ela criou a marca LariVeg e produz artesanalmente esfihas, quibes, panquecas e canelones. Tudo sem ingredientes de origem animal. “A ideia surgiu do desejo de transformar em trabalho tudo o que gostamos: os nossos ideais e a cozinha, pois sempre gostei de cozinhar. As pessoas sempre pensam que o cardápio vegetariano é sem sabor. Nosso objetivo é mostrar que podemos nos alimentar bem, com muito sabor, sem a necessidade de sacrifício animal”, explica.

Curiosidades

A definição de vegetarianismo, segundo consta no site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), entidade criada em 2003, é a opção alimentar que exclui todos os tipos de carnes. Sendo que a definição pode ser dividida da seguinte forma:

Ovo-lacto-vegetarianismo: Exclui qualquer tipo de carne, mas inclui ovos e laticínios.

Lacto-vegetarianismo: Exclui qualquer tipo de carne e ovos, mas inclui laticínios.

Ovo-vegetarianismo: Exclui qualquer tipo de carne e laticínios, mas inclui ovos.

Vegetarianismo estrito: Exclui qualquer alimento de origem animal ou que contenha ingredientes dessa origem.

Crudivorismo: Inclui apenas vegetais crus: frutas, legumes, verduras, cereais, raízes e etc.

Frugivorismo: Inclui apenas vegetais crus, mas estes são basicamente frutas e alguns outros vegetais que se encaixam dentro do conceito botânico de fruto, como tomate e pepino. Além disso, pode incluir algumas sementes, como castanhas e nozes, e algumas folhas, como alface e rúcula.

A filosofia do veganismo consiste no não consumo de qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento animal. Os veganos adotam o vegetarianismo estrito no âmbito da alimentação. Por isso, costuma-se também chamar de “vegano” aquele que não consome nenhum alimento de origem animal (carnes, ovos, latícinios, etc.).

Veganismo

A advogada Amanda Formisano Paccagnella decidiu se tornar vegetariana aos 13 anos quando, assim como Alana e Thiago, assistiu a um vídeo sobre o abate de animais.

“Sempre fui muito sensível à questão de proteção dos animais, mas por conta de forças culturais não conseguia fazer a conexão entre o animal vivo, senciente, possuidor de personalidade, e a carne que estava no meu prato; o vídeo que recebi finalmente me fez enxergar essa conexão”, explica.

Onze anos após a decisão de abrir mão do consumo de carne a advogada revela que já não usa mais couro, lã, seda, cosméticos de marcas que fazem testes em animais. “Também reduzi consideravelmente meu consumo de ovos e laticínios. Costumo sempre dizer que minha consciência limpa vale muito mais que alguns segundos de prazer do paladar”, conclui Amanda.

Foto: Julio Sian e Ibraim Leão

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